Mineiro independente no leste da Ucrânia| Foto: Brendan Hoffman/The New York Times

Do lado de fora da pequena casa de tijolos de Vladimir Moroz, as dificuldades afligem o leste da Ucrânia: não há dinheiro, as prateleiras estão vazias e um vento gelado castiga as estepes cobertas de neve.

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Lá dentro, porém, o mineiro aposentado sorri e esfrega as mãos sobre o fogão e sua fonte de calor, que já foi considerada ilícita: o carvão retirado de minas não regulamentadas, consideradas perigosas.

Em uma região que sofre com os levantes e a escassez, os mineiros que têm orgulho de sua profissão encontraram pelo menos um benefício nas mudanças que acontecem no país: o governo rebelde decidiu permitir a mineração privada, prática há muito estigmatizada, mas muito utilizada na área. "Tenho as minhas batatas, minhas cenouras, meu repolho e a minha própria mina. É assim que a gente vive", diz Moroz, referindo-se ao buraco sob uma cabana no quintal.

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No interior de Donbass, como é conhecida a região rebelde do leste da Ucrânia, os veios se encontram sob as colinas. Moroz nem se lembra da última vez que recebeu a aposentadoria; os parentes fugiram, a comida é escassa e o perigo está em todo lugar – mas há carvão em abundância. E contanto que os mineiros paguem as taxas, podem explorá-lo como quiserem.

Esses, é claro, sempre souberam que o minério não se limitava ao perímetro das minas estatais, mas os soviéticos forneciam aos empregados pilhas e pilhas de carvão, por isso ninguém se dava ao trabalho de explorar. No fim dos anos 90, quando a prática se extinguiu, elas começaram a surgir feito crateras na paisagem. Todo mundo sabia de sua existência; até a polícia levava algum. Agora, a autodenominada República Popular de Donetsk acabou com a proibição.

As minas caseiras assustam as autoridades ucranianas. "Elas são muito mais perigosas que as minas comerciais. É assustador. O trabalho é exaustivo, muito semelhante ao que se fazia no século XIX", explica Valery N. Mamchenko, do Sindicato dos Mineiros Ucranianos.

Boris Litvinov, membro do Parlamento de Donetsk, diz que a liderança rebelde tem ciência dos perigos, mas está mais preocupada em acabar com a corrupção de um setor impossível de erradicar.

"Para fechar as centenas de minas ilegais — e há um número incontável delas — teríamos que oferecer outros empregos que, em tempos de guerra, simplesmente não existem", explica.

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Antes do conflito, as minas ilegais rendiam 4,5 milhões de toneladas do total de 72,5 milhões da produção nacional e empregava milhares de homens ao longo da fronteira com a Rússia.

"Pelo menos deixam a gente trabalhar abertamente", comemora o capataz de uma operação média que escavava uma encosta coberta de neve. Ele deu apenas o primeiro nome, Aleksei.

Com cerca de um metro quadrado, o poço de sua mina desce 180 metros até atingir o veio; ali, dois homens, sujos de fuligem, munidos de britadeiras, retiram blocos de carvão antracito. Pelo turno de oito horas recebem cerca de US$15/dia, retirando o minério e mandando as porções para cima em uma banheira presa a um cabo que, por sua vez, está ligado a uma polia.

Aleksei vende o carvão para as usinas e os quatro homens do grupo dividem os lucros. E revela que antes da revolução, os policiais exigiam propinas altíssimas. "Depois da mudança de governo, os mineiros passaram a exigir o direito de explorar as jazidas e as autoridades concordaram, contanto que pagassem as taxas".

Algumas minas, como a de Aleksei, são microempresas; outras, são negócios familiares, como a que Moroz montou no quintal. Ele está satisfeito com a legalização, mas sabe que também há desvantagens.

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