A gravação apresentada à imprensa nesta terça-feira por Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa na qual, em uma conversa entre duas pessoas, um homem se faz passar por um policial insatisfeito que teria sido "esquecido" por Cunha e estaria em busca de pagamentos , é "fraudulenta" e retrata uma "encenação", em que os dois homens estariam seguindo um roteiro previamente combinado, "visivelmente planejado".
Segundo o perito Ricardo Molina, que analisou o áudio a pedido do jornal O Globo, é possível afirmar que os dois homens estavam no mesmo ambiente na hora da conversa. O que descarta, portanto, a tese de que estariam falando ao telefone e de que a gravação teria sido obtida por meio de grampo. No laudo técnico, Molina afirmou também que não há traços de hesitação na fala das duas pessoas, o que prova que não houve interação espontânea entre eles.
"Podemos afirmar que se trata de gravação ambiental e não telefônica. A conversação simula, fraudulentamente, uma interação telefônica. A qualidade muito uniforme das duas vozes sugere que os dois interlocutores encontravam-se no mesmo ambiente, tendo sido suas vozes registradas, muito provavelmente, em um dispositivo gravador de telefone móvel. Em conversações, sejam telefônicas ou diretas, há uma série de traços que permitem verificar se se trata de uma interação espontânea ou não. No caso em tela podemos afirmar, com bastante segurança, que não se trata de uma conversação espontânea", disse. Twitter
Eduardo Cunha afirmou a jornalistas que um suposto policial, que teria lhe fornecido a gravação, teria informado que a "armação" estava sendo orquestrada pela cúpula da Polícia Federal, a mando do governo. O deputado alegou estar sendo vítima de uma armação que teria como objetivo constranger sua candidatura à presidência da Câmara. Considerado o favorito na disputa pelo cargo, Cunha já percorreu em campanha as 27 unidades da federação, superando a marca da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB) nas viagens durante a campanha presidencial do ano passado.
Ele contou ter sido procurado no último sábado em seu escritório no Rio de Janeiro por um homem que se apresentou como delegado da Polícia Federal e que teria lhe denunciado uma movimentação interna no órgão para incluir o nome de Cunha em um inquérito em andamento.
No fim do documento produzido por Ricardo Molina, ele afirma que a gravação é fraudulenta e que não pode ser considerada autêntica. "A gravação é fraudulenta, no sentido de tentar simular uma situação inverídica (...). A gravação não pode ser considerada autêntica, no sentido em que retrata apenas uma encenação e não uma interação espontânea."
Pelo Twitter, Cunha negou nesta terça-feira que esteja acusando o governo na denúncia feita aos jornalistas. "Tanto que procurei o próprio governo, no caso o ministro da Justiça, para abertura de investigação policial do fato", disse.
Em quatro tuítes escritos em sequência, o peemedebista explica que apenas relatou a versão que lhe foi passada:
"Boa tarde a todos. Quero deixar bem claro que não acusei o governo de nada na denúncia que fiz. Tanto que procurei o próprio governo,no caso o ministro da Justiça, para abertura de investigação policial do fato. Se tivesse a certeza de que era o governo teria procurado direto o MP e não o governo. O que relatei foi a versão que me passaram, o que não quer dizer que tenha aceito a versão como fato", escreveu.
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