O depoimento da estudante Nayara Silva, de 15 anos, revela que Lindemberg Alves, de 22, não tinha um plano definido ao entrar no apartamento da ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, e fazer refém um grupo de jovens. "A todo o momento, ele dizia que não sabia o que ia fazer. Sua intenção era encontrar Eloá sozinha", disse Nayara à polícia de Santo André na quarta-feira (15), antes de retornar ao cativeiro. As duas foram baleadas sexta-feira (17) por Lindemberg, no desfecho de um seqüestro que durou mais de 100 horas.
No depoimento, ao qual o G1 teve acesso neste domingo (19), a jovem contou que na primeira noite do seqüestro, após libertar dois adolescentes que estavam no local com Eloá e Nayara, Lindemberg disse que os policiais não estavam acreditando nele e que só "botariam uma fé" quando uma das reféns fosse morta. Em seguida, disparou pela janela contra um policial.
"Após o disparo ele começou a sorrir, passando a dizer que 'ele era o cara'", afirmou a estudante à polícia. Lindemberg, então, pediu que os policiais se dirigissem ao pátio. De acordo com Nayara, o seqüestrador teria achado essa conversa divertida e afirmado que os policiais haviam demonstrado medo dele. "Ao observar o isolamento do prédio, ele disse que era o príncipe do gueto, o cara que mandava no local", continuou a garota.
Nayara está internada no Centro Hospitalar de Santo André. Eloá teve morte cerebral e sua família autorizou nesta manhã a doação dos órgãos.
Mensagem no celular
Na noite de segunda-feira, ainda de acordo com o depoimento, o seqüestrador se acalmou. Seu comportamento voltou a mudar, no entanto, quando Lindemberg se apoderou do celular da ex-namorada e encontrou uma mensagem assinada por um homem chamado Felipe. O seqüestrador ligou para Felipe, se passando pelo irmão de Eloá, e disse que já sabia do "affair" entre os dois. Nayara contou que Lindemberg deu um bofetão em Eloá, quando a jovem começou a gritar.
Depois, o seqüestrador amarrou as duas jovens com fita adesiva e camisetas, para que ele pudesse dormir. Lindemberg forçou Eloá a beijá-lo, mas depois "não forçou mais atos de intimidade com Eloá", segundo o depoimento.
Ao libertar Nayara, na terça à noite, o seqüestrador a levou até a porta e disse para correr. A jovem afirmou que ele ameaçou atirar em suas costas, caso ela saísse devagar.
Durante as 30 horas que permaneceu no local pela primeira vez, até terça à noite, a estudante disse que Lindemberg não a agrediu e efetuou "quatro ou cinco" disparos: um contra o policial, um contra pessoas que se aglomeravam em volta ao prédio, um contra o computador de Eloá e outros dois no banheiro. Segundo ela, ele tinha levado ao apartamento um revólver e um saquinho com munição. Uma segunda arma, definida como uma espingarda, foi encontrada pelo seqüestrador atrás do armário do quarto do casal, envolta em uma camiseta.
- Família autoriza doação de órgãos de Eloá
- Nayara passa bem, mas corre risco de infecção
- Vice-presidente diz que ação da polícia foi adequada no caso Eloá
- Receptores de órgãos de Eloá serão conhecidos ainda hoje
- Médicos farão exames antes de doação de órgãos de Eloá
- Jornalistas questionam cobertura do seqüestro
- Morte de Eloá agrava processo contra Lindemberg
- Antes de atirar, seqüestrador pede para a polícia invadir apartamento