Professores liberam Assembleia, mas continuam parados
Os professores e servidores da rede estadual do Paraná, que há três dias ocupavam a Assembleia Legislativa, decidiram deixar o prédio no fim da tarde de ontem.
A deliberação foi tomada depois o governo comunicou que vai retirar o "pacotaço" que propunha medidas de austeridade que impactava sobre os servidores. Apesar da desocupação, a categoria permanece em greve por tempo indeterminado.
Os servidores da educação começaram a sair do prédio por volta das 17 horas. Parte deles vai permanecer acampada em frente à Assembleia, ao longo de todo o carnaval. Entre os professores, a sensação era de vitória.
"Apesar das bombas e de a polícia ter soltado os cachorros contra os professores, a retirada do projeto é um feito histórico", definiu, quase sem voz, Luiz Fernando Rodrigues, diretor de comunicação da APP-Sindicato.
Felippe Aníbal
A tentativa de aprovar a toque de caixa os projetos do "pacotaço" trouxe alto custo político para o governador Beto Richa (PSDB). Para tentar aprovar as propostas, o governador acabou entrando em uma queda de braço com os professores e funcionários públicos em geral (que ele perdeu) e também perdeu apoio em sua base na Assembleia Legislativa. Especialistas dizem que houve falta de tato na condução dos projetos.
Durante os oito dias em que o projeto tramitou na Assembleia, desde quarta passada, o governo perdeu apoio de parte significativa de sua base no Legislativo. Formalmente, 48 dos 54 parlamentares integram a bancada de apoio a Richa. No entanto, nos requerimentos para criação da comissão geral (que serviram como medida do poder de fogo do governo) somente 34 deputados votaram a favor da proposta de Richa.
Os parlamentares também reclamaram de pressão e de retaliação do Palácio Iguaçu. O deputado Adelino Ribeiro (PSL) foi à tribuna dizer na quarta-feira que se sentiu pressionado a votar, pois teria ouvido que só assim conseguiria um ônibus para prestar serviços de saúde em Alto Piquiri. Ontem, também circulavam boatos de que comissionados indicados a pedido de deputados para cargos no Executivo estariam sendo exonerados, como "punição" para quem se posicionou contra o governo.
Chefe da Casa Civil, o secretário Eduardo Sciarra (PSD) nega que tenha havido retaliação ou pressão. E diz que o governo não precisa de 48 deputados para aprovar um projeto. "Temos uma maioria confortável", disse. Quanto ao desgaste com deputados que se sentiram amedrontados com a reação popular durante a votação do projeto (eles disseram temer por sua integridade física), Sciarra nega que Richa tenha forçado a votação. "Os deputados não votaram por uma ordem do governador. Votaram porque estavam convencidos de que os projetos são bons", disse. Apesar disso, ontem ouviam-se várias reclamações de deputados da base contra Richa.
Sem diálogo
A falta de diálogo marcou a tentativa de votação. O governo forçou a criação de uma comissão geral, que apressa o trâmite -- a ideia era aprovar tudo em menos de uma semana. "Negociar faz parte do processo de interesses. Não se pode enfiar um projeto goela abaixo", diz a cientista política Luciana Veiga, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Na mesma linha segue o cientista político Ricardo Oliveira, também da UFPR. "Tentar fazer a sessão ontem, a toque de caixa, foi uma irresponsabilidade. Entrar no espaço da Assembleia Legislativa no interior de um camburão desmoraliza qualquer parlamentar. Um projeto desses precisa de diálogo e os dois lados precisam ceder", analisa. Ele ainda classifica a pressa em aprovar o "pacotaço" como um exemplo de "inabilidade política".
O especialista em administração pública Dênis Alcides Rezende afirma que, como Richa não poderá ser reeleito para o cargo, é natural que o governador tente aprovar projetos impopulares. "O atual governador, avalizado pelas urnas e ciente que não poderá ser reeleito, se sentiu confortável para agir dessa forma. O espaço até a próxima eleição é muito grande", afirma.
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