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Prática republicana

Uma das definições possíveis para sistema republicano é aquele que no qual o governante eleito não usufrui de bens públicos para fins pessoais. Nos Estados Unidos isso é levado a sério. Veja o que diz Jodi Kantor, a repórter do New York Times que escreveu um livro sobre a família de Barack Obama, primeira de negros a ocupar a Casa Branca ("The Obamas"): " A vida na Casa Branca é muito cara, porque o presidente e a primeira-dama não podem usar recursos públicos para nada pessoal, mas a equipe da Casa Branca é muito grande, então fica dispendioso". Boa prática essa, que nos deveria servir de exemplo.

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"Não concordamos com o sistema e vamos destruí-lo." A frase está sendo veiculada via Facebook, na forma de um "adesivo on-line" em conjunto com outras imagens, que indicam o dia 21 de abril como "Dia do Basta – Saia do comodismo e lute contra a corrupção". Obviamente é difícil de acreditar que estamos vendo nascer um movimento revolucionário contra o falho sistema democrático brasileiro. Mas, a palavra de ordem do "adesivo" é um sintoma da distância entre o sistema político-partidário e uma camada de cidadãos que, na melhor das intenções, busca alguma forma de expressar sua vontade de mudança.

A mais adequada interpretação para o "adesivo" é aquela que admite a existência de uma crise de duas facetas. A primeira delas, a do modelo de governo de coalizão, no qual o Poder Executivo compra o apoio do Legislativo loteando ministérios, secretarias e cargos em estatais. A queda de sete ministros do governo Dilma mostrou a inadequação dessa "real política", desprovida de credenciais técnicas, de mérito ou competência. A segunda faceta é a crise ética dos partidos. Em todos os níveis de governo, as militâncias pouco se manifestam sobre suspeitas de irregularidades. Isso ficará mais uma vez evidente em alguns meses, quando acusados de condutas ilícitas ganharem legenda para concorrer nas eleições municipais.

Protestar contra a corrupção é necessário, mas a mensagem do "adesivo", entretanto, acaba sendo tanto ingênua quanto ineficaz. A negação do sistema democrático não vai acabar com a crise, nem com a corrupção. A saída para ela está justamente dentro do chamado "sistema". E essa solução tem – nesses tempos hipermodernos – formas variadas. Uma delas, certamente é a manifestação de rua, como as que têm sido periodicamente realizadas. Entretanto, acreditar que a mudança decorrerá so­­­mente delas está se provando ilusão. Outra saída possível está no controle social via redes, por meio de movimentos de fiscalização da atividade parlamentar, de licitações e de contas das prefeituras.

Mas, e se em vez de querer "destruir o sistema" tentassem melhorá-lo? Neste ano, há eleições e o voto é uma arma poderosa que não pode ser negligenciada. Há, também, uma solução mais difícil que não deveria ser descartada – a candidatura. É um equívoco achar que participação política apartidária é a única forma genuína para resolver o problema da corrupção ou do patrimonialismo. Nas redes, alguns equívocos têm se mostrado frequentes:

1) Todos políticos são iguais. São corruptos ou defendem somente seus próprios interesses.

2) O "sistema" não presta.

3) A única alternativa possível ao modelo partidário vigente é a atuação apartidária.

Esses bordões refletem visões de mundo ideais, no qual existem, de um lado, "nós", a sociedade, e, de outro, "eles", os donos do poder. Felizmente a realidade é mais complexa. É preciso buscar entender como funcionam os partidos e como se viabilizam candidaturas. É preciso conhecer como funciona a sociedade.

Aqueles que optarem por esse caminho certamente terão como primeira dificuldade romper com a hegemonia das elites familiares partidárias. En­­tretanto, os novos movimentos sociais podem tomar como estratégia a infiltração em massa nos partidos, a fim de equilibrar o jogo, conferindo poder para pessoas que não tenham ambições de fazer da política uma profissão. Numa democracia representativa, por mais aberta ao diálogo que ela seja, o poder decisório está nas mãos dos eleitos. Ignorar essa via de atuação por preconceito é perder o foco da mudança.

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