Aula de tiro em Peshawar, onde 150 pessoas foram mortas numa escola| Foto: A Majeed/Agence France-Presse — Getty Images

Fatima Bibi disparou três tiros, acertando o alvo a cada vez. Então abaixou a pistola, voltou-se às suas colegas e sorriu. O instrutor também estava sorrindo. "Estas senhoras atiram melhor que alguns de nossos homens", falou Abdul Latif, instrutor de tiro da polícia. "Aprenderam a manejar um revólver em apenas dois dias."

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Desde que o Taleban massacrou 150 pessoas num colégio de Peshawar, em dezembro, a polícia no noroeste do Paquistão está oferecendo instrução no uso de armas de fogo a professores. Fatima Bibi foi uma das oito professoras do Frontier College for Women que participaram de um curso de dois dias de manejo de armas de fogo. O curso foi dado no estande de tiro da polícia provincial.

As professoras aprenderam a carregar, fazer mira e disparar armas de fogo e discutiram como defender seus alunos se o Taleban invadir suas salas de aula. "A tragédia de 16 de dezembro nos mostrou que temos que aprender a cuidar de nós mesmas e de nossos alunos", disse Naheed Hussain, que fez o curso ainda trajando suas vestes negras de professora.

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A iniciativa das aulas de tiro foi do governo provincial e da polícia da província de Khyber-Pakhtunkhwa, como parte de uma campanha para aumentar a segurança nas escolas. Ao longo dos anos, a província sofreu o maior número de ataques do Taleban paquistanês.

A posse de armas é comum no noroeste do país, mas a ideia de ver professores armados preocupa muitos pais. Especialmente a ideia de ver professoras mulheres armadas vem sendo recebida com consternação. "Como podemos ensinar com uma arma em uma mão e um livro na outra?", perguntou Malik Khalid Khan, presidente da Associação de Professores de Escolas Primárias.

Especialistas em segurança expressaram ceticismo quando à capacidade das professoras de enfrentar militantes do Taleban. "Como uma mulher com uma pistola de 9 mm vai poder enfrentar um grupo de terroristas?", perguntou Mahmood Shah, brigadeiro aposentado do Exército que foi encarregado de segurança do cinturão tribal após 2001.

Shah disse que é contra o uso de armas de fogo por professores, sejam eles homens ou mulheres. "Dois dias de treinamento e dez tiros disparados não convertem ninguém em especialista em armas de fogo", comentou.

Mas Mushtaq Ghani, o ministro provincial de Educação, disse que os 65 mil policiais da província não são suficientes para garantir a segurança de suas 45 mil escolas, faculdades e universidades. Os próprios professores se dizem ambíguos em relação ao programa voluntário —incomodados com a perspectiva de portar uma arma, mas assombrados pelas memórias do atentado à Escola Pública do Exército.

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"Quando agarrei o revólver e abri fogo, comecei a transpirar, pensando que eu deveria ter uma caneta na mão, não uma arma", comentou a professora Akhtar Nagina, do Frontier College for Women. "Mas então me lembrei do que os terroristas fizeram. Preciso pelo menos ter uma arma na bolsa, para minha própria proteção."

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