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O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), reagiu fortemente à decisão do PSDB de apoiar a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa pelo comando da Câmara e falou explicitamente dos acordos que teriam sido feitos entre PT e PSDB envolvendo as assembléias de São Paulo e Bahia, entre outros estados. Aldo mandou um recado para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que Lula sabe da importância de manter uma boa relação entre os poderes e que uma interferência do Executivo na Câmara traria conseqüências indesejáveis para o equilíbrio institucional.

- Não creio que o presidente Lula vai interferir na eleição, até porque Lula tem compreensão das relações entre poderes. Isso traria conseqüências indesejáveis na relação entre os dois poderes - disse.

Aldo condenou o acordo entre PT e PSDB e fez uma referência indireta à pressão exercida pelo partido do presidente Lula para tirá-lo da coordenação política. Ele disse que a postura do PT "faz parte de sua experiência no governo passado".

O atual presidente da Câmara também fez um "duro questionamento" a deputados, governadores e líderes do PSDB. Em converas por telefone, cobrou "coerência do partido que se pautou desde o início do governo Lula pela oposição ao presidente e ao PT."

- Questionei duramente a posição adotada que não guarda coerência com a trajetória do partido nos últimos quatro anos, a não ser que toda a oposição que o PSDB fez ao PT tenha sido completamente arquivada em função de acordos políticos regionais e, a partir destes acordos, o PSDB resolve dar ainda mais poder aquele partido que ele julgava ser o seu adversário.

Decisão fortalece o poder do PT

Segundo Aldo, a decisão do PSDB fortalece ainda mais o poder do PT, um partido que já tem a Presidência da República e a maioria dos ministérios. Para ele, não é aconselhável para a democracia a concentração de tanto poder nas mãos de um único partido. O apoio a Chinaglia também provocou fortes reações de deputados do PSB, outro sócio minoritário da frente de esquerda que apóia o governo Lula.

- O PT na Câmara cria um desequilíbrio das forças. O problema não é a legitimidade de aumentar o poder de fogo do PT. O que questiono é que o PT quer ter mais poder do que já tem. Eu creio que não é aconselhável a concentração de poder nas mãos de um só partido. Não podemos dar todo poder para um partido, que já tem tanto poder, para o equilíbrio da democracia. É isso que eu questiono - afirmou.

Coerência da posição adotada

Aldo Rebelo disse que entrou em contato com vários parlamentares do PSDB e questionou a coerência da posição adotada. Segundo ele, a decisão da liderança do PSDB não é compatível com a oposição que o partido fez ao governo Lula nos primeiros quatro anos.

- A não ser que a oposição que o PSDB fez nesses quatro anos tenha sido arquivada por acordos políticos regionais - disse Aldo.

O atual presidente da Câmara disse ainda que o apoio dos tucanos ao candidato do PT prejudica a reforma política, que deve entrar na pauta do Congresso nos próximos meses. Segundo Aldo Rebelo, a negociação entre os dois partidos mostra uma interferência de interesses regionais em assuntos nacionais.

- Como fazer uma reforma política baseada em partidos interessados em acordos políticos regionais? Como pode fazer acordo por deputados que sequer tomaram posse? - disse Aldo, referindo-se aos deputados eleitos José Aníbal, Paulo Renato e Sílvio Torres.

Forte reação

A decisão da bancada também provocou forte reação da cúpula tucana. Na quinta-feira, um grupo de deputados disse que pretende rever a decisão . O presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou uma carta em protesto contra o que chamou de "apoio precipitado.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também condenou o apoio e, em nota, disse que "Chinaglia poderia ter tranqüilamente o apoio do PSDB, mas hoje, infelizmente, sua candidatura representa precisamente tudo aquilo contra o que votaram os nossos 40 milhões de eleitores: a reintrodução de Ricardo Berzoini no comando do PT, a futura anistia de José Dirceu, a absolvição dos 'aloprados', a negação do mensalão, a absolvição dos sanguessugas"

Freire classifica apoio do PSDB de inexplicável

Já o PPS classificou como "inexplicável" o apoio do PSDB à candidatura do líder do governo. Para o presidente do partido, Roberto Freire (PE), os tucanos "pagarão um preço alto perante a opinião pública" por terem aderido à campanha que representaria o escândalo do mensalão, já que Chinaglia faz parte do mesmo grupo de José Dirceu, apontado pela Procuradoria-geral da República como o comandante do esquema. "Esse apoio é completamente inexplicável. Até porque a candidatura de Chinaglia representa a absolvição de todos os mensaleiros", disse Freire, em nota.

Freire disse que o apoio tucano foi uma manobra dos governadores de São Paulo, José Serra (PSDB), Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e Bahia, Jaques Wagner (PT), para acordar, também, as presidências das Assembléias Legislativas nesses estados em troca do suporte a Chinaglia. "Essa estratégia é totalmente equivocada. Eles têm que enfrentar a realidade política local, sem interferir nas decisões nacionais", diz o texto. Segundo ele, a decisão do PSDB "fere de morte" a candidatura do presidente da Câmara, que seria a opção "menos ruim" para a oposição.

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