O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de operar o suposto mensalão do PT, procurou na quinta-feira o Ministério Público Federal para dizer que está disposto a revelar o que sabe em troca do benefício legal da delação premiada. Esse instituto prevê redução de pena para pessoas envolvidas em crimes que colaboram com a Justiça. Marcos Valério também fez novas revelações, que podem agravar a crise política.
O procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, que tomou o depoimento de Valério, não quis revelar o conteúdo das declarações. O depoimento durou cerca de duas horas. Na conversa, o empresário teria dado informações sobre seu relacionamento com petistas e também com políticos da oposição. O empresário teria dito ao procurador-geral que tem informações sobre todas as operações que fez com políticos do PT, do PSDB e do PMDB desde o governo passado.
O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, confirmou que o cliente fez novas revelações. O advogado também não quis revelar o teor do depoimento nem detalhou o tipo de proteção solicitada por Marcos Valério. Apenas confirmou que partiu do empresário a iniciativa de procurar o Ministério Público.
- Na minha interpretação não há nada de bombástico. Não sei se tem para vocês (da imprensa) - disse o procurador Antônio Fernando.
O procurador-geral disse que é cedo para atender ao pedido de delação premiada feito por Valério.
- Estou achando prematuro - disse o procurador-geral.
Segundo Antônio Fernando, Marcos Valério procurou explicar as operações de suas empresas de publicidade que estão no centro das denúncias de corrupção.
SigiloO encontro de Marcos Valério com o procurador-geral foi cercado de sigilo e informações desencontradas. A assessoria de imprensa da Procuradoria Geral divulgou que o empresário depôs durante menos de duas horas, tendo chegado por volta das 15h. O advogado Marcelo Leonardo, porém, acompanhou Marcos Valério e disse que o depoimento durou das 11h às 18h30m. Segundo ele, os dois deixaram Brasília na quinta-feira à noite e às 21h já estavam em Belo Horizonte.
Na última segunda-feira, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares esteve em Belo Horizonte para contatos com Marcos Valério. Segundo integrantes do PT, a conversa foi tensa. Valério teria chantageado o amigo Delúbio, ameaçando contar tudo o que sabe, tudo o que fez, em nome de quem e a mando de quem. Disse que sua vida pessoal está um inferno e que enfrenta problemas familiares. Delúbio deixou Belo Horizonte apavorado, segundo relato de pessoas que estiveram com ele.
Desde que estourou a crise política com denúncias de mensalão, Delúbio tem mantido contatos sigilosos com o empresário mineiro. Vários desses encontros foram por intermédio de amigos comuns. Mas na última segunda-feira Delúbio teve que se deslocar pessoalmente com a missão de acalmar Marcos Valério, que estaria ameaçando quebrar o pacto de silêncio mantido até agora com Delúbio.
AvalistaValério foi avalista de dois empréstimos do PT nos bancos Rural e BMG, no total de R$ 5,4 milhões. A revelação provocou a queda não só de Delúbio como também de José Genoino da presidência do partido. Na quarta-feira, o jornal 'O Globo' revelou que, ao depor na Polícia Federal, Delúbio admitiu que Valério também intermediava encontros de dirigentes do PT com empresários.
Na quinta-feira, pelo segundo dia consecutivo, o líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), cobrou da tribuna da Câmara explicações sobre o encontro secreto entre Delúbio e Valério na última segunda-feira.
- Quero saber o que faziam Valério e Delúbio juntos nesta segunda-feira. O PT não respondeu aos meus questionamentos. Não estou entendendo este silêncio - provocou Rodrigo Maia, da tribuna.
No PT, ninguém quis responder:
- Não sei o que o Delúbio foi fazer em Belo Horizonte. Pergunta para ele! - desconversou o líder da bancada petista, deputado Paulo Rocha (PA).
O fato pegou de surpresa vários petistas. Isso porque durante a reunião do diretório nacional do PT, no último fim de semana, Delúbio não comunicou que estaria viajando para Belo Horizonte. Pouquíssimos petistas sabiam da arriscada missão do ex-tesoureiro.
- Ele não contou na reunião do diretório que estava viajando para Belo Horizonte - espantou-se o ex-deputado Ricardo Zaratini (PT-SP).
Quem esteve com Delúbio depois da viagem dele a Belo Horizonte espantou-se com a proposta que Marcos Valério teria feito ao petista. Segundo contou Delúbio a interlocutores, Valério quer concluir uma operação com o Banco Central que não teve sucesso até o momento: que o Banco Mercantil de Pernambuco, que está em processo de liquidação pelo Banco Central, seja vendido para o Banco Rural.
Atualmente, o Rural detém 22% do capital do Banco Mercantil de Pernambuco e queria fazer um acordo para adquirir o restante. Em 2003, Valério chegou a visitar o Banco Central com José Augusto Dumont, do Banco Rural, morto em 2004.
No encontro com Delúbio, o publicitário mineiro se queixou de que foi abandonado por todos que eram seus amigos, que tem sido muito pressionado por denúncias e sugeriu que não poderia mais assumir tudo sozinho.
Procurados na quinta-feira, Delúbio e Marcos Valério não retornaram à ligação.
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