Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
FIM DA REBELIÃO

Cinco mortos, sete desaparecidos

Equipamentos quebrados, roupas, livros e entulhos ficaram espalhados pelas alas destruídas da penitenciária | Marcelino Duarte
Equipamentos quebrados, roupas, livros e entulhos ficaram espalhados pelas alas destruídas da penitenciária (Foto: Marcelino Duarte)

Após 44 horas de muita ten­são, chegou ao fim na ma­drugada de ontem uma das mais violentas rebeliões ocorridas em um presídio do Paraná. Com um saldo parcial de 5 mortos, 22 feridos e 7 pessoas desaparecidas, as autoridades ainda tentavam contabilizar, na noite de ontem, a barbárie ocorrida na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), no Oeste. O motim só terminou após a liberação de dois agentes penitenciários que eram mantidos reféns e a conclusão da transferência de 851 detentos.

Apesar da confirmação das cinco mortes, nenhum órgão ou autoridade que trabalha no local se arriscou a fechar esse balanço. Isso porque ainda será realizada uma nova perícia e há a possibilidade de haver corpos queimados em uma ala conhecida como "fábrica". Cezinando Paredes, diretor do Departamento de Execução Penal do estado (Depen-PR), afirmou que sete presos estão desaparecidos. "Podem estar mortos, fugidos ou escondidos em algum local no interior da unidade", disse.

Devastador

O cenário no interior da PEC é devastador. Equipamentos quebrados, livros, roupas, calçados e restos de entulhos estão espalhados pelos corredores e celas. Por todos os lados é possível ver inscrições da sigla PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que teria liderado o motim. Na única ala não danificada, 222 presos que respondem a processos em Cascavel foram deixados no mesmo local.

"Os detentos incendiaram completamente a fábrica e tudo indica que deve haver mortos lá. Eles usaram as botas produzidas no local para aumentar a combustão", conta o advogado Jefferson Kendy Makyama, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Cascavel. O grau de dificuldade para a localização dos presos desaparecidos pode ser medido pelo tempo decorrido para remoção dos corpos das vítimas. Isso porque, segundo peritos, um dos corpos estava carbonizado e teve partes dilaceradas que demoraram a ser localizadas. Além disso, outros dois presos estavam degolados.

Ontem, a Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Hu­manos (Seju) concluiu a trans­ferência de 851 internos, que foram levados a unidades de Curitiba, Ma­rin­gá, Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu, Cruzeiro do Oeste, Guarapuava e para a Penitenciária Industrial de Cascavel – que receberá aqueles que já cumpriram o requisito mínimo para progressão da pena ou devem completá-lo ainda em 2014. Juntas, segundo o Mapa Carcerário da Seju, essas regiões tinham 804 vagas até ontem. Ao todo, 280 detentos da PEC ainda não têm sentenças expedidas contra eles. A maior parte responde por roubo, tráfico de drogas ou homicídio.

Motivos

Especula-se, agora, os motivos que levaram os presos a se rebelarem. De acordo com Juliano Murbach, presidente da OAB de Cascavel, as queixas dos presos eram conhecidas, mas a situação da penitenciária, comparada com o sistema carcerário brasileiro, não justificava a rebelião. "[A PEC] não é um resort, mas perto do que já foi, estava boa. De qualquer forma, precisamos de mais investimento em infraestrutura, alimentação e qualificação e remuneração dos agentes."

Facilitação?

A Seju informou que vai investigar quem seriam os líderes da rebelião ocorrida na PEC e se houve facilitação por parte de agentes penitenciários para o início do motim. Caso seja confirmado o envolvimento de servidores, diz a secretaria, eles serão punidos com rigor. O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), Antony Johnson, afirmou que a categoria defende que todos os fatos sejam apurados, mas que é cedo para fazer qualquer ligação com uma possível ajuda dos agentes. "É muito fácil para o governo culpar os agentes e não assumir as dificuldades do sistema penitenciário do estado."

De surpresa

Com a rebelião contida, o governador Beto Richa (PSDB) falou ontem pela primeira vez sobre o caso. Em entrevista à rádio CBN Curitiba, Richa disse ter sido pego "de surpresa" pela situação. "A informação que recebi é de que o motivo seria uma disputa de facções criminosas dentro do presídio", disse. Ele classificou o episódio como uma "situação lamentável". Durante a rebelião, presos hastearam bandeiras do PCC. Segundo o juíz Paulo Damas, presos com alto grau de periculosidade foram transferidos ao local recentemente. Mas não se sabe se estão ligados à facção.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.