O presidente interino Michel Temer (PMDB) já vinha sendo cercado por vários elementos que o ligam a Operação Lava Jato. Até então, no entanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não havia visto indícios suficientes para apurar as citações ao peemedebista. Temer é um possível alvo pois ocupa a presidência do seu partido desde 2001 e o PMDB, ao lado de PT e PP, é uma das legendas com mais citados nas investigações. Ele também acolheu, no Palácio do Planalto, ao menos sete ministros citados na operação - dois deles, inclusive, já caíram por conta de críticas ou sugestão de interferências no caso: Romero Jucá, do Planejamento, e Fabiano Silveira, da Transparência.
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Ainda em dezembro de 2014, na 7ª fase da Operação Lava Jato, investigadores apreenderam com diretores da Camargo Corrêa uma planilha relacionando valores de obras a nomes de parlamentares. A suspeita da Polícia Federal (PF) era de que a lista se referia a propina destinada aos políticos, provavelmente entre 1990 e 1995 – a planilha remete a investigação do caso Castelo de Areia, que acabou suspensa.
Temer é citado duas vezes na lista, somando repasses de US$ 40 mil, associados à duplicação de uma rodovia em Praia Grande (SP) e uma obra de pavimentação em Araçatuba (SP) – esta última acabou tendo o contrato cancelado por suspeita de superfaturamento. À época, o presidente ocupava cargo como deputado federal pelo PMDB. Ele negou ter recebido os valores da empresa.
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Leia a matéria completaA primeira delação premiada da Lava Jato a relacionar o nome de Michel Temer como envolvido no esquema de corrupção da Petrobras foi a do ex-consultor da Toyo Setal, Júlio Camargo. Ele apontou o lobista Fernando Baiano como operador da cota do PMDB no esquema, representando os interesses do presidente do Senado, Renan Calheiros, do presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha, e do presidente interino da República.
“Havia comentários de que Fernando Soares era representante do PMDB, principalmente de Renan, Eduardo Cunha e Michel Temer. E que tinha contato com essas pessoas de ‘irmandade’”, consta em relatório dos investigadores sobre o primeiro depoimento prestado por Júlio Camargo à PGR, em março de 2015. Na ocasião, o então vice-presidente negou conhecer Baiano e Camargo.
O nome de Temer apareceu novamente ao lado de Cunha e Calheiros, agora relacionado a possíveis repasses da empreiteira OAS, também envolvida na Lava Jato. No celular do dono da empresa, José Aldemário Pinheiro, foram encontradas mensagens que apontam para indícios de recebimento de R$ 5 milhões pelo presidente interino.
Nas mensagens, Eduardo Cunha questiona o empreiteiro por ele repassar a verba a Temer de uma vez e adiar o pagamento aos outros líderes do PMDB. As conversas fundamentaram a operação Catilinárias, em dezembro de 2015, em que foram alvos Cunha, Calheiros, além do senador Edison Lobão (MA) e os ministros Celso Pansera e Henrique Eduardo Alves.
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Leia a matéria completaO ex-senador Delcídio do Amaral também citou Michel Temer em depoimentos em regime de delação premiada. O político denunciou uma relação suspeita entre o presidente interino e o ex-diretor da Petrobras João Augusto Henriques – já condenado da Lava Jato –, que dirigiu a BR Distribuidora entre 1998 e 2000.
Segundo Delcídio, Henriques teria participado de uma compra ilícita de etanol, entre 1997 e 2001 (no governo Fernando Henrique Cardoso), com o apadrinhamento de Temer. De acordo com o depoimento, “a relação de João Henriques e Michel Temer é antiga”. Henriques teria sido indicado pelo peemedebista para suceder a Nestor Cerveró na diretoria Internacional da Petrobras, mas Dilma Rousseff vetou a nomeação e colocou Jorge Zelada em seu lugar.
Há ainda uma outra ligação indireta de Temer com a Lava Jato: o Grupo Libra, investigado por ter pago R$ 591 mil para uma empresa em nome da mulher do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Cláudia Cruz, foi um dos principais doadores de campanha do vice-presidente em 2014. Porém, não há citação ao presidente interino na investigação oficial.
O grupo foi beneficiado de uma emenda parlamentar incluída por Cunha na Lei de Portos, e obteve, com isso, uma vantagem para administrar uma área do Porto de Santos, em São Paulo. O conglomerado tem uma dívida milionária com o governo federal e foi o único beneficiário dessa brecha incluída na legislação, que permitiu a empresas em débito com a União renovarem contratos de concessão de terminais portuários.
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