Editorial
Democracia golpeada
Salvo por alguns poucos e excepcionais momentos, a história política brasileira não nos autoriza a afirmar que tenha sido surpreendente o resultado da votação de ontem no Senado Federal, que absolveu o senador Renan Calheiros da acusação de quebra do decoro parlamentar. Simplesmente manteve-se a regra do corporativismo, da acomodação das conveniências pessoais e da contumaz leniência com que, lamentavelmente, são encaradas as questões éticas e morais que envolvem o exercício da função pública no país. Leia Editorial completo
Paranaenses garantem que votaram contra Renan
Brasília Os três senadores do Paraná não acreditam que Renan Calheiros (PMDB-AL) ainda possa ser cassado, apesar dos outros três processos contra o alagoano que tramitam no Conselho de Ética (leia mais na página 16). Todos afirmam ter votado ontem a favor da cassação. Mas nenhum discursou em plenário defendendo essa posição, embora tivessem esse direito. Leia matéria completa
Em sua primeira entrevista após ser absolvido pelo plenário do Senado , o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou a - descartar a hipótese de se afastar do cargo. A expectativa do Palácio do Planalto é de que uma possível licença de Renan - que responde a outras duas representações no Conselho de Ética -consiga reduzir a tensão na Casa e permita a retomada das votações de interesse do Executivo, entre elas a prorrogação da CPMF. Mas, segundo Renan, ele é o único que tem condições de unir o Senado em votações importantes.
Se eu não tiver condições de assumir o Senado num quadro de divisão, quem vai ter? - questionou Renan, em entrevista ao programa "Atualidade", da Rádio Gaúcha, acrescentando que deve procurar os partidos para "consertar esta situação".
Para Renan, desde o início, "ficou claro que o que importava era substituir a presidência do Senado".
- Recebi várias propostas para que eu me afastasse do cargo. Mas Deus não me deu o dom da desistência - disse.
Durante seu calvário, o senador disse que perdeu a paz de espírito e que agora precisa descansar.
- Hoje, vou me recolher com minha família e descansar um pouco. Perdemos a paz de espírito, sofremos o que todos sofrem nesse calvário. O que você diz não se escreve, só se escreve o que é dito contra você - afirmou.
O presidente do Senado disse que conversou "o tempo todo" com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o processo e que ele "sabia que não havia absolutamente nada" contra ele.
Lula: Importante agora é que o Senado volte a trabalhar
Ao comentar a absolvição de Renan, Lula afirmou nesta quinta-feira, na Dinamarca, que "precisamos nos habituar a acatar o resultado das instituições a que nos submetemos". O presidente disse ainda esperar o fim da crise que paralisa a Casa.
- Acho que nós precisamos acatar o resultado das instituições que nós nos submetemos. Eu não posso admitir que eu só posso acatar o resultado quando favorece aquilo que eu pensava - disse Lula.
Segundo ele, há muitos projetos de interesse do povo brasileiro que precisam agora ser aprovados no Congresso.
- Para um presidente da República, o que interessa é que o Senado volte a funcionar na normalidade, porque nós temos coisas muito importantes a serem votadas. Nós temos a CPMF, a reforma tributária, coisas de interesse do povo brasileiro - afirmou.
Na véspera, Renan divulgou uma nota oficial, em que disse que sua absolvição foi "uma vitória da democracia" , e que não guardará mágoa dos senadores que vinham pedindo sua cassação nos últimos meses.
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