O Brasil rompeu em julho a barreira dos 190 milhões de habitantes. Já somos, segundo o IBGE, 191,5 milhões.
Isso é bom ou é ruim? insiste Beronha.
Natureza Morta:
Há fatores a ponderar. De qualquer modo, quanto a algumas coisas, já podemos ter absoluta certeza.
E o solitário da mansão da Vila Piroquinha enumerou umas: além de 191 milhões de técnicos de futebol, contaremos com 191 milhões de "médicos" especialistas em gripe A, 191 milhões de mestres em economia, notadamente na questão do câmbio flutuante ("ai, estou deixando de ganhar em cima dos meus US$ 20 escondidos sob o colchão há 10 anos"), 191 milhões de críticos da teoria da relatividade, 191 milhões de profundos conhecedores de balística e 191 milhões de palpiteiros em qualquer assunto que estiver na moda, seja metrô, missa em latim ou as circunstâncias em que se deu a morte de Michael Jackson. Teria morrido mesmo?
Its not mole não, diz Beronha, arriscando o seu inglês.
Mas existe uma esperança, e a saída tem nome, é Borá.
Bô... o quê?
Borá, 837 habitantes. Continua o município menos populoso do país. Fica em São Paulo, mas não espalhe...
Tentando mudar de assunto, Natureza citou o já velho conselho para chamar a atenção, se destacar, se sobrepor à multidão, que deve ter dado origem, aliás, ao famoso "filma eu aqui Galvão". A melancia no pescoço. E não é que, agora, tatuar os dentes virou o máximo, com a inevitável interatividade "você faria?". A melancia deu lugar a desenhos de Bob Dylan, Amy Winehouse, Elvis Presley e Abraham Lincoln.
Abraham quem?
Lincoln.
Obrigado, eu fumava Continental...
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Natureza leu no site da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O presidente Lula foi homenageado pela entidade, no dia 12 passado, recebendo o Grande Colar da Ordem do Mérito Industrial.
Motivo: o torneiro-mecânico formado na turma de 1962 tornou-se, 41 anos depois, o 39.° presidente da República. Na cerimônia, uma sequência de fotos mostrou Lula desde a "infância pobre em São Paulo, ao lado da mãe, dona Lindu, até a posse no primeiro mandato, passando por registros de sua passagem pelo curso do Senai Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial".
O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, tascou no discurso: "Vossa Excelência valoriza a oportunidade que o Senai lhe proporcionou, valoriza o crescimento pessoal e desmente o vitimismo, de pessoas e países".
Lula emendou: "Um presidente que jamais esquecerá o valor do aprendizado profissional na vida da juventude pobre desta nação". Momentos de emoção. E o jornalista que redigiu o release pegou o clima e acertou em cheio. Abriu o texto assim, referindo-se às fotos: "Contrariamente aos versos famosos de Carlos Drummond de Andrade sobre a cidade natal Itabira, são retratos na parede que não doem". Natureza gostou da sacada do jornalista e correu para os versos de Confidência do itabirano (as lembranças da cidade-natal):
"Alguns anos vivi em Itabira/
Principalmente nasci em Itabira/
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro/
(principal atividade da cidade)
A vontade de amar/
que me paralisa o trabalho/
vem de Itabira (...)
E o hábito de sofrer/
que tanto me diverte/
é doce herança itabirana (...)/
Tive ouro, tive gado, tive fazendas/
Hoje sou funcionário público/
Itabira é apenas um retrato na parede/
Mas como dói!"
Francisco Camargo é jornalista.
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