Derrota do governo em votação teve 158 apoios da base
A derrota do governo na votação sobre uma comissão externa para investigar a Petrobras mostrou o tamanho da insatisfação da base aliada com o Palácio do Planalto. Dos 267 votos registrados em plenário a favor da comissão pedida pela oposição, 158 foram dados por deputados da base aliada no Congresso. O resultado é a primeira vitória do chamado "blocão", grupo que reúne parlamentares descontentes.
Foi do PMDB de Eduardo Cunha (RJ) que veio o maior número de votos contra o governo. Dos 75 deputados, 61 votaram e apenas três ficaram com a posição do Planalto - Marinha Raupp (RO), esposa do presidente interino da legenda, Valdir Raupp, Francisco Escórcio (MA), da bancada do senador José Sarney, e Silas Brasileiro (MG). Todos os outros respaldaram a posição do líder que o governo tenta isolar.
Mesmo nos três partidos que encaminharam a votação abandonando o "blocão", PP, PDT e PROS, houve votos contra o governo. Dos 77 deputados destes partidos, 52 compareceram e 18 registraram voto a favor da comissão externa para investigar a estatal.
Assediado pelo ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) na noite de segunda-feira, 10, o PR manteve-se firme no "blocão", dando 24 votos contra o governo. O partido tem bancada de 31 deputados e só Anthony Garotinho (RJ), dos presentes, ficou com a posição do Planalto. Também da base, PTB, PV e PSC deram todos os seus votos para a oposição.
Mesmo o PSD, partido que não faz parte do grupo dos descontentes aproveitou para mandar um recado ao Planalto. A sigla, que já até anunciou oficialmente apoio à reeleição de Dilma, teve 21 votos contra o governo, metade da bancada de 42 deputados. No PT apenas Francisco Praciano (AM) ficou contra o governo. No PC do B, todos os 11 votantes acompanharam a orientação do Planalto para tentar evitar a comissão.
O plenário da Câmara Federal aprovou, por 267 votos a 28 e 15 abstenções, o requerimento da oposição sobre a criação de uma comissão externa de deputados para ir à Holanda acompanhar a investigação de denúncias de suborno relacionadas à Petrobras. A aprovação ocorreu com o apoio de quatro partidos da base aliada: PMDB, PR, PTB e PSC em meio a uma rebelião de sete partidos que fazem parte da sustentação política no Congresso.
Segundo a oposição, há denúncias de que a empresa SBM Offshore, com sede naquele país, teria pago propina a funcionários de petroleiras de diversos países, entre as quais a Petrobras, para conseguir contratos de locação de plataformas petrolíferas entre os anos de 2005 e 2012. O projeto analisado cria uma comissão externa formada por parlamentares para acompanhar, na Holanda, as investigações de um suposto esquema de propina a funcionários e intermediários da Petrobras, em negócios envolvendo fretamento de plataformas.
O tema sofria forte resistência do governo, que tentou demover os deputados insatisfeitos. Também tentando blindar o Planalto, petistas argumentaram que o Ministério Público holandês ainda não decidiu se há elementos para abrir uma investigação formal. "Há um grave erro político porque nós poderemos prejudicar a Petrobras e colocar a Petrobras, no plano internacional, sobre uma suspeição que ainda não existe", declarou o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (SP).
Falou mais alto, no entanto, o descontentamento da base aliada com o governo. Na lista de reclamações, constam acusações de que o Planalto beneficia deputados do PT, problemas com a liberação de emendas - vitais para os congressistas em ano eleitoral - e a indefinição na reforma ministerial conduzida pela presidente Dilma Rousseff. "É fundamental a aplicação do Congresso Nacional na fiscalização dessas coisas que aparecem e que dizem respeito a denúncias graves, como esta contra a Petrobras, que é um patrimônio do povo brasileiro", disse o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).
Com a criação da comissão, os deputados devem ir à Holanda para acompanhar a apuração das denúncias de irregularidades relacionadas à Petrobras. Imbassahy informou que a oposição já definiu os nomes de dois deputados para compor a comissão: Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Fernando Francischini (SDD-PR).
Na tarde desta terça, a bancada do PMDB acirrou ainda mais a crise ao anunciar que atuará, a partir de agora, de forma independente do Planalto. O posicionamento peemedebista é uma resposta à tentativa do Executivo de isolar o líder da sigla na Casa, deputado Eduardo Cunha (RJ), pivô da crise política.
Os integrantes do "blocão", grupo informal que conta com representantes do PMDB, PP, PDT, PSC, PR, PROS e SDD (este último da oposição), decidiu abraçar o requerimento inicialmente apresentado pela oposição para retaliar o Planalto em um tema sensível ao governo. A criação da comissão externa chegou a ser discutida em Plenário na semana anterior ao feriado do Carnaval, mas sua votação não foi concluída naquela data.
Explicações
Os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, deverão comparecer nesta quarta-feira (12) à Câmara dos Deputados para falar sobre a investigação de denúncias de que funcionários da Petrobras receberam propina de uma empresa holandesa.
De acordo com o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), no início da tarde, Cardozo e Hage deverão ir ao gabinete da presidência para conversar com os líderes partidários. "Amanhã (quarta) virão aqui para uma conversa com o presidente [Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)] e com os líderes da base e da oposição que quiserem [comparecer], os ministros da Justiça e da CGU, exatamente para relatar quais são as iniciativas que o governo está tomando, inclusive no plano internacional", explicou Chinaglia.
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