A temperatura do segundo dia de julgamento da presidente da República Dilma Rousseff no Senado Federal atingiu seu ponto máximo e obrigou a oposição a adotar uma nova estratégia no plenário da Casa. Como a maioria das testemunhas foram chamadas pela defesa, os senadores que são favoráveis ao impeachment evitaram perguntas aos convidados e reduziram as intervenções tão costumeiras ao longo de uma sessão. O “silêncio” deve acelerar o andamento do julgamento, previsto para terminar até o dia 31.
Já aliados da presidente Dilma aproveitaram a presença das testemunhas para reforçar argumentos da defesa. Minoria na Casa, aliados da petista tentam vencer o que consideram uma “batalha de narrativas”. Até o início da noite de sexta-feira (26), dois nomes chamados pela defesa tinham sido interrogados no plenário: o economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo e o advogado Geraldo Luiz Mascarenhas Prado. Uma terceira testemunha ainda seria ouvida, o ex-secretário executivo do Ministério da Educação Luiz Cláudio Costa. Neste sábado (27), será a vez do ex-ministro do Planejamento Nelson Barbosa e do professor-adjunto de Direito Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Ricardo Lodi.
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Apesar da estratégia da oposição, que de fato conseguiu reduzir o tempo da sessão, as farpas continuaram sendo trocadas. “Já tive oportunidade de ouvir na comissão do impeachment a testemunha, que não acrescentou nada. Então eu abro mão do meu tempo”, justificou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). Outros parlamentares foram na mesma linha. “Eles agora fogem do debate porque têm medo da verdade”, provocou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). “Ninguém foge. Participaremos quando acharmos necessário e temos livre arbítrio para decidir qual momento é esse”, devolveu o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Os poucos senadores anti-Dilma que participaram do interrogatório se limitaram a perguntas de caráter técnico.
Mas a estratégia só foi adotada no período da tarde, depois de uma manhã de bate-boca entre os senadores. O ápice da confusão obrigou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, que tem conduzido todo o julgamento no Senado, a suspender a sessão, antecipando o intervalo do almoço.
Tudo começou com o desentendimento entre os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Lindbergh Farias (PT-RJ) e terminou com ataques do próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Caiado e Lindbergh, que já haviam protagonizado um embate no primeiro dia de julgamento, voltaram ao confronto na sexta-feira (26). Caiado disse que Lindbergh tem mais de 30 processos no STF e uma “cracolândia” no gabinete. O ataque foi respondido imediatamente pelo petista. “Cachoeira sabe da sua vida”, gritou o petista, em alusão ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, que atuava em Goiás, Estado de Caiado, e foi preso por esquemas de corrupção.
Gleisi x Renan
Mas o ápice da confusão no segundo dia de julgamento ocorreu entre Gleisi e Renan, que ironicamente desceu ao plenário para tentar acalmar os ânimos da Casa depois da briga entre Caiado e Lindbergh. O peemedebista, contudo, concluiu sua fala no microfone atingindo os colegas. “Eu fico muito triste porque esta sessão é a demonstração de que a burrice é infinita”, disse ele. Ao final, ainda atacou a senadora petista, que no dia anterior havia dito que a Casa “não tem moral” para julgar a presidente Dilma.
“Como a senadora pode fazer uma declaração dessa, exatamente uma senadora que há 30 dias o presidente do Senado conseguiu, no Supremo Tribunal Federal, desfazer o seu indiciamento e do seu esposo”, afirmou Renan, iniciando um bate-boca generalizado no plenário. Ao longo do dia, o episódio foi sendo construído pelos envolvidos. Renan teria se irritado com a petista, que, ao lado dele no plenário, mas fora do microfone, estaria criticando o peemedebista com palavras “impublicáveis”, na descrição de aliados do presidente do Senado.
Mas, posteriormente, a preocupação maior de Renan e também de Gleisi era esclarecer o conteúdo da frase, que sugeria uma intervenção do peemedebista no STF, para ajudar a petista. Em nota, Renan justificou que se referia a duas recentes petições protocoladas pela Mesa Diretora do Senado na Corte máxima do Judiciário. “Trata-se de manifestação pública e institucional decorrente da operação de busca e apreensão realizada no imóvel funcional ocupado pela senadora Gleisi Hoffmann e do indiciamento da senadora pela Polícia Federal”, escreveu ele, acrescentando que “reitera a isenção com a qual conduziu todo o processo do impeachment e lamenta as recorrentes provocações em plenário”.
Gleisi também disse à imprensa que acreditava que Renan se referia às petições. “Eu ainda não consegui falar com ele, mas ele já se explicou em nota. Jamais pedi favor a ele ou qualquer interferência no STF”, enfatizou ela, acrescentando que não se arrependia de ter dito que “a Casa não tem moral” para julgar a presidente Dilma. Apesar disso, a senadora evitou contra-atacar o peemedebista. “Uma parte grande dos senadores está respondendo a processos, inclusive eu. Mas está todo mundo nervoso na sessão”, esquivou-se.
Outros petistas criticaram abertamente o presidente do Senado. O senador Lindbergh Farias (RJ) disse que Renan estava “destemperado” e que Gleisi não disse “nada demais”. “A desmoralização do Congresso Nacional é um fato”, comentou ele.
Até aqui, Renan Calheiros tentava adotar uma postura de neutralidade no processo de impeachment, embora nos últimos dias tenha sinalizado proximidade com Michel Temer (PMDB), presidente da República interino. Para petistas, “o suposto magistrado tirou a toga” quando se irritou com a senadora do Paraná, que é uma das mais aguerridas defensoras da presidente Dilma.
No final da tarde de sexta-feira (26), em conversa com jornalistas, o presidente do Senado já demonstrava arrependimento. “Foi uma reação desproporcional. Não é o meu estilo. Estou profundamente chateado. Com certeza mais do que a senadora”, disse ele.
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