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A disputa entre PMDB e PT pelo controle do Senado e uma eventual crise na coalizão governista pode proporcionar à oposição um chance para se aproximar dos peemedebistas, que terão papel estratégico na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo tenta desvincular a eleição no Congresso, em fevereiro, da sucessão de 2010, enquanto o PMDB se mostra confortável na condição de mais assediado pelos dois lados.

Cientes da oportunidade, os partidos da oposição já sinalizaram que votarão nos candidatos do PMDB para as presidências da Câmara e do Senado. Embora apóie o PMDB na Câmara, o PT gostaria de ver Tião Viana (PT-AC) no comando do Senado.

"Os interesses de 2010 podem interferir no processo eleitoral (no Congresso), o que é um equívoco. Temos que olhar para a instituição", afirmou em entrevista à Reuters o senador Renato Casagrande (PSB-ES). "A oposição pode tensionar nessa direção."

Há dois anos, PT e PMDB fecharam acordo para se revezarem no comando da Câmara. Com Arlindo Chinaglia (SP), os petistas mantém o controle da Casa há dois anos. Nos próximos dois anos será a vez do PMDB, que já indicou Michel Temer (SP).

No Senado, o clima é mais tenso. O PMDB tenta permanecer na presidência da Casa, hoje ocupada por Garibaldi Alves Filho (RN). Preocupados com a possibilidade de o PMDB controlar totalmente os rumos do Congresso, os petistas tentam emplacar a candidatura de Tião Viana, que ocupou o cargo ano passado, de forma interina, quando o ex-presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) enfrentava um processo de cassação. Justamente por isso, é visto com desconfiança por parte dos peemedebistas.

Não foi à toa, portanto, que o presidente Lula reforçou a campanha de Viana, apesar da tradição de que partidos com as maiores bancadas têm o direito de ocupar as presidências da Câmara e do Senado. O PMDB é majoritário nas duas Casas.

"O melhor cenário, que traz mais estabilidade institucional para o Parlamento, é manter o equilíbrio entre os dois maiores partidos da base", destacou à Reuters o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS).

Enquanto isso, a oposição tenta ganhar terreno. O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), afirmou à Reuters que apóia um candidato do PMDB à presidência da Casa por que a legenda tem a maior bancada.

"Quem tem direito é o PMDB. Se o PMDB abrir mão, nós vamos querer o apoio dele para a segunda maior bancada da Casa, que é a do Democratas", ressaltou Agripino, que no passado não seguiu a tradição e disputou o cargo com Calheiros.

O líder tucano, senador Arthur Virgílio (AM), afirmou que o partido não tem pressa para decidir que candidatura apoiará, uma vez que a "agonia" de controlar o Senado não é do PSDB.

OLHO EM 2010

Na Câmara, o PSDB, sob o argumento de que defende a proporcionalidade, já revelou que apoiará o PMDB.

"O PSDB está trabalhando em uma ótica de convergência de forças políticas para a disputa presidencial", respondeu à Reuters o líder do PSDB na Casa, José Aníbal (SP), depois de ser perguntado sobre a possibilidade de a oposição se beneficiar com uma crise entre PT e PMDB. "Eleição nacional no Brasil é de soma, e o PMDB é uma força política que tem muita capilaridade."

Por enquanto, as divergências entre PT e PMDB não tomaram maiores proporções. Os peemedebistas, que controlam seis ministérios e diversos cargos estratégicos na máquina pública federal, asseguram que não deixarão que a disputa pela presidência do Senado cause a saída do partido do governo.

"O PMDB está inserido no governo e não vai haver nenhum problema depois", disse à Reuters o líder do partido no Senado, Valdir Raupp (RO), destacando que o acordo feito na Câmara não envolveu o Senado e que o PMDB tem direito a presidir as duas Casas.

Por outro lado, o PMDB não demonstra timidez ao falar do assédio que sofre da oposição. O líder da sigla na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), ponderou que não se deve misturar os assuntos. Mas ressaltou que "todo mundo quer tratar bem o PMDB", pois sabe que a sigla saiu ainda mais fortalecida das eleições municipais de outubro, quando elegeu o maior número de prefeitos e vereadores do país.

"Ninguém quer se indispor com o PMDB. Todos sabem o potencial do PMDB para 2010", frisou Alves.

O líder do PMDB na Câmara disse ainda esperar que os senadores cheguem a um entendimento, o que poderia acontecer se o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) fosse reconduzido ao cargo de presidente do Senado.

"Se for o Sarney, acho até que poderia ter um consenso. Mas como ele tem dito que não quer, acho que pode ter um outro entendimento e uma composição política que até ajude o PMDB a ter esse crédito no futuro", afirmou Alves.

Nos últimos dias, cresceram os rumores de que o PMDB aceitaria desistir da disputa pelo Senado se aumentasse a sua participação no governo, com o Ministério da Justiça, hoje comandado pelo petista Tarso Genro.

"Não vislumbro qualquer possibilidade de que haja uma compensação no Executivo do que acontecer aqui", rebateu à Reuters a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

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