Renato Duque, ex-diretor da Petrobras| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

"Pagava-se pela vontade de obter sucesso", diz delator

Júlio Camargo também foi questionado pelo advogado de defesa dos executivos Dalton dos Santos Avancini e João Ricardo Auler, respectivamente diretor-presidente e presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa. Eles estão presos na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde novembro do ano passado e tiveram pedidos de habeas corpus negados.

"Pagava-se [propina] por medo?", perguntou ao delator o advogado dos executivos. "O senhor me fez uma pergunta difícil de responder. Não é medo. Pagava-se pela vontade de obter sucesso", disse Camargo.

Ele também voltou a falar sobre a "regra do jogo", de que o pagamento de propinas era institucionalizado na Petrobras. "Chegou um determinado momento que essa conversa não era mais necessária. Era a regra do jogo. Então era simplesmente uma confirmação daquilo que existia."

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Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, o empresário Júlio Camargo, que assinou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, disse que o pagamento de propinas era "a regra do jogo" e afirmou ter pago R$ 12 milhões ao ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque e ao gerente da área Pedro Barusco.

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Questionado pelo Ministério Público sobre três empresas de sua propriedade, usadas para prestar consultoria a companhias que mantinham contratos com a Petrobras, Camargo disse que as companhias "não foram feitas para essa atividade [pagamento de propina]".

"Eu diria que ao longo do tempo, pela necessidade que era a regra do jogo, elas foram obrigadas a serem utilizadas", afirmou. Instado a desenvolver o raciocínio, ele completou: "Havia uma regra do jogo, se o senhor não pagasse propina à área de Engenharia e de Abastecimento, o senhor não teria sucesso ou o sr. não obteria os seus contratos na Petrobras".

Camargo admitiu ter atuado na intermediação de contratos em duas grandes obras da Petrobras, o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), em Itaboraí (RJ), e a Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), na cidade de Araucária (PR). No primeiro caso, ele representava a Toyo Setal, empresa para a qual prestou consultoria e em que ocupou cargo executivo.

Já na obra da Repar, Júlio Camargo representava o consórcio CCPR, integrado pela Camargo Corrêa e pela Promon Engenharia. Os dois contratos do consórcio com a Petrobras, ambos assinados em 7 de julho de 2008, somam R$ 2,7 bilhões, de acordo com documentos da estatal.

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Camargo afirma ter pago R$ 12 milhões em propinas, ou cerca de 0,4% do total dos contratos, a Renato Duque e Pedro Barusco. "Tinha como regra 1%, mas isso aí era muito flexível e muitas vezes isso aí era negociado. No meu caso sempre negociei para menor, nunca para maior", disse o delator. A negociação, ainda de acordo com Camargo, foi feita diretamente com Barusco.

Duque foi preso em novembro, mas conseguiu um habeas corpus no início de dezembro e está solto. Barusco fechou um acordo de delação premiada e concordou em devolver R$ 252 milhões obtidos em propinas.