O mundo é um campo de batalha no qual se enfrentam as forças da vida e as forças da morte. É fácil verificar que, em muitos casos, as forças da morte levam vantagem: o ódio, a solidão, o abandono, as traições, as injustiças sociais e econômicas, o medo, as doenças são todos pontos a favor da morte. Mas existe um momento em que a morte se manifesta com todos os seus poderes: quando dá um fim aos nossos dias na face da terra. E Deus que nos criou para a vida, o que faz? Assiste impassível à nossa derrota? A resposta a essa pergunta angustiante nos é dada hoje em Maria, a mulher na qual a vida celebra o seu triunfo.

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O evangelho de hoje nos apresenta a visita de Maria à sua prima Isabel. O gesto de Maria que vai congratular-se com a prima que recebeu de Deus o suspirado dom da maternidade é, sem dúvida nenhuma, um belo ato de cortesia. Maria "saudou Isabel". Se tratasse do costumeiro "bom dia", o evangelista não o teria salientado. Se o coloca em realce, quer dizer para ele esta saudação é significativa e, de fato,  no versículo seguinte recorda-a novamente: "ouvida à saudação" o menino exultou de alegria.

Os judeus daquele tempo, tal quais os judeus de agora, quando se encontram, dirigem-se uma única saudação: "Paz (shalom)". A paz indica o acúmulo de todos os bens que Deus prometeu ao seu povo. O estabelecimento da "paz" no mundo é o sinal da presença do Messias. "O salmista prometeu: "Florescerá em seus dias a justiça e a abundância da paz, até que cesse a lua de brilhar" (Sl 71,7) O Messias é chamado pelo profeta Isaías de "Príncipe da paz" (Is 9,5). Nos lábios de Maria a palavra "paz" é, pois uma solene proclamação de que chegou ao mundo o esperado Messias e que com Ele teve o início do Reino de Deus anunciado pelos profetas. Como Maria na montanha da Judéia, como os anjos que em Belém cantaram: "E na terra paz aos homens", hoje os discípulos de Cristo desejam a todos somente a paz.

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Em toda casa que entrardes – recomenda Jesus – dizei primeiro: Paz a esta casa!" (Lucas 10,5). As nossas comunidades anunciam a paz? O encontro com uma pessoa comunica serenidade, alegria, a paz? Anun­ciamos a paz só com a palavra ou a construímos com a nossa vida? Entrando Maria na casa de Isabel, faz exultar de alegria o pequeno João Batista. Onde quer que chegue, Maria provoca uma explosão de alegria. Isabel proclama  a sua alegria por ser visitada pelo Senhor, os pobres exultam porque chegou o momento da sua libertação.

Procuremos perguntar-nos: a presença dos cristãos nos vários ambientes, no trabalho, nas escolas, nos hospitais, nas festas, nos encontros dos políticos provoca sempre alegria ou é, às vezes, motivo de tristeza? As nossas comunidades comunicam alegria e esperança a todos os habitantes dos povoados e da cidade? Os pobres, aqueles que erraram na vida, quando nos encontramos e quando nos escutam se entristecem, têm medo ou exultam?

Dom Moacyr José Vitti é arcebispo Metropolitano.