Dilma Rousseff (PT) e o povo brasileiro estavam em lua de mel em 2011, no início do primeiro mandato da presidente da República. As notícias negativas eram recorrentes, como as que envolveram seis ministros em esquemas de corrupção. Mas a petista os demitiu, e a “faxina” agradou a população. Com a ajudinha da economia em expansão, a aprovação popular batia recordes: 56% de avaliação ótimo ou bom, segundo pesquisa CNI/Ibope. Mas essa euforia passava longe do Congresso Nacional.
IMPEACHMENT: Leia todas as notícias sobre o impeachment de Dilma
A grande falha de Dilma, que é a falta de articulação, era evidente desde o início. O estilo de Dilma governar não agradou aos parlamentares, e esse recado foi repassado em várias ocasiões. Mas não resultaram em mudança efetiva, e o distanciamento foi ficando cada vez maior, culminando com a aprovação do pedido de impeachment.
Da tranquilidade com Marco Maia à fogueira com Eduardo Cunha
Leia a matéria completaAs contas públicas, manipuladas em diversas frentes pela gestão de Dilma, já estavam desestabilizadas no governo de Lula. Ele deixou como “herança” R$ 57,1 bilhões em restos a pagar. Tanto que uma das primeiras medidas da presidente foi decretar contingenciamento de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2011. Isso afetou em cheio as emendas parlamentares, prejudicando as ações dos deputados em suas bases.
O resultado desse afastamento meu do Legislativo brasileiro redundou no meu impeachment.
Na tentativa de facilitar as negociações políticas, Dilma nomeou a ex-senadora Ideli Salvatti para a Secretaria de Relações Institucionais. Os deputados não aprovaram a escolha, e reclamaram que Ideli privilegiava senadores. Ela, porém, permaneceu no cargo até 2014.
Ainda em 2011, o descontentamento dos deputados com a presidente elevou-se, após a “faxina” nos ministérios, de maio a dezembro. Com o troca-troca nos comandos dos órgãos, muitos perderam a chance de indicar cargos de segundo e terceiro escalão no Executivo. Até o PT, em seu 4.º Congresso, se mostrou incomodado com as mudanças promovidas por Dilma, atribuindo à oposição e à mídia conservadora “manobras” para a “criminalização” da base aliada.
A insatisfação atingia todos os partidos da base, principalmente o PMDB. Michel Temer era constantemente acionado para apagar incêndios políticos, despertando desde aquela época o temor de que ele tivesse um protagonismo maior que o de Dilma. Para minimizar as rusgas e “selar” a união, Ideli, integrantes do PT e do PMDB promoveram um evento com direito a bolo de casamento, com bonequinhos de Dilma e Temer.
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A presidente não aprendeu nada de negociação com Temer, e as derrotas no Legislativo eram recorrentes. A primeira delas foi a votação do Código Florestal, em que a bancada ruralista se impôs. Em 2012, Dilma vetou alguns dispositivos que foram aprovados pelos deputados, despertando uma oposição que só se fortaleceu com o passar do tempo. Nas eleições de 2014, os ruralistas ganharam a companhia de outros setores articulados, e Dilma teve que encarar uma Câmara mais conservadora. A bancada BBB – boi, bala e Bíblia – se opôs a várias iniciativas defendidas pelo PT e por Dilma.
Profético
Mas, bem antes disso, a inépcia de Dilma na articulação política despertava preocupação. Em março de 2012, o senador e ex-presidente Fernando Collor sugeriu à presidente que ampliasse o diálogo com os parlamentares. “Digo isso com a experiência de quem, exercendo a Presidência da República, desconheceu a importância fundamental do Senado e da Câmara dos Deputados para o processo democrático e de governabilidade. O resultado desse afastamento meu do Legislativo brasileiro redundou no meu impeachment”, disse o senador.
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