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Em 1991

No Brasil, Mandela foi "sufocado de tanto amor"

Nelson Mandela | REUTERS/Paul McErlane
Nelson Mandela (Foto: REUTERS/Paul McErlane)

"Quase fomos mortos de tanto amor". Com bom humor e cansaço visíveis, foi com essa frase que Nelson Mandela resumiu, em 1991, sua primeira visita ao Brasil, quando em apenas cinco dias passou por Rio de Janeiro, Brasília, Espírito Santo, São Paulo e Bahia. A viagem, com uma agenda apertada, incluiu um show para milhares de pessoas na Praça da Apoteose. "Agora estou preparado para encontrar Holyfield ou Mike Tyson", completou, brincando.

O Brasil conheceu Mandela em dois momentos diferentes de sua vida: na primeira visita, veio o homem recém-libertado que buscava apoio internacional em sua caminhada à Presidência de uma África do Sul marcada pela divisão racial. Anos mais tarde, foi o primeiro presidente negro do país que desembarcou em Brasília, em lua de mel de seu terceiro casamento. Nas duas ocasiões, o Brasil fez festa, embalada por samba, capoeira e afoxé, para Madiba.

A primeira visita trouxe Mandela ao Brasil em agosto de 1991, um ano após o líder anti-apartheid ser libertado da prisão. A viagem, realizada no início do processo de negociação que o levaria às eleições sul-africanas de 1994, tinha dois objetivos. Além de angariar apoio internacional para algo revolucionário - a candidatura de um negro à Presidência do país -, o presidente do partido Congresso Nacional Africano tinha outro propósito: pressionar o governo de Fernando Collor de Mello a manter as sanções ao país - "até que o apartheid não exista mais e todos tenham direito a voto", disse na ocasião.

Para os brasileiros, no entanto, a viagem tinha um outro sentido e criara muita expectativa: Mandela era um ícone, e o anúncio de sua chegada mobilizou intensamente o movimento negro. Mas a visita parecia pouco organizada, com atrasos e compromissos excessivos para um homem de 73 anos. Quando a intensa agenda foi mudada, grupos negros do Rio de Janeiro acabaram excluídos. A polêmica aumentou quando Mandela declarou que o Brasil era um modelo avançado de democracia racial. A repercussão negativa junto a entidades negras o levou a fazer, antes de partir, um outro comentário: Mandela disse que sentia um forte "sentimento de amargura" entre os negros brasileiros e que a discriminação racial ainda existia aqui.

No Rio, além de autoridades, Mandela foi recebido por uma multidão de 40 mil pessoas. Na Praça da Apoteose, eles cantaram "Sob o sol de Johannesburgo", composta por Martinho da Vila para ele. Mandela participou ainda de uma reinauguração simbólica do Ciep que leva seu nome, em Campo Grande, ao lado da segunda mulher, Winnie.

"Quando vejo seus rostos tenho a sensação de estar em casa, porque a mistura da população é como a nossa. E nós damos as boas vindas a esse fato, porque a miscigenação enriquece o país", disse Mandela no Rio.

A segunda visita, em julho de 1998, trouxe um Mandela já presidente em fim de mandato, mais idoso e em lua de mel, apenas dois dias depois do casamento, com Graça Machel, viúva do presidente de Moçambique Samora Machel. Foi uma visita de apenas três dias. O governo brasileiro desejava mais eventos mas, na época, Mandela, já com 80 anos, pediu uma agenda mais tranquila. Ele se encontrou com o então presidente Fernando Henrique Cardoso e recebeu no hotel uma comitiva do Partido dos Trabalhadores, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva. Ele viria a se reencontrar anos mais tarde com Lula, este já presidente do Brasil.

"Nossos papéis ativos em nossas respectivas regiões, bem como nossa visão comum sobre o comércio mundial, a reestruturação das Nações Unidas e a cooperação Sul-Sul, nos torna parceiros naturais nos esforços para transformar nossos continentes em centros de crescimento e prosperidade no próximo milênio", disse Mandela no Palácio da Alvorada.

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