"Quem ia chegando eles iam matando"
Com a filha de 2 anos em uma mão e um menino de 9 anos no outro, Luana*, 16 anos, andou pelos brejos próximos ao lago Itaipu, em Guaíra, durante uma hora e meia até encontrar um carro da Polícia Militar na tarde de anteontem. Antes, ela havia ficado quase cinco horas sob a mira de armas. O marido foi morto na chacina. Ele é apontado pela polícia como um pequeno traficante.
Luana diz desconhecer a profissão do marido e disse que nunca o viu com drogas ou armas. Ontem, ela conversou com a Gazeta do Povo. Ela deu detalhes da maior chacina da história do Paraná.
Familiares choram seus mortos
Toledo - Gracieli de Menezes perdeu o pai, Milton Gonçalves, 44 anos, na chacina de Guaíra. A jovem conta que era quase meio-dia de segunda-feira quando o pai, que estava em casa, no bairro Zebalos, recebeu um telefonema. "Ele ficou muito nervoso e disse que precisava sair".
Crime mobiliza legistas e hospitais da região
Umuarama e Toledo - A dimensão do crime ocorrido nesta segunda-feira exigiu que outras cidades da região prestassem auxílio ao município de Guaíra. Hospitais de Umuarama e Toledo, duas das cidades mais importantes da região, receberam sobreviventes da chacina. E três sedes do Instituto Médico-Legal (IML) precisaram ser mobilizadas para fazer a necropsia dos corpos.
Guaíra - Os responsáveis pela maior chacina da história do Paraná estão identificados. É o que diz a cúpula da Segurança Pública no estado, que ontem esteve em Guaíra, na Região Noroeste, palco do massacre em que 15 pessoas morreram assassinadas. Jair Correa, 52 anos; seu filho Gleisson Correa, 21 anos; e Ademar Fernando Luiz, 27 anos, seriam os responsáveis pelas mortes. O grupo estaria escondido no Paraguai, depois de atravessar o Lago de Itaipu de barco. A Justiça já decretou a prisão dos três.
Autoridades paraguaias estariam trabalhando em cooperação com a polícia brasileira e, segundo o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, "a prisão é questão de horas".
O crime, na versão da polícia, seria uma resposta a um homicídio ocorrido há cerca de um mês. Na época, um homem identificado como Dirceu de Souza Pereira teria sido morto por Manoel Pascoal da Silva e Zaqueeu Herculano. O mandante do crime seria Jossimar Marques Soares, o Polaco, dono da chácara onde os assassinatos foram cometidos. Segundo o delegado de Guaíra, Pedro Lucena, Pereira teria perdido um carregamento de maconha encomendado por Polaco. "Um achou que o outro estava roubando e resolveu cobrar o preço", diz.
Jair, Ademar e Gleisson, aliados de Dirceu, foram até a casa de Polaco com o objetivo de matar três pessoas: o próprio Polaco, Zaqueeu e Manoel. "Como encontraram mais gente antes, foram matando." Quatro sobreviventes do massacre ainda estão em Guaíra, sob proteção policial.
Execução
Ontem , Delazari, o superintendente da Polícia Federal no Paraná, delegado Delci Carlos Teixeira, o comandante da Polícia Militar, coronel Anselmo José de Oliveira, e o delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azor Pinto, estiveram na cidade e foram até o local do crime. "Foi uma execução. Uma carnificina. Um crime de uma violência que eu nunca tinha visto. Mas é uma marca do tráfico. Quem se envolve com essa atividade não é perdoado", disse Delazari.
Relatos de testemunhas indicam que os assassinos chegaram até a chácara de barco e ficaram cinco horas no local. Ainda ontem, quando equipes da Polícia Científica trabalhavam no local, foram encontrados 11 pacotes de maconha, totalizando 18 quilos. A droga estava junto a espigas de milho no depósito onde houve a chacina. Ontem, a Polícia Militar já havia recolhido outros 10 quilos da droga no local.
Depois de passarem pelo local do crime, houve uma reunião que contou com a participação de promotores de Salto del Guairá, do chefe da Polícia Nacional do Paraguai no Departamento (divisão administrativa do país) de Canindeyú e do chefe da Secretaria Nacional Antidrogas paraguaia em Salto del Guairá. Ficou acertado que Paraná e Canindeyú solicitarão aos ministérios da Justiça dos dois países a adoção de um protocolo bilateral para combater o tráfico de drogas e o contrabando na região.
Clima
Ontem, Delazari admitiu que pode "rever" a estratégia de policamento para Guaíra. "Fizemos um trabalho muito forte em Foz do Iguaçu. Parte da criminalidade pode ter vindo para cá. As regiões de fronteira são fundamentais para nós. Por isso, a questão de Guaíra pode ser revista."
Mais de 200 policiais estiveram em Guaíra entre anteontem e ontem. Os vizinhos da chácara evitaram gravar entrevista e conversar com a imprensa. Os poucos que falavam, sem querem se identificar, disseram, no entanto, que a travessia de mercadorias pelo Lago e pelo Rio Paraná é constante. No centro da cidade, as rodinhas de conversas que se formavam não tinham outro assunto. "Nunca vi isso. Quinze mortos. Curitiba, São Paulo, Rio não têm isso. Como vai ter tudo isso em Guaíra, com 30 mil habitantes?", questionou o comerciante César Ribeiro.
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