Violência
Filha diz que pai pode ter sido torturado antes de ser decapitado
Rodrigo Batista
A filha de um dos homens mortos durante a rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC) disse que o pai dela pode ter sido torturado antes de morrer. A vítima é um dos dois presidiários que morreu decapitado nas mais de 40 horas de motim dos presos. Segundo a jovem, que preferiu não se identificar, ela recebeu informações de que presos do Primeiro Comando da Capital (PCC) tentavam cooptar o pai dela para o grupo, mas o homem não teria aceitado se subjugar aos criminosos.
Segundo a jovem, que mora em Curitiba e tem família em Cascavel, o corpo do pai estava sem as unhas e com os olhos machucados. O homem tinha 42 anos e estava na penitenciária há nove meses por ter roubado um automóvel. Antes disso, ele cumpriu pena por tráfico de drogas durante dois anos antes dessa nova prisão. A vítima da rebelião havia saído do sistema penitenciário em 2012 e foi presa novamente em 2013. "Ele ficou sem emprego por um tempo e depois voltou para o crime, pois ninguém dava emprego para ele", diz a jovem.
A respeito da vida dele dentro do presídio, a filha da vítima disse que não tinha muito contato com o pai, mas soube que ele foi colocado dentro de uma ala que, geralmente, é destinada a detentos que cometeram crimes de comoção popular, como estupro. "Meu pai não era estuprador. Nós entramos com pedido para ele sair daquela ala, mas ainda não tinham tirado ele de lá."
Ela também afirmou que o homem costumava se envolver em brigas dentro do presídio. A previsão era que o pai dela deixasse a penitenciária ainda nesta semana, mas a tragédia ocorreu. "Achei um absurdo o que aconteceu. Não espero mais nada, porque sei que vai cair no esquecimento e ninguém vai pagar pelo que fizeram com ele. Só quero que isso não aconteça com mais ninguém", diz.
Servidores
Sindicato reivindica a contratação de agentes
Para o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), a rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC) ocorreu devido à "precariedade" do sistema penitenciário paranaense. Segundo Antony Johnson, presidente da entidade, havia apenas nove agentes penitenciários responsáveis pela segurança no local do motim. O presídio tinha 1.036 presos no momento da rebelião.
A relação de agentes penitenciários por presos é apontada como uma das causas da tensão vivida nas penitenciárias do estado. Nos últimos 12 meses, ocorreram 19 rebeliões nessas unidades com 24 servidores feitos reféns. De acordo com dados de 2013, há no estado 3,5 mil agentes para cuidar de uma população carcerária que ultrapassa a casa dos 28 mil presos. Neste ano, o governo do estado está contratando mais 423 profissionais, mas o sindicato da categoria reivindica a abertura de mais mil postos de trabalho.
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Após 44 horas de muita tensão, chegou ao fim na madrugada de ontem uma das mais violentas rebeliões ocorridas em um presídio do Paraná. Com um saldo parcial de 5 mortos, 22 feridos e 7 pessoas desaparecidas, as autoridades ainda tentavam contabilizar, na noite de ontem, a barbárie ocorrida na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), no Oeste. O motim só terminou após a liberação de dois agentes penitenciários que eram mantidos reféns e a conclusão da transferência de 851 detentos.
INFOGRÁFICO: Entenda o início do motim e como está a situação agora
Apesar da confirmação das cinco mortes, nenhum órgão ou autoridade que trabalha no local se arriscou a fechar esse balanço. Isso porque ainda será realizada uma nova perícia e há a possibilidade de haver corpos queimados em uma ala conhecida como "fábrica". Cezinando Paredes, diretor do Departamento de Execução Penal do estado (Depen-PR), afirmou que sete presos estão desaparecidos. "Podem estar mortos, fugidos ou escondidos em algum local no interior da unidade", disse.
Devastador
O cenário no interior da PEC é devastador. Equipamentos quebrados, livros, roupas, calçados e restos de entulhos estão espalhados pelos corredores e celas. Por todos os lados é possível ver inscrições da sigla PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que teria liderado o motim. Na única ala não danificada, 222 presos que respondem a processos em Cascavel foram deixados no mesmo local.
"Os detentos incendiaram completamente a fábrica e tudo indica que deve haver mortos lá. Eles usaram as botas produzidas no local para aumentar a combustão", conta o advogado Jefferson Kendy Makyama, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Cascavel. O grau de dificuldade para a localização dos presos desaparecidos pode ser medido pelo tempo decorrido para remoção dos corpos das vítimas. Isso porque, segundo peritos, um dos corpos estava carbonizado e teve partes dilaceradas que demoraram a ser localizadas. Além disso, outros dois presos estavam degolados.
Ontem, a Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) concluiu a transferência de 851 internos, que foram levados a unidades de Curitiba, Maringá, Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu, Cruzeiro do Oeste, Guarapuava e para a Penitenciária Industrial de Cascavel que receberá aqueles que já cumpriram o requisito mínimo para progressão da pena ou devem completá-lo ainda em 2014. Juntas, segundo o Mapa Carcerário da Seju, essas regiões tinham 804 vagas até ontem. Ao todo, 280 detentos da PEC ainda não têm sentenças expedidas contra eles. A maior parte responde por roubo, tráfico de drogas ou homicídio.
Motivos
Especula-se, agora, os motivos que levaram os presos a se rebelarem. De acordo com Juliano Murbach, presidente da OAB de Cascavel, as queixas dos presos eram conhecidas, mas a situação da penitenciária, comparada com o sistema carcerário brasileiro, não justificava a rebelião. "[A PEC] não é um resort, mas perto do que já foi, estava boa. De qualquer forma, precisamos de mais investimento em infraestrutura, alimentação e qualificação e remuneração dos agentes."
Facilitação?
A Seju informou que vai investigar quem seriam os líderes da rebelião ocorrida na PEC e se houve facilitação por parte de agentes penitenciários para o início do motim. Caso seja confirmado o envolvimento de servidores, diz a secretaria, eles serão punidos com rigor. O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), Antony Johnson, afirmou que a categoria defende que todos os fatos sejam apurados, mas que é cedo para fazer qualquer ligação com uma possível ajuda dos agentes. "É muito fácil para o governo culpar os agentes e não assumir as dificuldades do sistema penitenciário do estado."
De surpresa
Com a rebelião contida, o governador Beto Richa (PSDB) falou ontem pela primeira vez sobre o caso. Em entrevista à rádio CBN Curitiba, Richa disse ter sido pego "de surpresa" pela situação. "A informação que recebi é de que o motivo seria uma disputa de facções criminosas dentro do presídio", disse. Ele classificou o episódio como uma "situação lamentável". Durante a rebelião, presos hastearam bandeiras do PCC. Segundo o juíz Paulo Damas, presos com alto grau de periculosidade foram transferidos ao local recentemente. Mas não se sabe se estão ligados à facção.
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