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O despachante Dirceu Rodrigues Garcia admitiu ter recebido dinheiro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior para agir como intermediário no esquema de quebra de sigilo fiscal na Receita Federal.

Investigação da Polícia Federal apontou que o jornalista encomendou a quebra dos sigilos fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, da filha de José Serra, Verônica, do genro dele, Alexandre Bourgeois, e de outros tucanos entre setembro e outubro de 2009.

Por lei, dados de imposto de renda dos contribuintes são sigilosos. Os dados sigilosos saíram de agências da Receita em Santo André e Mauá. Os dados da filha de Serra e do genro foram obtidos por meio de procurações falsificadas.

Dirceu trabalha como despachante na porta de uma unidade da Junta Comercial, local onde recebeu a encomenda do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que hoje é repórter da TV Record.

Na época em que solicitou as cópias ao despachante, Amaury trabalhava no jornal "Estado de Minas". A polícia sabe que Amaury estava em um voo que saiu de Brasília e pousou no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 7 de outubro do ano passado, um dia antes da entrega das declarações.

No dia 8 de outubro, o jornalista recebeu a encomenda que havia feito ao despachante em um bar no Centro de São Paulo. De acordo com Dirceu, o encontro no local durou pouco mais de meia hora. Ele afirma que o jornalista reagiu com satisfação quando viu as cópias do Imposto do Renda e teria dito que a missão estava cumprida.

"Esperei ele conferir a documentação e ele me passou o valor combinado. Conferi o valor e fui embora", disse o despachante.

Questionado sobre quanto cobrou por cada quebra de sigilo, respondeu: "R$ 700 cada uma". Como eram doze, o total foi de R$ 8,4 mil.

Um mês depois da entrega, Dirceu e o jornalista voltaram a se encontrar. Amaury deu ao despachante mais R$ 5 mil. "Ele me ofereceu um auxilio, e quis saber como estava a situação." O despachante afirma que aceitou a oferta de dinheiro. Segundo ele, dois depósitos foram feitos nos dias 9 e 17 de setembro deste ano.

Dirceu disse que não entendeu a oferta como um cala-boca para não falar nada para a PF. "Eu entendi como um auxílio, uma ajuda."

A Polícia Federal confirmou que os depósitos na conta de Dirceu foram feitos em dinheiro vivo, na boca do caixa, num banco em Brasília.

Encomenda

A PF informou que Amaury Ribeiro Júnior confirmou que fez a encomenda e que os documentos irregulares foram pagos pelo jornal "Estado de Minas".

O jornalista alegou aos delegados que começou a investigação porque teria descoberto que um grupo a serviço de José Serra estaria levantando informações sobre a vida do ex-governador Aécio Neves (PSDB). A PF diz que o jornalista não explicou porque tomou essa atitude.

Depois que saiu do jornal mineiro, Amaury afirmou que foi procurado por gente ligada à pré-campanha à Presidência de Dilma Rousseff (PT), interessada no material. Ele disse que chegou a ficar em um flat em Brasília com despesa paga por alguém do PT.

Ele disse ainda à Polícia que as informações fiscais que obteve foram parar no PT porque alguém pode ter visualizado os dados em seu notebook enquanto estava em outro apartamento, não pago pelo PT, mas de propriedade de uma pessoa ligada à pré-campanha de Dilma.

Em junho deste ano, Amaury foi citado pela Revista Veja em um suposto esquema de montagem de um dossiê contra os tucanos. Além de Amaury, estaria envolvido também o delegado aposentado da PF Onézimo Souza.

No dia 20 de abril deste ano, se encontraram em um restaurante Amaury, Onézimo e Luiz Lanzetta que, segundo Onézimo, falava em nome do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), na época um dos coordenadores de Dilma.

"Queriam que a gente identificasse a origem dos vazamentos que estavam acontecendo dentro do comitê. (...) Depois, queriam investigações sobre o governador Jose Serra", disse Onézimo à revista.

Depois da denúncia, esse núcleo de investigação foi afastado da pré-campanha do PT. No núcleo, estaria envolvendo Amaury Ribeiro Júnior, apontado como mandante do esquema de quebra de sigilos ilegais.

O advogado de Amaury disse que o jornalista não quer falar sobre a quebra ilegal de sigilo fiscal. O ex-governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), afirmou que não teve qualquer ligação com o episódio. O "Estado de Minas" disse que Amaury trabalhou na empresa por três anos e publicou diversas reportagens, mas nenhuma sobre o assunto.

O PSDB disse que o episódio demostra que houve uma equipe de inteligência por trás das quebras de sigilo. O PT nega e atribuiu o que ocorreu a uma disputa interna dentro do PSDB.

Inquérito

A PF considera encerrado o caso, com a identificação dos responsáveis pela quebra dos sigilos fiscais. Não será investigado se houve participação da pré-campanha de Dilma, nem quem teria dado a ordem para Amaury Ribeiro Júnior encomendar as cópias dos impostos de renda das pessoas ligadas à José Serra.

O inquérito da PF está em fase final e o próximo passo é remetê-lo para o Ministério Público Federal em Brasília.

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