Depoimento de Derosso divide os vereadores
Para parte dos governistas, as explicações dadas foram, em geral, satisfatórias. Já a oposição, junto com outra parte da situação, achou que Derosso não respondeu adequadamente aos questionamentos feitos pelos parlamentares.
Opinião
Propaganda em benefício próprio
Embora a Câmara pareça ter finalmente situação e oposição, e não apenas um bloco monolítico de apoio incondicional ao presidente, as perguntas foram amenas. Faltou alguém que tomasse a frente e fizesse questões mais incisivas ao investigado.
Para sociólogos e cientistas políticos, o depoimento de ontem do presidente da Câmara de Vereadores de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB), teria evidenciado uma tentativa de desvincular as denúncias contra ele ao atribuir a fatores externos a cobrança por esclarecimentos sobre os contatos de publicidade da Casa. Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, a sessão para ouvir Derosso mostrou sinais de divisão entre os vereadores aliados do presidente do Legislativo, mas não o suficiente para levar a uma punição ao presidente por eventuais irregularidades.
"A rede de proteção dele está se fragilizando. Porém é difícil ter algum resultado prático [no Conselho de Ética]. É muito remota [uma condenação]", afirmou o sociólogo e professor Lindomar Boneti, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Para ele, enquanto Derosso mantiver o cargo de presidente, conseguirá conter uma possível insurreição de colegas contra ele.
O professor de Sociologia Marco Rossi, da Universidade do Norte do Paraná (Unopar), criticou a estratégia de Derosso de só aceitar responder a algumas perguntas em uma sessão fechada do Conselho de Ética, alegando foro íntimo. "É típico do sujeito que perdeu o argumento racional."
A coordenadora do mestrado em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luciana Panke, especialista em discurso político, afirmou acreditar que a estratégia do presidente do Legislativo de atacar a imprensa, atribuir as denúncias a interesses políticos e citar até "forças ocultas" mostra uma tentativa de desvirtuar o foco das cobranças. "Ele agrega nos personagens para desfocar um pouco dele, despersonalizar a acusação."
Para Luiz Domingos Costa, professor de Ciência Política do grupo Uninter, o caso de Derosso explicita que a classe política "tem uma noção errada do que é a coisa pública. Na maioria das vezes, eles não acham que cometeram irregularidades e passam a borrar a fronteira entre o público e o privado".