Cada uma das 19 crianças acolhidas no abrigo Osicorma (Obras Sociais do Imaculado Coração de Maria), em Guajará-Mirim (RO), teria uma história triste para contar. Mas estão ali exatamente para esquecer o passado de maus-tratos e violência sexual. O que as une agora são os cuidados da mulher à qual aprenderam a chamar de mãezinha. A baiana Mariazinha Almeida Santos, de 69 anos, é uma dessas pessoas que nasceram para mudar a história de crianças como elas.
Depois de perder nove filhos e criar os 13 filhos que vingaram, Mariazinha largou a vida tranqüila de aposentada da Petrobrás, em Salvador, para dedicar-se ao abrigo criado pela também aposentada Valderina Marques de Sá, morta há um ano.
Ela foi convidada a tocar a rotina da casa há pouco mais de dois anos, durante uma visita à filha, que mora na cidade. Relutou, mas aceitou ficar longe dos 37 netos e oito bisnetos para cuidar das crianças do abrigo. Quando chegou, só havia duas crianças. Hoje são 19, com idades entre seis meses e 14 anos.
É Mariazinha quem acorda de madrugada para preparar a mamadeira do caçula e trocar sua fralda. Também participa das reuniões de classe nos três colégios em que as crianças estudam e aplica os castigos quando necessário. "Ela é a coluna vertebral do abrigo", diz a contadora Mary do Rosário Sanchez Richter, uma das seis diretoras voluntárias do Osicorma. Mariazinha cuida das crianças e ainda faz biscoitos que são vendidos para ajudar no orçamento do abrigo, mantido apenas com doações.
Mariazinha trata a todos como filhos. Na hora de preparar a refeição, sabe o gosto de cada um e conhece cada peça de roupa. Com a ajuda da filha, de 44 anos, acorda todos os dias às 5 horas para prepara o café dos que vão para a escola. Por todo esse trabalho, ganha um salário simbólico. Para ela, a recompensa maior é ser chamada de mãezinha pelas crianças.
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