Os investigadores da Lava Jato afirmam que a propina com origem em uma obra da Petrobras no Rio financiou uma escola de samba, blog e familiares do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira.
O petista, que está preso desde a semana passada por causa da Operação Custo Brasil, é o principal alvo da 31ª fase da operação, batizada de Abismo e deflagrada nesta segunda-feira (4).
A informação sobre o destino do dinheiro pago, de acordo com a investigação, partiu do acordo de colaboração premiada do ex-vereador Alexandre Romano, que chegou a ser detido na Lava Jato no ano passado.
Nova fase da Lava Jato apura fraude em licitações para centros da Petrobras
Leia a matéria completaEle afirmou que intermediou propina para Ferreira e que, para isso, usou suas empresas, a Oliveira Romano Sociedade de Advogados, a Link Consultoria Empresarial e a Avant Investimentos e Participações. Ainda segundo o delator, o dinheiro, estimado em R$ 1 milhão, veio de construtoras integrantes do consórcio Novo Cenpes, como a OAS e Carioca Engenharia. Romano afirmou que simulou contratos.
Entre os destinatários dos repasses a pedido de Ferreira é a Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, uma escola de samba de Porto Alegre, e a madrinha da bateria Viviane da Silva Rodrigues.
Foram identificados pagamentos de R$ 45 mil à agremiação e diversos repasses a Viviane.
“A escola de samba era vinculada a ele [Ferreira]. Esses pagamentos foram indicados a Alexandre Romano”, disse em entrevista coletiva o procurador da República Roberson Pozzobon.
“Ele buscava apoio político nas mais variadas frentes”, comentou o procurador. “Não eram pagamentos que revertiam às contas do partido exclusivamente, mas havia benefícios pessoais.” Parentes e empresas ligadas ao ex-tesoureiro também receberam parte das transferências.
Esquema
Nesta fase da Lava jato, denominada “Abismo”, foi identificado o pagamento de R$ 39 milhões em propina entre 2007 e 2012 –sendo que R$ 1 milhão teria beneficiado diretamente Paulo Ferreira.
Os valores viriam de um esquema de fraude em licitação para reforma do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), na Ilha do Fundão, zona norte do Rio de Janeiro.
As investigações, corroboradas pelo acordo de leniência e acordos de colaboração com a empresa Carioca Engenharia e seus executivos, indicaram a formação de um cartel na disputa por três obras da Petrobras em 2007: uma sede administrativa em Vitória, o CIPD (Centro Integrado de Processamento de Dados), no Rio, e o Cenpes.
Além da Carioca Engenharia, a OAS, a Construbase, a Construcap e a Schahin Engenharia ficaram com a última obra pelo Consórcio Novo Cenpes.
De acordo com o Ministério Público Federal, a construtora WTorre, que não havia participado dos ajustes, apresentou proposta de preço inferior. As empresas, então, teriam pagado R$ 18 milhões para que a empreiteira saísse do certame, permitindo que o consórcio renegociasse o preço com a Petrobras.
O contrato foi fechado em cerca de R$ 850 milhões.
Além dos ajustes e fraude na licitação, houve pagamento de propina a funcionários da diretoria de Serviços da Petrobras e a Paulo Ferreira.
Foram identificados pagamentos ilícitos a diversos operadores, sendo: R$ 16 milhões ao empresário Adir Assad, condenado na Lava Jato, investigado em CPI sobre o bicheiro Carlos Cachoeira e denunciado sob suspeita de lavagem em obra do governo de São Paulo; R$ 3 milhões para Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, delatores na operação e ligados à empreiteira OAS; US$ 711 mil para Mario Goes, também delator; e R$ 1 milhão para Alexandre Romano, ex-vereador do PT cuja delação baseou a Operação Custo Brasil.
Na colaboração, dirigentes Carioca Engenharia reconheceram a fraude à licitação e o pagamentos de propinas, o que foi reforçado com a identificação de contratos fictícios e transferências bancárias pelos investigadores.
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, afirmou que a obra ganhada pelo consórcio rendeu propinas de 2% do valor do contrato. Segundo ele, os recursos também foram destinados ao ex-diretor da estatal Renato Duque e a agentes do PT.
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