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Em carta enderaçada aos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ativista italiano Cesare Battisti nega participação nos quatro homicídios pelos quais foi condenado em seu país e diz ter "aversão a sangue", tendo lutado dentro de seu grupo político para evitar assassinatos. A carta de Battisti foi enviada ao Supremo nesta quinta-feira (26) pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

O tribunal deve julgar o caso Battisti em março. A Itália pediu a extradição do ex-ativista, mas o ministro da Justiça, Tarso Genro, deu refúgio político a ele. O Supremo, portanto, terá de decidir primeiro se o refúgio suspende o pedido de extradição. Enquanto isso, Battisti segue preso em Brasília (DF).

No texto, de 19 páginas manuscritas, Battisti conta como se transformou um ativista e sua trajetória dentro do Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Ele diz não ser o "homem sanguinário" descrito pela Itália e afirma que era contra até a morte de animais, quando era criança.

"Essa aversão ao sangue nunca diminui na vida de um homem. Pelo contrário, aumenta. E nunca matei e nem quis matar qualquer pessoa", diz trecho da carta.

Battisti enfatiza que o envolvimento de seu nome nos homicídios foi feito por companheiros de luta armada que receberam o benefício de delação premiada da justiça italiana, tendo suas penas reduzidas ou até conseguindo a liberdade.

O ex-ativista afirma que lutou dentro do PAC para que as armas fossem usadas apenas como instrumento de defesa e não para ataques. Em junho de 1978, antes dos crimes atribuídos a ele, Battisti diz ter deixado o grupo devido a um assassinato cometido por membros do PAC.

Ele destaca ter participado de uma reunião do PAC em 1979 justamente para tentar impedir que o grupo realizasse os assassinatos de que agora é acusado. "Eu quis impedir esses atos, sangrentos, estúpidos e contraproducentes para a resistência. Um verdadeiro suicídio político, posto que indefensável. (...) Os membros dos PAC disseram-me que eu não tinha mais direito de dar o meu parecer dado que não pertencia mais ao grupo e a reunião terminou sob forte tensão".

Battisti diz não ter álibis para provar sua inocência porque os crimes aconteceram há 30 anos. "O senador Suplicy interrogou-me para saber se tinha álibis às datas destes homicídios. Mas penso que podem compreender, senhores ministros, que, até mesmo por não os ter cometido, sou incapaz de recordar das datas desses crimes. Além disso, vivíamos escondidos nos apartamentos, e os dias eram vazios, intermináveis e muito semelhantes".

O ex-ativista afirma que quando fugiu de uma prisão italiana na década de 80 sequer sabia que era suspeito de participação nos quatro assassinatos. Ele estava detido por "subversão" e diz ter optado pela fuga após ver colegas de cárcere serem torturados e serem dados como desaparecidos.

No fim da carta, Battisti reafirma sua inocência e aponta supostas falhas nos processos na Itália que o condenaram, à revelia. Além da delação premiada dos acusadores, diz não ter tido oportunidade de defesa e acusa a justiça italiana de ter acolhido procurações falsas assinadas por ele em outro contexto.

"De minha parte estou disposto a confirmar pessoalmente, perante vossas excelências, tudo o que estou dizendo. Assim como estou disposto a afirmar aos familiares das quatro vítimas, olho no olho, que não matei seus entes queridos. Sei que a justiça do Brasil tomará em consideração todos os elementos que, postos juntos, provam a minha inocência e a maneira tremenda como fui utilizado como bode expiatório durante esse processo tão cheio de falhas na Itália", conclui o ex-ativista.

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