A missão do ex-presidente dos Estados UnidosBill Clinton, que obteve do governante da Coreia do Norte, Kim Jong Il, a libertação de duas jornalistas americanas presas no país comunista, teve um significado político interno e outro externo, avaliam os especialistas em relações internacionais. O interno foi um recado aos neoconservadores dos EUA, de que a nova administração Obama está aberta a negociações com os países "párias" da comunidade internacional. O externo foi um sinal de possível abertura à Coreia do Norte, se o regime concordar em retomar as negociações para desmantelar seu programa nuclear.

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Ao mesmo tempo, Clinton assume cada vez mais um papel de ex-presidente norte-americano ligado a questões humanitárias internacionais.

Na terça-feira desta semana, Bill Clinton foi de avião a Pyongyang e, após duas horas de conversas com Kim John Il, obteve a libertação das jornalistas Laura Ling e Euna Lee. Ambas foram presas em março em território norte-coreano, perto da fronteira com a China. Acusadas de entrar ilegalmente no país e de serem espiãs, elas foram condenadas a doze anos de trabalhos forçados. Voltaram de avião com Clinton na quarta-feira à Califórnia.

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Embora a missão tenha sido de Bill Clinton, ela teve a chancela da Casa Branca. O porta-voz do presidente Barack Obama, Robert Gibbs, negou que Clinton tenha enviado uma mensagem de Obama para Kim. A secretária de Estado americana, Hillary, mulher de Bill, insistiu durante meses com a Coreia do Norte que libertasse as duas jornalistas, que trabalhavam para o projeto midiático do ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore.

"Bill Clinton tem procurado assumir um papel semelhante ao do ex-presidente Jimmy Carter, de um ex-presidente que faz uma ponte entre os Estados Unidos e a comunidade internacional", disse a professora de relações internacionais Cristina Pecequilo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em entrevista à Agência Estado. "A viagem à Coreia do Norte também foi uma sinalização para os grupos neoconservadores dos EUA de que o estilo agora é de negociações e não de confronto. Esse é o estilo da administração Obama", avalia a especialista.

Para Evans J.R. Revere, um ex-diplomata norte-americano na Coreia do Sul, China e Japão, as conversações de Clinton com Kim "foram mais do que um tratamento diplomático e possivelmente sinalizaram um desejo da Coreia do Norte de se reengajar nas negociações" com o grupo de cinco países (EUA, Rússia, China, Coreia do Sul e Japão) para desmantelar seu programa nuclear. A Coreia do Norte testou sua segunda bomba atômica neste ano e abandonou as negociações internacionais. Revere acredita que o problema agora seria "se reengajar em qual tipo de negociação". Revere disse, em declarações à Associated Press, que, se no passado a Coreia do Norte discutiu o fim do seu programa nuclear, a partir de 2008 tentou "ser reconhecida como um Estado com armas nucleares". Mas Revere nota que essa posição é "inaceitável para os EUA e o resto da comunidade internacional".

"Bill Clinton negociou com a Coreia do Norte entre 1994 e 1995. Por isso, a viagem pode ser vista como uma tentativa do governo Obama de refazer a ponte" com a Coreia do Norte, diz a professora Cristina Pecequilo.

Em 1994, Clinton obteve sucesso em negociar um acordo com a Coreia do Norte, que concordou em desativar seu reator de plutônio em troca de um reator de águas leves e do fornecimento de eletricidade da Coreia do sul. Obstáculos políticos tanto dos EUA quanto das Coreias do Sul e do Norte fizeram com que Pyongyang abandonasse o acordo em 2002.

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