Egípcios em Curitiba apostam na transição democrática
Enquanto o Egito se convulsiona diante dos protestos e manifestações que exigem a saída do presidente Hosni Mubarak do poder, dois egípcios naturalizados brasileiros olham com apreensão e esperança para o desdobramento dos movimentos populares em sua terra natal. Samy Aziz e Yasser Mohamed moram agora em Curitiba, mas nem por isso deixam de acompanhar, ansiosos, os acontecimentos que desenham este inédito momento político na história egípcia
Repórteres brasileiros são detidos e vendados no Egito
Enviados para o Egito para a cobertura da crise política no país, o repórter Corban Costa, da Rádio Nacional, e o repórter cinematográfico Gilvan Rocha, da TV Brasil, foram detidos, vendados e tiveram passaportes e equipamentos apreendidos. Desde ontem (2) à noite até esta manhã, Corban e Gilvan ficaram sem água, presos em uma sala sem janelas e com apenas duas cadeiras e uma mesa, em uma delegacia do Cairo.
- Egípcios em Curitiba apostam na transição democrática
- EUA dizem que hora da mudança chegou para Egito
- Partidários de presidente egípcio atacam manifestantes
- Irã acusa EUA de tentativa de interferência no Egito
- Netanyahu acusa Irã de querer "outra Gaza" no Egito
- Governo do Egito rejeita "transição imediata de poder"
- ElBaradei diz que anúncio de Mubarak é "fraude"
- Ataque contra manifestantes no Egito é inaceitável
- Parlamento egípcio é suspenso para revisão de eleições
- Presidente do Iêmen diz que não buscará reeleição
- Confrontos deixam três mortos e mais de 1.500 feridos no Cairo, diz governo do Egito
Confrontos violentos ocorreram na região central do Cairo na quinta-feira, enquanto simpatizantes armados do governo brigavam com os manifestantes pró-democracia que exigem a saída do presidente do Egito, Hosni Mubarak.
Ao menos 10 pessoas morreram, segundo os médicos, depois que atiradores e seguidores de Mubarak atacaram os manifestantes acampados pelo décimo dia na praça Tahrir para pedir que o líder de 82 anos encerre imediatamente seu governo de 30 anos.
O médico Sayyid Hussein disse que a clínica provisória montada do lado de fora de uma mesquita perto da praça registrou 10 mortes.
"Uma hora e meia atrás duas pessoas vieram até mim com ferimentos a bala na cabeça. Elas estavam respirando com dificuldade e morreram. Um terceiro caso, muito mais grave, aconteceu em seguida, e a pessoa foi levada ao hospital numa ambulância", afirmou outro médico, Yasser Tibi.
O Ministério da Saúde informou mais cedo que seis pessoas haviam morrido e mais de 800 ficaram feridas nos confrontos.
Nas proximidades do Museu Egípcio, que abriga itens de 7 mil anos, os homens se confrontavam com pedras, cassetetes e escudos improvisados, enquanto os tanques de fabricação norte-americana do Exército de Mubarak faziam tentativas ocasionais de separá-los.
Longe dos holofotes da mídia global, voltados agora para a praça Tahrir, ocorria uma batalha política que terá implicações sobre todo o Oriente Médio e o seu petróleo. Líderes europeus juntaram-se aos Estados Unidos para pedir que seu antigo aliado árabe comece a transferir o poder para outras mãos.
O governo do país, recém-nomeado numa reforma que não conseguiu acalmar os manifestantes, mantinha-se pela insistência do presidente, que na terça-feira disse que não vai concorrer a um sexto mandato em setembro. Mubarak continua a se dizer um baluarte contra a anarquia e a tomada do poder por radicais islâmicos.
Foi oferecido a Mubarak a chance de negociar, e a TV estatal afirmou nesta quinta-feira que seu recém-nomeado vice-presidente, Omar Suleiman, conversou com grupos não especificados.
Um porta-voz do novo gabinete, nomeado por Mubarak nesta semana numa tentativa vã de acalmar os protestos, negou estar envolvido na violência e informou que investigará o caso.
O ministro da Saúde do Egito, Ahmed Samih Farid, disse à TV estatal que cinco pessoas morreram e 836 ficaram feridas nos confrontos inicialmente deflagrados na quarta-feira. Ele disse que a maioria das vítimas foi atingida por pedras e ataques com porretes e pedaços de metal.
Filho de Mubarak não será candidato à presidência do Egito, promete vice
O vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, disse nesta quinta-feira (3) que nem o presidente Hosni Mubarak nem seu filho, Gamal, vão concorrer às eleições presidenciais de setembro.
O anúncio foi feito em um texto publicado na TV estatal.
A oposição teme que Mubarak, que insiste em permanecer no poder até as eleições, esteja tentando ganhar tempo e "emplacar" o filho como sucessor.
Suleiman também prometeu punir todos os envolvidos na violência de rua dos últimos dias, que continuava no Cairo, e soltar todos os manifestantes presos e que não estejam envolvidos em atos violentos.
Pouco antes, militares fizeram disparos para o alto na região da Praça Tahrir, no centro do Cairo, em uma tentativa de separar os manifestantes favoráveis e contrários a Mubarak, que continuavam a se enfrentar.
Os dois grupos voltaram a jogar pedras um no outro, em uma rua próxima à praça, foco dos protestos dos últimos dez dias.
O premiê egípcio, Ahmed Shafiz, se colocou à disposição para ir à praça e dialogar com os populares, que pedem a saída imediata de Mubarak do poder. Mas o grupo rejeitou a oferta, reafirmando que não pretende negociar com o regime enquanto Mubarak ainda for o presidente.
Mais cedo, a oposição havia desmentido uma versão da TV estatal de que um diálogo político havia sido iniciado. Os oposicionistas insistem em que só vão negociar depois que Mubarak, há 30 anos no poder, deixar o cargo.
"Nossa decisão é clara: não haverá negociações com o governo antes que Mubarak saia. Depois disto, estaremos prontos para dialogar com (o vice-presidente, Omar) Suleiman", declarou Mohammed Abul Ghar, porta-voz da Coalizão Nacional pela Mudança.
O prazo dado pelos oposicionistas é esta sexta-feira (4), batizada de "Dia da Partida".
Os confrontos seguiam apesar de o Exército ter criado uma "zona neutra", de cerca de 80 metros, próximo à praça, para tentar isolar os grupos rivais. Os favoráveis ao governo chegaram a invadir a área isolada, mas tanques os forçaram a retroceder.
O Ministro da Saúde disse na TV estatal que cinco pessoas morreram desde a véspera vítimas da violência na região da praça, centro dos protestos pela queda do regime de 30 anos. Foram levadas aos hospitais 836 pessoas, das quais 86 continuavam internadas, disse Ahmed Samih Farid.
Desde o início dos protestos, que já duram dez dias, pelo menos 100 pessoas morreram, mas, segundo a ONU, esse número pode chegar a 300. De acordo com a TV Al Jazeera, o número de feridos teria passado de 1.500. Não há cifras oficiais, e os números são frequentemente contraditórios.
No início da noite de quarta, o vice Suleiman reforçou o pedido do Exército para que a população obedecesse ao toque de recolher e voltasse para a casa.
Mas, durante a madrugada, tiros esporádicos foram ouvidos no centro do Cairo.
Eles pareciam vir da Ponte de Outubro, onde permaneciam posicionados os partidários de Mubarak.
Os manifestantes também colocaram fogo em diversos pontos da praça, usando bombas incendiárias.
Os antigovernistas afirmaram na quinta que detiveram e identificaram 120 manifestantes pró-Mubarak, e que eles seriam, em sua maioria, ligados às forças de segurança e ao partido governista. Na véspera, o Ministério do Interior havia negado que o governo tenha instigado os protestos.
Repercussão
Vários lideres internacionais, Barack Obama à frente, pediram ao contestado Mubarak que comece já a transmitir o poder. Mas a chancelaria do Egito rejeitou o apelo, afirmando que seu objetivo é "inflamar a situação interna do Egito".
Na terça-feira, Mubarak havia anunciado que não tentaria sua quinta reeleição e deixaria o governo em setembro, após um período de "transição suave" de poder.
O acesso à internet, que havia sido cortado no país em 28 de janeiro, voltou parcialmente nas cidades do Cairo e de Alexandria, segundo usuários.
O corte, protagonizado pelo governo para tentar dificultar a organização dos protestos, gerou críticas da comunidade internacional.Transição suave
Mubarak, que está há 30 anos no poder, afirmou na noite de terça-feira em discurso na TV que, nos meses que restam de seu quinto mandato à frente do pais, vai ajudar a cumprir as exigências da coalizão de forças oposicionistas que o desafia -inclusive, fazer reformas do judiciário que ajudem a combater a corrupção.
Ele disse que o país atravessa um "momento difícil", que a prioridade é a "estabilidade da nação" e prometeu dialogar com todas as forças da oposição.
Mubarak afirmou também que sua decisão não estava relacionada aos protestos dos últimos dias e que nunca teve a intenção de tentar um novo mandato.
Pressão internacional
Mas a pressão internacional pela saída imediata de Mubarak - antes um nome que, do ponto de vista das potências ocidentais, gerava estabilidade na região - aumentou depois de seu pronunciamento.
Nesta quinta, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Itália pediram ao Egito, em uma declaração conjunta, o início de um processo de transição e condenaram os que usam ou estimulam a violência.
"Apenas uma transição rápida e ordeira para um governo de base ampla vai tornar possível superar os desafios que o Egito enfrenta atualmente", afirma o comunicado.
"Este processo de transição deve começar agora", completa ao texto assinado por Nicolas Sarkozy, Angela Merkel, David Cameron, José Luis Rodríguez Zapatero e Silvio Berlusconi.
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), a britânica Catherine Ashton, pediu ao governo egípcio um julgamento dos responsáveis pelos confrontos entre os manifestantes a favor e contrários a Mubarak.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse na noite da terça que a situação do presidente era insustentável e que a transição deveria começar imediatamente.
Os EUA estão inquietos "com as detenções e ataques" à imprensa que cobre a crise egípcia, informou o Departamento de Estado nesta quarta. A Casa Branca informou que "deplora e condena" a violência contra "manifestantes pacíficos".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse na quarta em Londres que o ataque a manifestantes pacíficos era "inaceitável'.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, considerou insuficiente o anúncio de Mubarak opinou que o presidente egípcio deve renunciar imediatamente para satisfazer as reivindicações de seu povo.Levantes em outros países
Na quarta, o presidente de Iêmen, no poder há 32 anos, cedeu a protestos da oposição e disse que não vai tentar a reeleição.
Na terça, o rei da Jordânia - outro importante aliado dos EUA no mundo árabe - havia anunciado uma mudança no governo o país, também depois de protestos populares e de opositores.
Os protestos em Egito e Jordânia - assim como Marrocos, Iêmen e Síria - foram inspirados pelo levante popular que derrubou o presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, que caiu pela pressão popular após 23 anos no poder.
País chave
O Egito, o mais populoso dos países árabes (80 milhões de habitantes), é importante aliado do Ocidente na região e administra o Canal de Suez, essencial para o abastecimento de petróleo dos países desenvolvidos.
Além disso, é um dos dois países árabes (o outro é a Jordânia) que assinou um tratado de paz con Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, mencionou o fantasma de um regime ao estilo iraniano, caso, aproveitando o caos, "um movimento islamita organizado assuma o controle do Estado".
O turismo é uma das maiores fontes de receita do exterior no Egito, sendo responsável por mais de 11% do PIB e fonte de empregos, em um país com alto índice de desemprego. Cerca de 12,5 milhões de turistas visitaram o Egito em 2009, proporcionando receita de US$ 10,8 bilhões.
Suez
O chefe do Estado Maior conjunto americano, almirante Mike Mullen, expressou sua "confiança" de que o exército egípcio garanta a segurança do país e do canal de Suez, em uma entrevista por telefone, informou o Pentágono nesta quarta-feira.
Em uma conversa com seu colega egípcio, o tenente general Sami Enan, Mike Mullen "expressou sua confiança na capacidade do exército egípcio de garantir a segurança de seu país, tanto internamente como na região do Canal de Suez", disse o porta-voz, o capitão John Kirby, em comunicado.
Israel teme queda, diz pesquisaPara a maioria dos israelenses, a iminente queda de Mubarak terá consequências negativas para Israel e levará ao poder um "regime islâmico", informa uma pesquisa publicada pelo jornal "Yediot Aharonot".
A pesquisa mostra que 65% dos israelenses consideram que, para Israel, as consequências da queda de Mubarak serão negativas, contra apenas 11% que acreditam em algo positivo.
Além disso, 59% dos israelenses entrevistados acreditam que um "regime islâmico" vai suceder Mubarak no poder, enquanto 21% acreditam em um "regime laico democrático".
A pesquisa do instituto Mina-Tzemah-Dahaf ouviu 500 pessoas e tem margem de erro de 4,5%.
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