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Roberto Requião ficou três anos e um mês no governo do estado no início dos anos 90. Voltou ao poder em janeiro de 2003. Se elegeu de novo em 2006. Iniciou o terceiro governo em 2007 e já passou da metade de seu atual mandato. Tudo isso, fazendo a conta, mostra que o governador completa 10 anos de mando no Paraná.

Se tudo correr como se imagina, deixará o governo em abril do ano que vem para concorrer ao Senado. Ou seja: em breve, Requião terá governado o Paraná por mais tempo do que qualquer outro homem, com a única exceção do interventor Manoel Ribas. Uma década de poder. E qual é o balanço que se vê até aqui?

Requião trouxe ao Paraná um jeito diferente de governar. Seu espírito de confrontação definitivamente não fazia parte do cardápio local antes de sua chegada ao poder. Alguém imagina Alvaro Dias proibindo transgênicos? Jaime Lerner se negando a dar incentivos a grandes multinacionais?

Acredite-se ou não na honestidade do governador ao citar a Carta de Puebla como documento base de seu governo, o fato é que nunca antes alguém havia, de dentro do Palácio Iguaçu, ousado enfrentar grandes corporações – se acreditasse que elas estivessem erradas – ou se especializasse em criticar outros poderes.

Isso é o que fica de bom: um estilo, uma voz, uma contestação. Mas um governante não é só discurso. A retórica é boa no palanque, faz bem para os ouvidos e, muitas vezes, mobiliza cidadãos. Mas não pode ser tudo em um governo. O mais importante é a herança, os fatos, as obras. E aqui o balanço é bem menos favorável a Requião e sua turma.

Ao assumir o governo pela segunda vez, depois de oito anos do lernismo, Requião instituiu como norma creditar todos os problemas do estado à "herança maldita" recebida do antecessor. Seis anos se passaram. Imagina-se que não seja mais possível usar a muleta do governo anterior

Mas o que se vê são problemas por todos os lados. A Polícia Civil, não bastasse a dificuldade em resolver os casos, por falta de aparelhamento e perícia de agentes mal pagos, se dedica ainda a cuidar de cadeias fétidas e superlotadas, que mais uma vez agora o governo – depois de quanto tempo? – promete extinguir. Ano passado, em Paranaguá, os presos chegaram a matar um colega de cela para dizer que ali não cabia mais ninguém. Que era preciso esvaziar as celas para que eles pudessem respirar.

A PM, de que a população não cansa de reclamar, pela brutalidade e falta de preparo, foi acusada ainda ontem de bater em adolescentes inocentes no Parolin – coisa, infelizmente, corriqueira.

Em outra área básica do governo, os alunos voltaram das férias, segundo o governo, para encontrar a "melhor educação do país". Novamente a retórica, mas vazia. Reportagem da Gazeta do Povo mostrou que, duas semanas após o início das aulas, estudantes continuam sem professores. É que o governo não faz concurso para contratação. E os temporários se assustam com a precariedade das escolas e da segurança na periferia e desistem do emprego. Escolas e segurança, duas atribuições do Estado.

Os exemplos da falta de governo se sucedem, em diversas áreas. O grupo no entorno do governador, crente das palavras de seu líder, acredita firmemente que, ao fim do atual mandato, Requião terá deixado um legado de ouro ao Paraná. A fé é cega, muitas vezes. E em várias áreas importantes do governo, como segurança e educação, há de se perguntar se o próximo mandatário não terá uma bela desculpa para ocultar seus próprios erros: a de que recebeu uma herança maldita de seu antecessor.

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