A insatisfação da base aliada com o governador Beto Richa (PSDB) no atual mandato é evidente no dia a dia da Assembleia Legislativa. Traduzindo a crise na relação em números, a nota do tucano seria suficiente apenas para passar raspando ao final do ano letivo. Hoje, os governistas dão nota 6,26 ao tratamento que recebem de Richa. Como pano de fundo, estão os reflexos deixados pela greve dos servidores em fevereiro e a falta de dinheiro no caixa para levar obras paras as bases eleitorais dos parlamentares.
Outro lado
Por meio de nota, o governo do estado afirmou que tem dedicado toda a atenção necessária aos deputados estaduais, respeitando a independência entre os poderes. O texto diz ainda que a construção da base política é uma tarefa constante, que exige interlocução frequente. “A base do governo na Assembleia Legislativa tem demonstrado compromisso com as medidas de ajuste fiscal que estão sendo propostas para que as dificuldades impostas pela redução da atividade econômica, e consequente queda de receita, sejam vencidas mais rapidamente”, argumentou o Executivo. “A pesquisa demonstra que há nítida confiança dos deputados nas realizações do governo nos próximos quatro anos.”
Nas últimas semanas, a Gazeta do Povo aplicou um questionário de cinco perguntas aos deputados estaduais – 52 dos 54 aceitaram respondê-lo. As respostas escancararam o clima pesado sentido nas rodinhas de parlamentares em plenário e nas conversas informais com a imprensa. Dentro da base aliada, Richa recebeu duas notas 2, quatro notas 3 e duas notas 4.
Os primeiros 90 dias foram um momento de ajuste. Certamente teremos uma avaliação melhor durante o ano. Considerando as
atuais circunstâncias, seríamos aprovados sem necessidade de exame.
Os sete deputados do partido do governador, o PSDB, por exemplo, deram apenas média 6 para o momento atual da relação com Richa. A nota de um deles foi 3. “Somos igual a passarinho na gaiola: só comemos o que nos dão de comer”, resumiu um tucano.
Segundo ele, o governador dá mais espaço e atenção aos partidos aliados, que estão no governo, do que ao próprio PSDB, que é governo. “Se você vir um deputado do PSDB na tribuna elogiando o Executivo, pode apostar que é miragem”, ironizou um colega de outra legenda.
A cobrança vem também da bancada do PSC, a maior da Casa, com 12 deputados. Um dos parlamentares da sigla defende que o governo debata mais com a Assembleia as políticas públicas, os projetos de lei, os gargalos do estado. Segundo ele, o Executivo tem de ver o Legislativo como outro poder, e não como uma extensão de si próprio.
“O ‘pacotaço’ dos professores foi um exemplo de que é preciso aprender a discutir melhor as coisas. Há uma base ampla, mas tudo tem limite. Chega um momento que desgasta”, criticou. “O governo está sempre correndo atrás do problema. Reúne a base quando a coisa já estourou. Isso é ruim, porque você já vai com o espírito armado, tendo a certeza de que só te chamaram naquele momento porque precisam de você.”
“Melhor está por vir” vira lema para a situação
Se o cenário atual é ruim para o governador Beto Richa (PSDB) dentro da base aliada, a aposta é que a situação vai melhorar ao longo do mandato. A maioria dos governistas confia na já famosa frase do tucano de que “o melhor está por vir” nestes quatros anos.
Leia a matéria completaAs divergências no âmbito legislativo se estendem à inércia na liberação de obras e recursos para as bases eleitorais dos deputados. De acordo com o questionário, quase 52% dos parlamentares – incluindo os de oposição – não têm tido os pedidos atendidos pelo governo.
Cerca de 28% disseram que o atendimento tem ocorrido apenas parcialmente. No PSDB, apenas um entre os sete deputados respondeu que o dinheiro tem chegado aos municípios que o elegeram.
Romanelli se “multiplica” para conter rebeldes
Pelo menos três momentos no último mês expuseram as farpas entre o governo do estado e a base aliada na Assembleia Legislativa. Durante a votação em plenário do programa que criou a Nota Fiscal Paranaense, Felipe Francischini (SD) declarou voto favorável a uma emenda que tiraria milhões de reais da arrecadação do estado.
Leia a matéria completaA promessa do Executivo é que as torneiras voltarão a ser abertas a partir deste mês, com a entrada de recursos fruto do aumento do IPVA e do ICMS.
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