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Ufa! Ele passou rapidamente. Ainda bem. Afinal, estamos em Curitiba. Nada contra a suposta, pretendida e inalcançável folia na capital das araucárias, mas, como lembra o Natureza Morta, o carnaval surgiu na Idade Média e até hoje não chegou a Curitiba. Beronha, no entanto, gosta de prestigiar o desfile. Pra fazer a contagem do público, comer churrasquinho à beira da calçada, rever amigos, bater papo e colocar as maldades em dia.

Mas, convenhamos, nunca foi tão terrível assim. O carnaval curitibano teve seu apogeu, quando chegava a ser mais – ou menos – terrível.

Natureza invoca, por exemplo, os registros de Dante Mendonça em A Banda Polaca – Humor do Imigrante no Brasil Meridional, com ilustrações (belíssimas) de Márcia Széliga, livro de 2007. A Banda Polaca surgiu em 1976 e marcou época. Era tão curitibana "quanto o sorriso da máscara do estandarte, meio de lado, meio a contragosto, com um certo receio".

Durou até 1982, quando, por um ditatorial decreto, mudou de nome. Virou Banda Vermelha e Preta. Como não era rubro-negra, deu zebra. Acabou a combustão espontânea, que lhe era peculiar, como bem retratou o prezadíssimo Dante, catarina de Nova Trento, curitibano por expropriação e atleticano por dádiva. Evoé!

Voltando ao desfile no Centro Cívico: não mesmo poderia dar certo. Não bastassem os obstáculos próprios do ser humano nativo, a municipalidade deu sua contribuição.

A "pista" da avenida ficou mais curta que manga de colete. Para complicar, tem uma baita lombada no caminho. Ou passagem elevada, como preferem os gênios do urbanismo. O folião mais entusiasmado (ou seria mais suicida?) tropeça ou tropica e, adeus tia Chica, quebra a harmonia da escola e trinca a coreografia pacientemente ensaiada ao longo do ano (sic). E, certamente, um gaiato do meio da plateia (caiu o acento aí, gente!) vai gritar, lembrando a velha marchinha:

– Ei, tem nêgo bebo aí!

Será alvo de um cortante "psiu" do restante da arquibancada, compenetradíssima na evolução da escola como se estivesse no Teatro Guaíra diante de uma peça de balé clássico.

Ainda bem que os nossos carros alegóricos (por aqui não seriam carroções alegóricos?) não primam pela altura. Já pensou o susto do destaque, lá em cima, ao sentir o sacolejo no transpor a lombada? Há quem garanta, porém, que a lombada da Cândido de Abreu tem seu lado positivo. Ajuda o requebro das cadeiras das passistas e os maneios e giros da porta-estandarte e do mestre-sala. Sem a contribuição do solavanco da lombada, o desfile estaria mais para 7 de Setembro.

Não bastasse tudo isso, o desfile conta até com rotatória. Segundo Beronha, pensando naquela loira motorista, até agora há carnavalescos dando voltas na dita cuja, sem saber como sair do carrossel e tomar o caminho da roça.

Na noite de sábado, o fervo mesmo estava a locadora. Fila para pegar fita, fila para pagar, fila para sair do estacionamento.

Carnaval em Curitiba é como campeonato paranaense sem Atletiba.

Antítese

Yara Thaís Castanho venceu o 8.° Campeonato Brasileiro de Barista, em São Paulo, com o drinque Antítese. Beronha adorou:

– Sempre fui um fiel bebedor de tese, antítese e síntese, no boteco do Hegel.

Francisco Camargo é jornalista.

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