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Atualizado em 10/05/2006 às 19h04

Num depoimento contraditório e reticente, o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira esquivou-se nesta quarta-feira de confirmar as novas denúncias sobre o valerioduto que fez em entrevista ao jornal "O Globo", publicada no último domingo. Chegou a dizer que poderia estar delirando quando deu entrevista à repórter Soraya Aggege, do 'Globo'.

- O senhor já teve algum momento de fantasia e delírio, ou foi a primeira vez? -perguntou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

- Infelizmente não foi a primeira vez.

Aos senadores da CPI dos Bingos, num depoimento de seis horas e meia, o ex-dirigente do PT disse que não se lembra das declarações que reacenderam a crise política e que têm vivido dias de reclusão, devido à forte emoção provocada pela série de escândalos do ano passado.

- Não sei mais onde está a verdade nessa entrevista, o que é verdadeiro, o que não é - disse ele, que, por orientação de seu advogado, recusou-se a assinar o termo de compromisso para falar a verdade na CPI dos Bingos.

O ex-dirigente fez questão de dizer que a repórter giu com correção e em momento algum disse que ela mentiu:

- Eu confio e conheço a Soraya, e por isso a deixei entrar na minha casa para a entrevista. Neste momento, eu só não tenho condições de aferir se o teor do que disse na entrevista é verdadeiro ou não.

Perguntado se se arrependia das declarações, respondeu:

- Não sei se me arrependi ou não, não sei. Não quero fazer nenhuma confirmação que seja leviana - afirmou ele.

Por mais de uma vez, Silvio Pereira disse não ter lido a reportagem, mas caiu em contradição ao dizer em determinado momento que muito do que falou à repórter não foi publicado. O presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PMDB-PB), chamou atenção para a contradição e Silvio Pereira se defendeu dizendo que soube do que foi publicado por amigos.

- Vossa senhoria me permita, está querendo fazer a gente de besta - repreendeu o presidente da CPI, que mais tarde leu a reportagem durante a sessão. Silvio Pereira ainda se contradisse quando falou que não teve qualquer contato com Waldomiro Diniz, quando este era presidente da Loterj. No momento em que Álvaro Dias (PSDB-PR) declarou que tinha os registros das ligações feitas pelo ex-secretário-geral do PT a Waldomiro, Silvio Pereira voltou atrás e revelou que conversou com ele sim, mas porque já era o final de seu mandato na Loterj.

Silvio afirmara na entrevista que o esquema de Marcos Valério pretendia arrecadar R$1 bilhão no governo petista e que quem mandava no PT era presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-deputado e ex-ministro José Dirceu, o então presidente do partido, José Genoino, e o senador Aloizio Mercadanate.

Aos senadores, Silvio Pereira confirmou que eram eles os grandes líderes do PT. Silvinho não disse, no entanto, se eles comandariam o esquema de compra de votos de deputados da base aliada.

- Eles eram a grande liderança dentro do PT. Eu não sentava nesta mesa - disse Silvio Pereira, esclarecendo que, neste momento da entrevista ao jornal "O Globo", ele tentava explicar à jornalista a trajetória do partido.

O ex-dirigente petista negou já ter recebido do presidente Lula qualquer orientação indevida sobre as arrecadações do partido.

- Nem hoje, nem na época em que era o dirigente do PT. Eu nunca recebi dele qualquer orientação indevida - disse.

Sobre a informação de que "nunca foi ouvido pelo PT e que o partido não queria lhe ouvir", Silvinho explicou que ligou para o então secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, que assumira seu cargo, e se colocou à disposição do partido, logo depois que se licenciou:

- Ele disse que eu precisava cuidar da minha vida, me reconstruir. Foi uma conversa por telefone e nunca mais voltei a falar com Berzoini.

O ex-secretário do PT disse que foi depor por determinação judicial, mas que queria estar longe de "qualquer coisa que cheirasse a política".

Silvio também disse não lembrar que tenha dito que iriam matá-lo, após conceder a entrevista.

- Eu não lembro de ter dito que vão me matar. Isso eu não conversei com as pessoas da política. Eu não lembro de ter dito esta palavra.

Ao ser perguntado se teme pela sua vida, sua resposta foi:

- Eu tenho medo de mim mesmo.

Em vários momentos, o ex-dirigente se negou a comentar as informações sobre o empresário Marcos Valério publicadas na reportagem. Ao ser perguntado pelo senador Agripino Maia (PFL-RN) o que queria dizer ao declarar que "atrás do Marcos Valério deve haver cem Marcos Valérios", o ex-dirigente petista defendeu o empresário:

- A questão é uma injustiça da minha parte com ele. Marcos Valério está virando sinônimo de corrupção. Eu, pessoalmente, não tenho esta visão ruim do Marcos Valério. Ele não teve este papel de destaque, de alguém que queira se aproveitar, como estão dizendo.

Silvio Pereira afirmou também que deve ter cometido erros e que pagará por eles caso sejam confirmados. Silvio Pereira insistiu que não "tem discernimento" para confirmar ou negar acusações feitas por ele.

- Hoje está tudo muito confuso. Evidente que erros eu devo ter cometido e outros devem ter cometido. Nós estamos sendo todos julgados, processados. Se errei, pagarei por isto. Se os outros erraram devem também pagar por isso. Seja qual for o erro: pequeno, grande ou máximo - disse ele à senadora Heloísa Helena, do PSOL, sobre se as declarações feitas ao jornal eram verdadeiras.

Uma junta médica do Senado foi chamada pelo presidente da CPI e ficou à disposição durante o depoimento. Como a defesa não apresentou novo pedido ao Supremo Tribunal Federal, como era previsto, Silvinho prestou depoimento sem a proteção de hábeas-corpus. No início do depoimento, porém, o presidente da CPI disse que ele poderia falar o que quisesse e não responder a perguntas dos parlamentares. Como Silvinho não assinou o termo de compromisso de dizer a verdade, não poderia ser preso caso a CPI entendesse que estava mentindo.

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