Uma escola estadual do Paraná que não foi ocupada por estudantes tem algumas lições a ensinar a nossos governantes. Será que eles estão dispostos a aprendê-las?

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Vamos usar o caso do Colégio Estadual Francisco Zardo, que fica no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, e tem quase 1,5 mil alunos. As escolas ocupadas também trazem muitas lições, mas por hoje fiquemos com estas aqui:

1) Os alunos, mesmo sem ter ocupado a escola, são contra a Medida Provisória (MP) nº 746, da Reforma do Ensino Médio. Os governantes já sabem disso, e sabem que as críticas são válidas. Gente graúda também critica a MP. O Todos pela Educação (TPE), por exemplo, é um dos criticam a iniciativa da forma como feita. Lembrando que o movimento reúne empresários, gestores, pesquisadores, cidadãos e organizações sociais em busca do direito da educação básica de qualidade para as crianças e jovens.

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O TPE não é um grupo qualquer. O presidente do Conselho de Governança é Jorge Gerdau Johannpeter. No conselho há gente como José Roberto Marinho (da Fundação Roberto Marinho), Millú Villela (da família dona do Itaú), Mozart Neves Ramos (educador, atualmente diretor no Instituto Ayrton Senna e um dos preferidos do prefeito eleito João Dória para o secretariado).

Quem coloca a mão na massa são outras pessoas, mas institucionalmente o TPE diz: “a reforma do ensino médio não deveria ter sido iniciada por MP”. Se o governo federal queria celeridade, diz o movimento, poderia ter colocado em votação o Projeto de Lei nº 6.840/13, que está pronto para ser votado, após três anos de debates.

Lição que fica: a proposta de reforma via MP foi um erro, e quem diz isso não o faz por motivos partidários (ainda que alguns o façam), mas porque entende bem do assunto. Desqualificar os que são contrários à MP 746 não é só desrespeitoso, é antidemocrático.

2) A decisão de não ocupar a escola foi tomada após estudos da MP e debates sobre o que seria melhor para a maioria dos estudantes. O Grêmio Estudantil fez discussões, analisou a MP, pediu opiniões. A diretora Naterci Schiavinato expôs seus argumentos contra a ocupação, tanto para seu público interno como para os pais e a comunidade. Os estudantes concluíram que, ainda que a MP 746 cause prejuízos, a ocupação por si não provocaria benefícios. Decidiram formatar uma contraproposta de projeto e encaminhar ao Núcleo da Secretaria de Educação

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Lição que fica: o diálogo e a negociação pressupõem a apresentação de propostas e contrapropostas. Se o governo apresenta um projeto fechado, e se adota tratoraços na Assembleia ou no Congresso para aprová-lo sem incluir sugestões da sociedade, não age democraticamente.

3) Os alunos do Zardo visitaram um dos colégios que estava sendo ocupado para conhecer a opinião dos estudantes sobre o assunto. Pelo relato que fizeram na página do Grêmio Estudantil, Voz Ativa, foram de ouvidos atentos e recebidos de braços abertos. Falaram sobre a MP, sobre a forma de protestar, sobre a organização da ocupação, a participação dos pais e professores.

As divergências não causaram embate ou discórdia. Diferente do que vemos no Centro Cívico e no Planalto. O governador Beto Richa, ao comentar sobre as ocupações e o que ele considerava errado, foi extremamente inábil politicamente. O presidente Michel Temer, conhecido pela polidez, tem se valido de comentários sarcásticos e pretensiosos sobre seus opositores.

Lição que fica: o respeito aos que têm ponto de vista diferente é primordial para o debate e a construção de uma sociedade mais justa. Fazer o discurso de “nós contra eles”, com a desculpa de que “eles que começaram” é de uma pobreza intelectual incrível.

4 ) A direção do Zardo teve papel fundamental na decisão de não ocupação. A diretora Naterci é reconhecida por toda a comunidade, graças aos trabalhos que faz na escola, e pelo respeito que exige do bem público. Certamente não agrada a todos – o colégio é bem grande – mas é responsável e engajada, pede a participação dos pais na vida escolar dos filhos. É ativa e sempre procura uma solução para os problemas locais, a despeito de todos os entraves burocráticos e econômicos aos quais as escolas estaduais se submetem.

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Lição que fica: o reconhecimento vem depois de muito trabalho e dedicação. Em vez de governantes ficarem reclamando dos opositores, de sindicatos, poderiam se dedicar a apenas trabalhar e achar boas soluções para os problemas do Paraná e do Brasil.