A Delegacia de Homicídios (DH) de Curitiba começa a ouvir nesta semana os policiais militares que fizeram o atendimento a assassinatos atribuídos ao ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luis Thais Martins. De acordo com o delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos, responsável pelo caso, as datas já foram definidas e as oitivas começam na quinta-feira (17). Ao todo, dez PMs devem prestar depoimento. Martins é suspeito de ter cometido nove assassinatos e de ter baleado outras cinco pessoas.
O delegado explica que a oitiva de policiais é praxe em investigações conduzidas por ele, mas que o procedimento vai representar a oportunidade de elucidar fatos que vieram a tona a partir do depoimento de testemunhas: que PMs teriam recolhido cápsulas de locais de assassinatos dos quais o coronel é suspeito, antes da chegada do Instituto de Criminalística (IC), adulterando a cena do crime. A irregularidade foi apontada por três pessoas ouvidas pela polícia.
"Os locais de crime têm de ser preservados até a chegada da perícia. Se as cápsulas de fato foram retiradas, vamos ter que analisar e avaliar se houve dolo dos policiais em alterar as cenas", disse o delegado.
A DH aguarda os laudos do IC. Dentre outros elementos, a perícia vai apontar se havia cápsulas nos locais de crime e de que calibre eram. O exame é fundamental para relacionar pericialmente os cinco ataques. Por enquanto, a polícia recebeu a confirmação de que foram encontradas duas cápsulas referentes a um homicídio no dia 14 de janeiro, quando foi assassinado Luiz Rosalino Novalski, de 45 anos.
Resultado de pedido de habeas corpus deve sair na quarta-feira (16)O advogado do coronel, Elias Mattar Assad, espera que o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) apresente, na quarta-feira (16), um despacho sobre o pedido de habeas corpus, pleiteando a liberdade do ex-comandante dos Bombeiros. A solicitação foi impetrada nesta terça-feira (15), pedindo concessão de liminar "nas próximas horas". A decisão caberá ao desembargador Campos Marques, da 1ª Câmara Criminal.
Na avaliação da defesa, o habeas corpus deverá ser concedida, já que Martins atenderia a todos os pré-requisitos necessários. Assad pontua também que, "analisando a matéria tecnicamente", não há motivos para que o coronel continue detido. "A prisão temporária foi pedida para que se fizesse o reconhecimento pessoal. Como este procedimento já foi realizado, o objetivo da prisão já se exauriu", disse o advogado.
O caso
O coronel Martins é considerado suspeito de ter cometido cinco ataques, em que nove pessoas morreram e cinco foram baleadas, totalizando 14 vítimas. Os crimes ocorreram entre o dia 8 de agosto de 2010 a 14 de janeiro deste ano. Todos os atentados foram cometidos no bairro Boqueirão, próximo ao local onde o filho de Martins foi assassinado, em outubro de 2009. Os ataques começaram depois que dois usuários de drogas, suspeitos de ter matado o filho do coronel, foram postos em liberdade. Segundo a polícia, nenhuma vítima dos ataques tem qualquer relação com a morte do rapaz.
O ex-comandante dos Bombeiros foi preso no dia 28 de janeiro. Dias depois da prisão, a polícia realizou uma seção de reconhecimento, das quais participaram nove pessoas entre sobreviventes e testemunhas. A DH confirmou que houve reconhecimento, mas não divulgou o resultado do procedimento. Fontes ligadas à Polícia Civil ouvidas pela Gazeta do Povo confirmaram que todas as pessoas reconheceram Martins.
A defesa do coronel entrou com um pedido de revogação de prisão, junto a Vara de Inquéritos Policiais. Na semana passada, no entanto, o juiz Pedro Sanson Corat negou a solicitação e Martins permanece preso.
Testemunhas prestaram depoimento à DH e afirmaram que policiais militares que atenderam as ocorrências adulteraram a cena do crime, retirando cápsulas dos projéteis, antes da chegada do Instituto de Criminalística (IC). Ainda na semana passada, pessoas que foram ouvidas pela polícia afirmaram que estão sendo vítimas de ameaças.
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