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Francisco Camargo

Além dos aviões de carreira

Que há algo no ar além de aviões de carreira, o Ba­­rão de Itararé estava ca­­reca de saber. O problema é que tem gente que permanece boiando. O acidente envolvendo um pequeno avião e um helicóptero, em Nova Iorque, por exemplo, ainda intriga algumas pessoas.

– Como é que pode acontecer uma trombada aérea (sic) em um país de primeiríssimo mundo?

Natureza Morta, do alto de seu Hima­laia de paciência, mandou o recado via Beronha. Conges­tio­na­mento não é privilégio do trânsito de veículos e até mesmo de pedestres. Vejam o pique de ca­­chorro atropelado da frota aérea brasileira. E o aumento é maior no caso dos helicópteros: São Paulo, por exemplo, deve ganhar pelo menos 80 helicópteros até 2010. É a saída de quem está sentado na grana: helicóptero dribla o trânsito. Da frota paulista de 470 helicópteros, 420 têm registro na capital.

Beronha:

– Se tempo é dinheiro, o negócio é ganhar tempo. Ou passar por cima.

Sessão tirando um peso das costas: Natureza sempre se torturou por uma transgressão na infância e juventude, um "pecado" que parecia irremissível. Devorava gibis, no sentido figurado, é claro, apesar dos éditos reais e papais de que se tratava de subliteratura, algo que pervertia, corrompia a juventude. Mas eis que a revista Pesquisa Fapesp (julho), em matéria de Gonçalo Júnior, sepulta o macartismo tupiniquim.

Tese de Valéria Aparecida Bari, O potencial das histórias em quadrinhos na formação de leitores: busca de um contraponto entre os panoramas culturais brasileiro e europeu, com orientação de Waldomiro de Castro Santos Vergueiro, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP, revela que "os quadrinhos se tornaram quase sempre o primeiro contato de várias gerações de crianças com o aprendizado da leitura e da escrita e de entretenimento, além de um objeto de grande valor afetivo, sempre ligado à infância".

Nos anos 40, os chamados co­­mics foram demonizados como "um nocivo instrumento que estava prejudicando o aprendizado escolar de diversas formas. (...) Seguiu-se, então, uma guerra em escolas de todo o país, quando fogueiras foram organizadas para queimar gibis." Só depois de duas décadas, editoras passaram a adotar a linguagem dos quadrinhos em livros de Português, Geografia, História e Matemática.

Reforça a pesquisadora que a formação do leitor só chega ao amadurecimento se a pessoa gostar de ler. "O vínculo emocional é um elemento fundamental. Nesse sentido, as HQs também amadurecem a relação emocional entre o leitor e sua leitura."

Ainda Valéria Bari: "A linguagem híbrida que conjuga texto e imagem na formação dos significados complexos forma um leitor atento, eclético e proficiente para a leitura competente, assim como a qualidade da organização das ideias e formulação de textos escritos." Quanto aos tiros, socos, espetadas e flechadas, o jornalista põe seu ponto final: "A pena do quadrinho, com certeza, é mais forte do que a espada ou o revólver. E bem mais gostosa de se ver":

– Ufa! Estamos redimidos.

Francisco Camargo é jornalista.

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