Uma história de parceria com Dilma Rousseff que começou em 2002 conduziu a paranaense Gleisi Hoffmann (PT) ao principal ministério do governo federal. No auge da primeira crise de sua gestão, a presidente recorreu a alguém cuja capacidade técnica conhece pessoalmente. A escolha também remete à própria trajetória, quando assumiu a Casa Civil após o escândalo do mensalão, em 2005.
"A presidenta quer o funcionamento na área de gestão, de acompanhamento dos processos e projetos", disse Gleisi, referindo-se ao que chamou de "encomendas" incluídas no convite para compor o ministério. Os pedidos deixam claro que a pasta vai deixar de funcionar como o núcleo político do governo. Em resumo, a paranaense terá a missão ocupar o mesmo papel executado por Dilma no governo Lula: a de gerenciar os projetos e programas governamentais e não a de fazer a articulação política com o Congresso.
Na época, o presidente havia acabado de perder José Dirceu, que deixou o governo em meio a denúncias de ser o mentor do mensalão, quando resolveu substituí-lo pela então discreta ministra de Minas e Energia. A troca estabilizou o ambiente no Palácio do Planalto às vésperas da campanha pela reeleição, em 2006. Em 2007, Dilma entrou em evidência como coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento e não parou de ganhar prestígio, até ser escolhida candidata à sucessão.
Seis anos após a reviravolta que mudou a vida de Dilma e do Brasil, Gleisi toma posse hoje, às 16 horas. Duas horas antes, faz um discurso de despedida do Senado. Promete usar a oportunidade para descrever detalhes de sua biografia e os laços com a nova chefe.
"Conheço a presidenta da equipe de transição do presidente Lula. Tive oportunidade de trabalhar com ela em vários projetos quando fui diretora financeira de Itaipu e ela ministra de Minas e Energia", explicou, durante uma entrevista coletiva concedida à noite, logo após ser anunciada como substituta de Antonio Palocci.
A notícia pegou até a bancada petista no Senado de surpresa. "Não vou dizer que a gente esperava por isso, mas também não dá para negar que é uma forma de nos prestigiar", resumiu o senador José Pimentel (PT-CE). Gleisi, porém, já sabia que poderia ser chamada desde domingo, quando teve uma conversa com Dilma.
O deputado paranaense André Vargas (PT) revelou que a senadora já era cotada para compor o primeiro escalão desde a vitória nas eleições de 2010. "Avaliaram que era melhor para ela fortalecer o partido no Congresso", lembrou. Curiosamente, Gleisi foi sondada para o Ministério do Planejamento, então comandado pelo marido, Paulo Bernardo (hoje nas Comunicações).
No Senado, ganhou fama com rapidez. Primeiro pelo sucesso legislativo três propostas apresentadas por ela já foram aprovadas na Casa e agora dependem de apreciação da Câmara. Depois, pela defesa ferrenha do governo, o que rendeu vários embates em plenário com a oposição, em especial com o conterrâneo Alvaro Dias (PSDB).
As discussões deram a Gleisi bagagem e coragem. Perguntada sobre a "maldição" que ronda a Casa Civil (José Dirceu, Erenice Guerra e Palocci foram envolvidos em escândalos e foram forçados a deixar o cargo nos últimos seis anos), Gleisi disse não ter receio das dificuldades que enfrentará. "Não há maldição. Nós temos um projeto extraordinário de transformação deste país; um país que inclui as pessoas, que melhora a vida das pessoas. É com isso que eu estou comprometida."