Para Gurgel, críticas são feitas por réus do mensalão
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, atribuiu a réus do mensalão ou a pessoas que já foram alvos de investigação do Ministério Público as críticas que têm sido feitas a ele pela condução das investigações contra o contraventor Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
"Eu tenho dito que são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão", afirmou. "É compreensível que pessoas ligadas a mensaleiros queiram atacar o procurador-geral da República", acrescentou. "Eu acho que, se não réus, protetores de réus do mensalão estão como mentores (das críticas)", disse.
Gurgel não quis nominar quem estaria por trás das críticas que têm sido feitas a ele. Disse apenas, ao ser questionado se seria o ex-ministro José Dirceu, que é "notório quem está por trás das críticas". Gurgel disse ainda que as críticas têm como objetivo impedir as investigações do Ministério Público e imobilizar o procurador-geral da República. (Agência Estado)
O senador Fernando Collor (PTB-AL) afirmou, durante a sessão secreta realizada na terça-feira (8) na CPI do Cachoeira, que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tem pedido ajuda, nos bastidores políticos, para não prestar depoimento à CPI.
Segundo o senador, Gurgel também é responsável por "uma espécie de ameaça velada" aos membros da CPI, pois estaria espalhando a informação de que outros casos envolvendo políticos poderão vir à tona na esteira do escândalo Cachoeira.
A reportagem teve acesso à íntegra de um áudio que registra o depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Souza, coordenador da Operação Vegas, desenvolvida entre 2008 e 2009 e paralisada após chegar ao gabinete de Gurgel. O depoimento foi tomado em sessão secreta. A sessão foi aberta apenas aos membros da CPI e um técnico de cada gabinete.
Collor é um dos principais críticos de Gurgel na CPI e insiste, desde o início dos trabalhos na comissão, que Gurgel seja convocado a depor para que esclareça por que nada fez após receber, em 2009, os autos da Operação Vegas que já apontavam indícios da participação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com o grupo liderado por Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Após 2h12min de depoimento do delegado, Collor comentou uma visita que o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o relator, Odair Cunha (PT-MG), fizeram a Gurgel para sondá-lo a respeito de um depoimento na comissão. Gurgel se recusou a comparecer.
Segundo Collor, após a audiência Gurgel passou a se movimentar nos bastidores políticos para tentar reverter a sua convocação.
"Esses contatos externos precisam ser melhor informados aos membros integrantes desta comissão para que nós saibamos as coisas como estão acontecendo aí fora. Depois desse contato que Vossa Excelência teve, em conjunto com o relator desta comissão, o senhor procurador-geral começou a fazer algumas visitas. Recebeu visitas de parlamentares e senadores, companheiros nossos, em que, em tese, ele apresentou justificativas --em tese, eu digo, é o que se comenta-- do porquê não comparecer à CPI, como que pedindo auxílio: 'Me ajudem para que eu não lá esteja, eu não lá vá'. E depois desses encontros ele também soltou umas notícias, em algumas colunas, falando sobre casos fortuitos, que nos pareceu, uma espécie de ameaça velada no sentido de 'se eu eu for para lá, esses casos fortuitos serão revelados e irão incriminar outras pessoas", disse Collor.
Após o depoimento do delegado, ganhou força na CPI a proposta de convocar o procurador. Segundo o delegado, a investigação da Vegas foi paralisada após ser remetida ao conhecimento de Gurgel. A decisão, segundo o delegado, foi informada pela mulher de Gurgel, a subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio.
Outro lado
A assessoria de imprensa da Procuradoria-Geral da República afirmou que "há um sentimento geral no Ministério Públiuco Federal de que há uma tentativa de fragilizar o papel do procurador-geral por conta do julgamento do mensalão". A assessoria confirmou que Gurgel manteve reuniões com parlamentares membros da CPI, mas "nada foi reservado, a imprensa noticiou".
Negou que Gurgel tenha "pedido auxílio" aos parlamentares. Segundo a assessoria, Gurgel procurou mostrar impedimentos jurídicos para o seu depoimento. Segundo a versão sustentada pela Procuradoria, Gurgel poderia ter que deixar o inquérito que trata de Demóstenes caso manifestasse opinião à CPI.
O bloco de parlamentares que defende a convocação de Gurgel diz que ele não será questionado sobre detalhes da investigação, mas o motivo pelo qual deixou a investigação paralisada por quase três anos.
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