"Qual o panorama do Senado hoje? Acusações tenebrosas. Ladrão para cá, corrupto para lá. O Senado perdeu a compostura e, de cambulhada, perdeu o rumo." O trecho não foi escrito ontem, nem na semana passada. É de 2001, e é de autoria de Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja. E mostra que de lá para cá pouca coisa mudou. Vamos ver outros trechos do artigo de Toledo, escrito durante a presidência de Jader Barbalho como José Sarney, um coronel típico de um estado pobre do país. E, como Sarney, filiado ao PMDB.
"(O assunto) era, ainda e sempre, a briga dos senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho", conta o texto de 2001. "Antonio Carlos Magalhães fez um discurso todo dedicado a invectivar o adversário. Em resposta o líder do PMDB, Renan Calheiros, desfiou denúncias contra Antonio Carlos Magalhães."
Que curioso! Quem defendia o presidente do Senado, na época, era Renan Calheiros. Que, para atingir o seu objetivo "desfiava denúncias" em plenário. Hoje, Calheiros é novamente o defensor número um do presidente. E de novo usa o ataque como sua principal defesa (na época, atacava o baiano ACM. Hoje, é o cearense Tasso Jereissati).
Mas vamos em frente. Sobre ACM, que fazia as denúncias contra Jader Barbalho, e sobre o próprio Jader (ou seria Sarney?) Toledo escreve mais. "Se é estranho que o senador Antonio Carlos se tenha erigido em paladino da moralidade, igualmente estranho, ou mais, é que a maioria do Senado tenha elegido Jader Barbalho, com todas as denúncias que lhe pesam sobre as costas, para dirigir a instituição. A maioria do Senado! Onde estava, e onde está, para citar um nome, o impoluto senador Pedro Simon dos memoráveis discursos em defesa da honestidade?"
Até os nomes se repetem! Renan faz o mesmo papel de oito anos atrás o de defensor do presidente peemedebista (de lá para cá, ele mesmo teve a sua chance de, como coronel do PMDB, ser presidente do Senado. Caiu devido a escândalos...) Simon é ainda tido como o "impoluto senador" que, ligado ao PMDB, não consegue resolver os problemas.
O Senado parece continuar sempre o mesmo agora, como oito anos atrás. Parece que seria possível prever o futuro da mais alta Casa de nosso Legislativo montando uma equação, um algoritmo. Pega-se um presidente assim, espera-se o escândalo, põe-se em sua defesa um desbocado e acrescenta-se uma oposição que, apesar de seus pecados, vê-se no papel de "paladina da Justiça".
Mais estranho ainda é pensar que Toledo escreveu seu artigo para comparar o Senado de 2001 com o de (pasmem!) 1860. Dizia ele que, embora no século 19, os senadores comportavam-se como se estivessem num salão de madame. "Nenhum tumulto nas sessões. A atenção era grande e constante", escreve, citando uma crônica de Machado de Assis. Nada de xingamentos e de denúncias. Mas o cinismo, diz Toledo, era o mesmo. Basta pensar que, enquanto o Senado se reunia, o país escondia debaixo dos panos o drama da escravidão.
"Pode-se estar muito enganado, mas o tiroteio de denúncias em que se envolve o Senado tem tudo para dar em nada, e isso por um motivo que nos remete outra vez a 1860. Naquele tempo, e é por isso que se evocou tanto o velho Senado, o país não estava preparado para abolir a escravidão. Ela se baseava num consenso amplo da classe dirigente. Hoje o país não está preparado para abolir a corrupção." Falou e disse, nos idos de 2001, o senhor Roberto Pompeu de Toledo.
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