Fã de carteirinha (e candidato a proprietário de cadeira cativa) de Helio Jaguaribe, Natureza Morta comemorou na mansão da Vila Piroquinha: o cientista social está lançando o livro Brasil, Mundo e Homem na Atualidade. O assunto mereceu registro na revista Pesquisa, da Fapesp, por parte do jornalista Carlos Haag, sob o título "Um otimista de curto prazo", com direito a descontraída entrevista pingue-pongue. Com quase mil páginas, reúne estudos escritos de 1983 para cá, com o selo da Fundação Alexandre de Gusmão. Haag antecipa que se trata de "uma súmula dos pensamentos de Jaguaribe, com estudos sociopolíticos, artigos sobre relações internacionais, reflexões sobre o Brasil, análises de filosofia e notáveis estudos sobre personalidades". Haag admite ser difícil destacar um dentre "tantos textos profundos e inteligentes", mas aponta Nação e Nacionalismo no século XXI; Pax americana ou Pax Universalis; Universalidade e Razão Ocidental; Ortega y Gasset: Vida e Obra e Celso Furtado: Teoria e Prática do Desenvolvimento. Algumas das provas do "pensamento agudo e irrequieto" de Jaguaribe, 86 anos.
A pedido inclusive do Beronha, Natureza transcreve alguns pontos da entrevista:
O Bolsa Família seria mantido num governo do PSDB?
O Lula deu a resposta para uma necessidade social. Como se pode reduzir a brecha social em países como o Brasil? Isso é meta por intermédio do Estado, que é o grande promotor do desenvolvimento social. O Bolsa Família é fundamental para reduzir o abismo entre os participantes e os não participantes, os cidadãos ativos e os passivos.
O senhor, aliás, afirma que os grandes problemas do Brasil são fruto de uma crise ética.
Esse é um problema muito complicado porque tem raízes estruturais e circunstâncias ocasionadoras de um agravamento ou, o contrário, de uma melhora. O problema da crise ética tem muito a ver com cultura. Os países de cultura católica têm tendência à crise ética. Os países de cultura protestante têm tendência a uma afirmação ética mais nítida, porque o protestantismo é uma opção ética, e não ideológica, e o catolicismo é uma opção ideológica, e não ética. Aí entra uma formação de base que será permanente; católico ou não na prática, o Brasil será sempre católico na cultura e nessa medida haverá sempre um problema ético, que é típico das culturas católicas. Situações como o descrédito do Congresso e dos políticos não podem ser modificadas por gritas da opinião pública, mas apenas pela reforma do processo político.
Se voltarmos a nos falar em cinco anos, acredita que estará mais feliz com o Brasil?
Creio que sim, se as coisas seguirem o rumo e se eu estiver vivo aos 91 anos... (risos) Sou muito otimista em relação ao Brasil porque acho que a marcha inercial brasileira é vagarosamente na boa direção. Vamos melhorando gradualmente. Somos um país "autoperfeccionista" no longo prazo: vagarosos, mas constantes.
E termina a transcrição, sob aplausos gerais.
Francisco Camargo é jornalista.
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