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De última hora

Sobre o que conversavam ontem à noite, já perto das 21 horas, o ex-prefeito Beto Richa e o senador Osmar Dias, reunidos na sede do PDT? Estaria ali ocorrendo apenas mais um jogo da última esperança – aquela que nunca morre – ou o comunicado final de que já não há mais acerto possível? O encontro foi testemunhado por gente dos dois lados: Beto foi acompanhado do presidente do seu partido, deputado Valdir Rossoni, e também pelo deputado Ademar Traiano; com Osmar, lá estavam os deputados Augustinho Zucchi, presidente do PDT, e o deputado Fernando Scanavaca.

O encontro se deu poucos minutos após o governador Orlando Pessuti ter telefonado para Osmar Dias para comunicá-lo da decisão de desistir de disputar o governo do estado, deixando o PMDB livre para firmar aliança com o PDT, com a participação do PT. O anúncio oficial desta decisão seria feito em Brasília, preferentemente na presença do presidente Lula. Esta, sim, era a última esperança que Osmar acalentava para, enfim, confirmar sua condição de candidato a governador – e não a senador, como lhe oferecia o PSDB.

Até o fechamento desta edição não se sabia o resultado da reunião. Teria Osmar Dias sucumbido ao canto dos tucanos? Ou dito não? Como diria Hamlet: esta é a questão.

Pedetistas e tucanos apontam um só nome que, atuando principalmente nos bastidores, tem contribuído poderosamente para alimentar o jogo de contradições e desmentidos em que se afundou a política paranaense nesses dias finais de definição do quadro sucessório. O nome é o do deputado Augustinho Zucchi, presidente estadual do PDT.

Seu trabalho consiste em levar seu partido a apoiar Beto Richa e, consequentemente, em levar o senador Osmar Dias a desistir da candidatura ao governo para se contentar com a reeleição abençoada pelo PSDB. Zucchi – mais conhecido como Zuquinho – é que teria levado o presidente do PSDB, deputado Valdir Rossoni, a anunciar solenemente, anteontem, que Osmar Dias aceitara a oferta tucana. Esse acordo incluiria o direito de o PDT indicar o vice na chapa de Richa. Coincidente­­­­mente, o nome que o PDT indicaria seria o do próprio deputado Zuquinho.

Como se sabe, porém, irritado, Osmar disse não precisar de ventríloquos – referindo-se a Rossoni – e desautorizou totalmente o anúncio da véspera, que classificou como imprudente. O senador, porém, educadamente, não estendeu o pejorativo ao presidente do seu partido, o próprio Zucchi, que teria induzido Rossoni a acreditar que já estava tudo acertado.

E de fato não estava. Tanto que, ontem, foi mais um dia de aflição em todos os quadrantes envolvidos nessa história digna de Hamlet vivida por Osmar Dias – ser ou não ser candidato a governador? –, de cuja definição depende o futuro de um exército de interessados. Pois Hamlet continuou no palco durante todo o dia.

A favor de Osmar Dias, acusado de indeciso, cabe uma justificativa plausível: ele está, sim, decidido a ser candidatar ao governo, desde que, porém, o governador Orlando Pessuti desista de concorrer e possibilite ao PMDB adotá-lo como seu candidato. Em público, Pessuti diz que não desiste; para o senador, que "pode ser". Para outros interessados em sua desistência, como o presidente Lula e o PT, acrescenta ao "pode ser" as conjunções "todavia", "porém", "contudo", "no entanto"... Por isso o impasse hamletiano permanece em cena.

Seria hoje o dia D?

O balde de aflições entorna e esparrama seu conteúdo para todos os lados. Na Assembleia, por exemplo, os deputados peemedebistas que sabotavam Pessuti e se faziam de arautos da candidatura de Beto Richa começam a se sentir premidos a repensar suas posições. Conti­­­­nuam clamando pela desistência de Pessuti, mas passaram a achar que Osmar Dias é um sujeito assaz simpático, muito embora manifestem tal sentimento com a cautela que a ocasião lhes aconselha.

A aflição atinge também o ex-governador Roberto Requião, que de repente reviu seus cálculos e elegeu o desafeto Osmar Dias como seu candidato preferido ao governo pelo PMDB. Prefere vê-lo fora da disputa pelo Senado, pois isto colocaria em risco a sua própria eleição. Requião não esconde a sua torcida quase em tom de clamor religioso: "De jeito algum Osmar Dias vai tocar a vuvuzela do Rossoni. Aleluia!", escreveu ele no Twitter.

Aflito está também Beto Richa. Ele esperava – e ainda bota muita fé nisso – trazer Osmar para o seu redil, de tal modo que pudesse disputar a eleição – ou homologação? – apenas contra um frágil Pes­­suti. Se não der certo, sabe que terá de uma luta dura pela frente. Chega a pensar se foi de fato uma boa ideia renunciar aos três anos de mandato na prefeitura que ainda teria de cumprir.

Deixa-o aflito também a de­­­mora em se confirmar os boatos segundo os quais o senador Alvaro Dias seria o vice do presidenciável José Serra. Torce para que isto aconteça o quanto antes – seria o mais poderoso fator para que o irmão Osmar Dias se visse obrigado a alinhar-se com o PSDB. Alvaro nega que tenha sido convidado a ser o vice tucano.

Quando vai terminar a aflição dessa gente toda? Não se sabe. Mas é bem possível que seja hoje, quinta-feira.

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