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A Câmara que Queremos
A respeito da discussão sobre "a Câmara que queremos", iniciada na coluna anterior, o leitor José Tucón enviou mensagem em que descreve os critérios que vai usar para escolher seu candidato a vereador neste ano. Ele enumera seis critérios:
1) Pertencer a um partido que tenha visão de mundo semelhante à do eleitor.
2) Ter ficha limpa.
3) Ter perfil técnico, a fim que trate de problemas concretos e práticos da cidade.
4) Tenha propostas específicas, conectadas a Curitiba, e não propostas genéricas e demagógicas válidas em qualquer cidade.
5) Se o candidato já exerceu o cargo, verificar qual foi a conduta adotada: se votou a favor do 13.° salário para vereadores, se não mudou de partido no meio do mandato, etc.
6) Ter prioridades para a cidade semelhantes às do eleitor.
José Tucón afirma que, caso não encontre um candidato que atenda a esses itens, votará em branco. E você, quais são os critérios que vai usar para a escolha de seu vereador?
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Imagine que você vive num condomínio e o síndico decide não divulgar o quanto paga aos funcionários. Como os custos são pagos por você, por meio da taxa de condomínio, certamente você acharia isso um absurdo. Faria o maior barulho para que a planilha de pagamentos fosse aberta a todos os interessados. Se você concorda que a decisão do síndico seria um absurdo, porque não se mexe para protestar contra a recusa da Assembleia Legislativa do Paraná em divulgar o valor das gratificações pagas aos funcionários?
Até o momento, a Assembleia não publica na internet os valores das gratificações que paga aos servidores do Legislativo. O Legislativo estudual nega a você contribuinte o direito de saber se os recursos provenientes dos impostos estão sendo bem empregados.
A razão disso,conforme declarações do presidente do Legislativo, Valdir Rossoni (PSDB) dadas à Gazeta do Povo, é que a divulgação seria proibida. Rossoni afirmou que, segundo a procuradoria jurídica da Casa, se esses dados fossem publicados a Assembleia estaria violando o direito à intimidade dos servidores.
De fato, a situação comporta um confronto entre transparência pública versus intimidade dos servidores. Mas há divergência sobre o fato de a intimidade ter de prevalecer no caso apresentado. Isso porque o agente público pode tomar duas decisões diferentes. Ambas são escolhas políticas, mas apresentam diferentes concepções da amplitude da esfera pública.
Se o político adotar uma perspectiva republicana, entenderá que não há violação de intimidade na divulgação das gratificações dos servidores. Isso porque, dentro dessa visão, considera-se que a transparência pública é crucial para o controle dos atos dos governantes e para assegurar que os bens públicos não sejam apropriados indevidamente para fins privados. O dano ao direito de intimidade é mínimo, se comparado aos frutos proporcionados pela transparência, na defesa das instituições. Assim, é legítimo que o interesse mais geral da sociedade (de transparência) se sobreponha ao interesse pessoal do servidor (de resguardar sua intimidade).
Se o administrador, entretanto, adotar uma perspectiva tradicional, a divulgação das gratificações violará o direito à intimidade. Por esse ponto de vista, o direito à intimidade representado pela publicação da remuneração do servidor jamais poderia ser violado, mesmo que isso signifique sacrificar o controle social das instituições. Essa visão possui um ranço patrimonialista. Público e privado se confundem, proporcionando benefícios a uns poucos cidadãos em detrimento do direito do cidadão em ter acesso aos dados dos gastos públicos.
O presidente da Assembleia fez a opção política pelo viés patrimonialista, adotando um modelo de transparência limitada, o que indica a resistência do Legislativo estadual em se livrar de seus arcaísmos institucionais. Além disso, demonstra também que a propaganda feita pelo Legislativo, em outdoors "Economia de R$ 90 milhões. O Paraná pediu, a Assembleia mudou" é apenas uma meia verdade.
De fato, a Assembleia lentamente está mudando. Porém, mais devagar do que a sociedade mudou. Da mesma forma que ninguém aceitaria que o seu condomínio pagasse remunerações secretas a funcionários, não é admissível que o Legislativo paranaense, custeado por impostos, recuse-se a prestar contas adequadamente de suas despesas. Falta, entretanto, que os protestos dos contribuintes sejam tão intensos quanto seriam os dos condôminos na vida privada.