O presidente Michel Temer (PMDB)| Foto: Beto Barata/PR

A morte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki colocou o presidente Michel Temer (PMDB) diante de uma decisão delicada. Para não sofrer desgaste e eventualmente reacender a crise política, o nome escolhido por Temer para a vaga de Teori no STF terá de promover um delicado equilíbrio de interesses: não poderá desagradar ao mesmo tempo à opinião pública, ao mundo jurídico e ao Congresso. Nesse cenário, a aposta mais provável é que o presidente indique alguém com perfil técnico que não tenha se posicionado contra a Operação Lava Jato (nem ostensivamente a favor da operação).

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“A atual conjuntura [para a escolha do novo ministro do STF] é bem peculiar; é potencializada pelo acidente que matou Teori”, diz o cientista político Leon Victor de Queiroz Barbosa, especialista na relação entre o Executivo, Legislativo e Judiciário e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba.

Indicado tem pouca chance de interferir na Lava Jato, mas pode ‘ajudar’ governo de outra forma

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Aliado aposta em nome técnico; assessores do Planalto defendem indicação apartidária

Um dos paranaenses mais influentes na Câmara Federal, o deputado Sergio Souza (PMDB) afirma ter certeza de que o presidente Michel Temer vai escolher um nome técnico para a vaga aberta no STF. Segundo Souza, isso vai ocorrer até mesmo em função do perfil de Temer – que é professor de Direito Constitucional.

A indicação de um jurista com atuação no mundo jurídico e sem envolvimento partidário inclusive tem sido a orientação de assessores presidenciais e conselheiros informais de Temer, segundo reportagem desta segunda-feira (23) da Folha de S. Paulo . Segundo o jornal, a indicação tende a ser por uma pessoa técnica, apartidária e discreta, que seja ministro ou desembargador de algum tribunal superior do país. Dessa forma, informa a reportagem, não haveria resistência no próprio Supremo.

Sem indícios

Segundo Barbosa, embora não haja elementos concretos de que tenha ocorrido um atentado contra Teori, para grande parcela da população paira a suspeita de que o ministro foi assassinado. Por isso a indicação de qualquer nome sobre o qual haja qualquer indício de ser contrário à Lava Jato causaria desgaste a Temer diante da opinião pública e no mundo jurídico. Barbosa afirma que, em função disso, será improvável a escolha de alguém que já se pronunciou contra a operação. “Mas para agradar ao Congresso, também é improvável que seja alguém que tenha dado declarações muito duras contra os políticos e a favor da Lava Jato.”

Segundo o cientista político, o Congresso também pode vir a ser contemplado se o nome escolhido não tiver um perfil de atuação “rigorosa”. E também que seja mais aberto ao diálogo com os políticos. Nesses dois aspectos, é o de Teori, considerado duro nos julgamentos e “isolado”.

Por outro lado, se a escolha recair sobre alguém com perfil técnico – um juiz ou um membro do Ministério Público, por exemplo – vai dissipar eventuais resistências no mundo jurídico e dentro do próprio STF. O nome pode até não agradar, mas não haverá de ser fortemente criticado.

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Confronto evitado

O primeiro sinal de que Temer não pretende se colocar contra a opinião pública e o mundo jurídico foi a promessa de que não vai escolher ninguém antes de o próprio STF definir quem será o novo relator da Lava Jato na Corte. Pelo regimento interno do Supremo, o sucessor de Teori é quem assumiria a relatoria da operação. Mas o regimento abre uma brecha para que a presidente do STF, Cármen Lúcia, sorteie um novo relator dentre os atuais ministros em casos excepcionais.

O cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUCPR, afirma que essa medida de Temer já é suficiente para afastar uma possível suspeita de que ele tentaria interferir na operação. Com essa posição, Temer evitou um primeiro confronto com a opinião pública, associações de magistrados e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que já questionavam a possibilidade de a condução da operação ficar nas mãos de um ministro indicado por alguém que é citado nas investigações – o próprio presidente da República.

Mais pressão

A pressão sobre Temer, porém, não cessa. A Associação dos Juízes Federais (Ajufe) defende publicamente que Temer escolha um magistrado de carreira – tal como era Teori. Alguns grupos de juízes defendem a escolha de Sergio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância. E a Associação dos Juízes para a Democracia foi ainda mais longe ao pedir que o presidente não indique ninguém até que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgue o processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer.

Indicado tem pouca chance de interferir na Lava Jato, mas pode ‘ajudar’ governo de outra forma

Especialistas veem pouca ou nenhuma possibilidade de o novo ministro do STF interferir nos rumos da Lava Jato ou “proteger” os políticos que o indicaram para o cargo. Mas eles apostam que o sucessor de Teori Zavascki pode vir a “defender” o atual governo de forma indireta. O cientista político Leon Victor de Queiroz Barbosa afirma que certamente o indicado por Michel Temer será ideologicamente alinhado com o governo – algo importante num momento de elevada judicialização da política.

Barbosa diz que muito provavelmente o novo ministro terá um perfil mais liberal na economia e talvez até mesmo conservador nos costumes. “Dificilmente será um progressista.” Segundo ele, isso será importante em assuntos como a reforma da Previdência e trabalhista – que, após serem aprovadas pelo governo no Congresso, podem vir a ter pontos questionados no Supremo. O cientista político Mário Sérgio Lepre diz que esse alinhamento ideológico é algo natural. “É o que ocorre nos Estados Unidos, por exemplo.”

Lepre diz ainda não ver qualquer possibilidade de o novo ministro “defender” quem o indicou nas ações da Lava Jato que correm no STF. “Depois que é nomeado para o STF, um ministro se desvincula de quem o indicou. E constrói sua própria biografia.” Barbosa concorda. “Existe no Brasil um sentimento anticorrupção muito forte.” Diante desse contexto, é improvável que alguém no STF se coloque como um defensor dos políticos. “Ele vai começar a pensar: vou passar para a história como alguém que ajudou os políticos ou combateu a corrupção?”

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