A voz alegre de Nayara Silva, de 15 anos, parece esconder o trauma pelo qual ela passou este mês. Por telefone, a adolescente contou ao G1 nesta sexta-feira (31) que tem "mais medo do que raiva" de Lindemberg Alves, 22, e não sabe se o perdoa. "Achava que era só papo, mas agora sei do que ele é capaz. O pouquíssimo de segurança que tinha nele acabou".
Nayara e a amiga Eloá Cristina Pimentel, também de 15 anos e ex-namorada de Lindemberg, ficaram reféns dele em um seqüestro que durou mais de 100 horas, na periferia de Santo André, no ABC, em São Paulo. Ao fim do caso, que começou dia 13 de outubro e terminou no dia 17, Nayara levou um tiro no rosto e Eloá, ferida na cabeça, morreu.
Sonhos
A adolescente se recupera do susto na casa de parentes no litoral paulista e conta que tem sonhado com Eloá, uma das amigas mais próximas. "Sonhei anteontem (terça) e hoje (quinta). Ela disse para eu não me preocupar porque está bem". A menina não quer voltar a estudar este ano, mais pela lembrança da companheira de classe do que pelo tumulto que poderia causar aparecendo por lá. "Não tem clima para mim".
Apesar de rir em alguns momentos e falar bem rápido, Nayara pára e pensa quando perguntada qual o momento mais difícil no cativeiro. "Foi na madrugada de segunda (13) para terça (14), quando eu vi ele batendo nela e não podia fazer nada". Na cena descrita, Lindemberg teria levado Eloá para o quarto e começado com as agressões, enquanto Nayara estava em um colchão, com pés e mãos amarrados. "Quanto mais ela gritava mais ele batia".
O motivo do seqüestro foi o ciúme doentio de Lindemberg, que não aceitou o fim do namoro depois quase três anos com Eloá. Para Nayara, ele "não demonstrava ser agressivo" no relacionamento com a amiga, mas a adolescente confirmou que Eloá havia sido agredida pelo seqüestrador alguns dias antes de ser refém.
A volta ao cativeiro
Outro momento difícil, segundo Nayara, foi quando ela voltou ao apartamento do CDHU de Jardim Santo André, na quinta-feira (16), dois depois de ser libertada pelo criminoso. O combinado era que a negociação para a saída dos três se desse até a entrada da porta.
"Ele foi dizendo que não estava me vendo, que era para me aproximar e, quando eu vi, a Eloá estava na porta com a arma apontada para a cabeça. Dei a mão para ela e entrei. Voltei a ser refém", disse Nayara, que negou ter liberdade para sair a hora que quisesse.
Pato
A menina volta a rir quando a pergunta é sobre Alexandre Pato, o maior ídolo da adolescente que quer ser jornalista ou publicitária. Quando voltar à capital, ela deve receber da família do atacante do Milan uma camisa autografada. A jovem agradece o presente, mas queria mesmo era ver o jogador de 19 anos.
O pedido foi feito ao próprio governador do estado, José Serra, ainda no hospital. "Eu estava anestesiada. O Serra me perguntou se eu tinha um sonho e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi pedir para conhecer o Alexandre Pato".
De tão fã do jogador, Nayara admite que não sabe como vai reagir se o encontrar pessoalmente. Da primeira vez, em um aeroporto no ano passado, ela só chorou e conseguiu uma foto. "Não sei se vou conseguir falar de novo. Acho que vou escrever uma carta e entregar para ele", disse Nayara, rindo.
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