Denúncias em série
O "inferno astral" de José Sarney começou logo após ele ser eleito pela terceira vez para a presidência do Senado.
BRASÍLIA - Em mais um dia tenso no Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), emparedou ontem o PT e ameaçou renunciar ao cargo diante da pressão de senadores petistas, que haviam pedido pela manhã que ele se licenciasse da presidência por 30 dias para responder às acusações que pesam contra seus parentes e aliados. Diante da possibilidade de renúncia de Sarney, que deixaria o comando do Senado temporariamente nas mãos do PSDB e que complicaria ainda mais a aliança com o PMDB, o PT à noite atenuou a cobrança pelo afastamento de Sarney.
Se o presidente da Casa renunciar, quem assume é o primeiro vice-presidente do Senado, o senador Marconi Perillo (PSDB-GO). Ele ficaria no cargo 30 dias e depois teria de convocar novas eleições para presidente da Casa.
O recuo do PT ocorreu após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusar o PSDB de querer ganhar o Senado "no tapetão". Lula, que estava na Líbia, para a Cúpula da União Africana, demonstrou irritação sobre o tema e afirmou que a saída do atual mandatário do Senado não traria benefícios às instituições.
"O DEM e PSDB querem que o Sarney se afaste para o Marconi Perillo (senador pelo PSDB-GO e primeiro vice-presidente da Casa) assumir, o que não é nenhuma vantagem para ninguém", disse Lula. "A única vantagem é para o Marconi Perillo e para o PSDB, que querem ganhar o Senado no tapetão. Assim não é possível. Isso não faz parte do jogo democrático."
Lula escalou o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), para defender Sarney junto aos senadores da legenda. Berzoini considerou precipitada a divulgação do pedido de licença pelo partido, tendo em vista que a bancada não oficializou a decisão.
Berzoini disse que pessoalmente é contrário ao afastamento de Sarney porque a crise não pode ser personificada.
As declarações de Lula e a pressão de Berzoini surtiram efeito e os senadores petistas, logo depois, atenuaram as críticas feitas pela manhã. "A renúncia não está no âmbito das possibilidades. Não parece uma solução adequada. A crise do Senado não pode ser debitada na conta de Sarney", disse o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP).
Mercadante disse ainda que a bancada petista pretende se encontrar hoje com o presidente Lula para discutir a crise no Senado. Quem também deve se encontrar hoje com Lula é o próprio José Sarney. Ontem, o presidente do Senado avisou que só decidirá sobre sua permanência ou não no comando da Casa depois de uma conversa reservada com Lula.
Sarney pretende mostrar a Lula que, se não tiver apoio e não lhe restar alternativa a não ser a renúncia, seria deflagrado um processo sucessório fratricida na Casa que abalaria a aliança PT-PMDB em 2010. A cúpula do PMDB no Senado insiste em manter Sarney na cadeira de presidente, com o argumento de que o fundamental para isto é o apoio do presidente da República e do governo, com os quais ele vem contando.
Reação tucana
O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), classificou ontem, em declaração divulgada por sua assessoria, como uma "profunda injustiça" as críticas do presidente Lula ao PSDB, que, nas palavras do presidente, estaria tentando ganhar o Senado "no tapetão".
"O presidente Lula devia saber que estamos fazendo todo o esforço possível para encontrar uma solução para o Senado", afirmou Guerra, na nota. Sérgio Guerra explicou que, caso Sarney decida renunciar ao cargo, o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), que ocupa a vice-presidência, ficaria apenas 30 dias no cargo. Nesse período, caberia a Perillo, caso a hipótese da renúncia fosse confirmada, convocar eleição para a sucessão de Sarney. "Não é plausível sua afirmação", disse Guerra. E completou: "Um presidente da República não pode viver em cima de um palanque eternamente. Sua afirmação não tem cabimento".