Do lado de fora da pequena casa de tijolos de Vladimir Moroz, as dificuldades afligem o leste da Ucrânia: não há dinheiro, as prateleiras estão vazias e um vento gelado castiga as estepes cobertas de neve.
Lá dentro, porém, o mineiro aposentado sorri e esfrega as mãos sobre o fogão e sua fonte de calor, que já foi considerada ilícita: o carvão retirado de minas não regulamentadas, consideradas perigosas.
Em uma região que sofre com os levantes e a escassez, os mineiros que têm orgulho de sua profissão encontraram pelo menos um benefício nas mudanças que acontecem no país: o governo rebelde decidiu permitir a mineração privada, prática há muito estigmatizada, mas muito utilizada na área. "Tenho as minhas batatas, minhas cenouras, meu repolho e a minha própria mina. É assim que a gente vive", diz Moroz, referindo-se ao buraco sob uma cabana no quintal.
No interior de Donbass, como é conhecida a região rebelde do leste da Ucrânia, os veios se encontram sob as colinas. Moroz nem se lembra da última vez que recebeu a aposentadoria; os parentes fugiram, a comida é escassa e o perigo está em todo lugar mas há carvão em abundância. E contanto que os mineiros paguem as taxas, podem explorá-lo como quiserem.
Esses, é claro, sempre souberam que o minério não se limitava ao perímetro das minas estatais, mas os soviéticos forneciam aos empregados pilhas e pilhas de carvão, por isso ninguém se dava ao trabalho de explorar. No fim dos anos 90, quando a prática se extinguiu, elas começaram a surgir feito crateras na paisagem. Todo mundo sabia de sua existência; até a polícia levava algum. Agora, a autodenominada República Popular de Donetsk acabou com a proibição.
As minas caseiras assustam as autoridades ucranianas. "Elas são muito mais perigosas que as minas comerciais. É assustador. O trabalho é exaustivo, muito semelhante ao que se fazia no século XIX", explica Valery N. Mamchenko, do Sindicato dos Mineiros Ucranianos.
Boris Litvinov, membro do Parlamento de Donetsk, diz que a liderança rebelde tem ciência dos perigos, mas está mais preocupada em acabar com a corrupção de um setor impossível de erradicar.
"Para fechar as centenas de minas ilegais e há um número incontável delas teríamos que oferecer outros empregos que, em tempos de guerra, simplesmente não existem", explica.
Antes do conflito, as minas ilegais rendiam 4,5 milhões de toneladas do total de 72,5 milhões da produção nacional e empregava milhares de homens ao longo da fronteira com a Rússia.
"Pelo menos deixam a gente trabalhar abertamente", comemora o capataz de uma operação média que escavava uma encosta coberta de neve. Ele deu apenas o primeiro nome, Aleksei.
Com cerca de um metro quadrado, o poço de sua mina desce 180 metros até atingir o veio; ali, dois homens, sujos de fuligem, munidos de britadeiras, retiram blocos de carvão antracito. Pelo turno de oito horas recebem cerca de US$15/dia, retirando o minério e mandando as porções para cima em uma banheira presa a um cabo que, por sua vez, está ligado a uma polia.
Aleksei vende o carvão para as usinas e os quatro homens do grupo dividem os lucros. E revela que antes da revolução, os policiais exigiam propinas altíssimas. "Depois da mudança de governo, os mineiros passaram a exigir o direito de explorar as jazidas e as autoridades concordaram, contanto que pagassem as taxas".
Algumas minas, como a de Aleksei, são microempresas; outras, são negócios familiares, como a que Moroz montou no quintal. Ele está satisfeito com a legalização, mas sabe que também há desvantagens.
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