Reflexos da trágedia no RS
No Paraná, o governador Beto Richa determinou que o Corpo de Bombeiros faça uma fiscalização em todos os estabelecimentos do gênero no estado. Em Curitiba, duas medidas foram anunciadas pela prefeitura e devem entrar em prática nos próximos dias. A primeira é a reativação da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu), força-tarefa que fiscalizava as casas noturnas da capital e região até ser paralisada no ano passado pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
"Perdi quatro amigas de turma"
Estudante paranaense que cursa Medicina Veterinária ajudou a organizar a festa na boate Kiss, em Santa Maria. Segundo ela, retorno à vida normal será difícil.
Incêndio expõe falhas nas ambições do Brasil
O incêndio no RS está levando muitos brasileiros a questionar se a cultura de impunidade e falta de fiscalização poderão impedir o país de alcançar suas ambições de primeiro mundo.
- Dono de boate que pegou fogo se entrega à polícia
- Indenizações para famílias das vítimas podem demorar mais de uma década
- Interrogados não assumem ter usado sinalizador, diz polícia
- Defensoria pede indisponibilidade de bens de sócios da boate Kiss
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- "Perdi quatro amigas de turma"
- "Eu já usei pirotecnia nos show da minha banda"
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A secretaria estadual de Saúde confirmou a morte encefálica de uma pessoa que estava internada no Hospital Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS) após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS). Já são 235 mortos na tragédia da madrugada do último domingo.
No final da tarde desta terça-feira (29), antes da morte encefálica de Gustavo Marques Gonçalves ser confirmada, o ministro Alexandre Padilha afirmou, em coletiva de imprensa, que o jovem de 21 anos tinha 70% do corpo queimado.
Veja fotos da homenagem às vítimas do incêndio em Santa Maria
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O vocalista da banda Gurizada Fandangueira disse, em depoimento à Polícia Civil, que não teve culpa no incêndio. Segundo a promotora criminal Waleska Agostini, Marcelo Santos confirmou ter usado o artefato e disse que já tinha feito esse tipo de apresentação em shows anteriores.
"Ele [vocalista] deu a entender que a causa do incêndio foi um problema na parte elétrica da boate, já que se redimiu da culpa", disse Agostini. Integrantes afirmaram que o sinalizador era feito com pólvora fria, incapaz de queimar ou provocar incêndios.
Peritos da Polícia Científica analisam objetos e a estrutura da boate para investigar qual o tipo de material causou os danos na espuma de isolamento acústico onde o incêndio teria começado.
O alvará sanitário do estabelecimento, expedido pela prefeitura, estava vencido desde 31 de março do ano passado. Já o plano de controle de incêndio, dado pelo Corpo de Bombeiros, havia vencido em 10 de agosto.
O Ministério Público informou que vai abrir uma investigação para apurar as responsabilidades. O promotor Cesar Austo Carlan disse que pode ter havido falha na fiscalização por parte da prefeitura e dos bombeiros. Mortos
O incêndio na Boate Kiss deixou 235 mortos, e não 231, como vinha sendo divulgado oficialmente até esta terça-feira (29). De acordo com a chefe da Regional de Santa Maria do Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul, Maria Ângela Zucchetto, desde o início houve um erro na lista divulgada pelas autoridades, na qual foram desconsiderados três nomes. Além disso, Gustavo Marques Gonçalves morreu nesta terça-feira em um hospital em Porto Alegre, totalizando 235 mortos.
"Nós não tínhamos computador, cabo, nada. Tudo foi feito manualmente. Nós contamos 234 corpos e fizemos a identificação de todos, mas em algum momento do processo esses três nomes não entraram na lista oficial", explicou a Maria Ângela.
Ainda segundo ela, a falta dos nomes na lista oficial não representou problema na entrega dos corpos às famílias. Todos eles foram identificados, reconhecidos pelos parentes e já foram enterrados.
A lista do IGP foi encaminhada para Porto Alegre, onde uma perita irá comparar com a lista oficial de 231 nomes para identificar quem está faltando e investigar porque esses três ficaram fora da contagem. O IGP estima que à tarde será possível divulgar os nomes.
Buscas em empresas de dono da Kiss
A Polícia Civil realizou nesta terça buscas em uma casa noturna e em uma cervejaria que pertencem a um dos sócios da boate Kiss. Eles procuravam material que poderia conter imagens gravadas pelo circuito interno de monitoramento da Kiss no momento em que o local pegou fogo.
As buscas foram realizadas na boate Absinto e na Cervejaria Floriano, que pertencem a Mauro Hoffmann, preso temporariamente.
A polícia também realizou buscas na casa de um funcionário da Kiss. O nome dele não foi divulgado. Segundo o delegado Sandro Meinerz, nada foi encontrado nas buscas. A hipótese dos investigadores é que o material tenha sido retirado da Kiss para ocultar provas. Em depoimento, o outro sócio da Kiss, Ellissandro Spohr, disse que o equipamento do circuito interno estava desativado há cerca de três meses para manutenção.
Prefeitura libera documentos da Kiss à polícia
A prefeitura de Santa Maria informou que encaminhará, ainda nesta terça-feira, à Polícia Civil os documentos da administração municipal sobre o funcionamento da boate Kiss. O prefeito Cezar Schirmer tem afirmado que toda a documentação da boate perante a prefeitura estava regular, e que o alvará de funcionamento, concedido à época da abertura da casa era regular e só foi liberado após a vistoria do corpo de bombeiros.
Na manhã de segunda-feira (28), quando estava no Centro Desportivo Municipal, o prefeito chegou a afirmar que desconhecia restrições ao material utilizado no revestimento acústico da boate. "Os bombeiros deram atestado, a prefeitura só aprova qualquer estabelecimento se tiver o alvará dos bombeiros. Bom, se o material era o certo ou não era certo, aí é uma questão de natureza técnica e não nos cabe opinar. Há um atestado dos bombeiros, de regularidade", disse o prefeito. A lei municipal de Santa Maria vetava o uso da espuma inflamável, que libera gases tóxicos, como revestimento para esse tipo de ambiente. Indisponibilidade de bens
A justiça determinou a indisponibilidade dos bens da empresa dona e sócios da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O pedido foi feito pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul.
Segundo o órgão, a medida foi feita "com a finalidade de assegurar a reserva de patrimônio da ré e de seus proprietários, para garantir pagamentos de eventuais indenizações aos familiares das vítimas", explica o órgão, por meio de nota.
O bloqueio de bens da empresa e de dois sócios foi decretado na noite desta segunda-feira pelo juiz Afif Simões Neto, do Fórum da Comarca de Santa Maria.
Nesta segunda-feira, quatro pessoas foram detidas pela polícia, são eles: os dois donos da boate e dois músicos da banda "Gurizada Fandangueira", que se apresentava no local, no momento em que o incêndio começou e à qual é atribuída a origem do incêndio.
Um dos donos da boate, Elissandro Calegaro Spohr, conhecido como "Kiko", foi detido na cidade vizinha de Cruz Alta, para onde, segundo seu advogado, viajou para receber atendimento médico com sintomas de intoxicação. Ainda de acordo com o defensor do empresário, Spohr teve medo de permanecer em Santa Maria.
Já Mauro Hoffmann se entregou nesta segunda-feira às autoridades. Ele se apresentou pessoalmente à delegacia da Polícia Civil de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, como havia anunciado seu advogado, após a expedição de um mandado de prisão.
CNJ incluirá processos de Santa Maria no Justiça Plena O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu incluir no programa Justiça Plena os prováveis processos judiciais resultantes da tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (RS). A proposta, do conselheiro Gilberto Valente, foi aprovada por maioria de votos.
O objetivo do programa é monitorar e dar transparência ao andamento de processos de grande repercussão social. Entre os casos que já fazem parte do programa estão o assassinato da missionária Dorothy Stang e a morte de um paciente psiquiátrico numa casa de repouso no Ceará.
Homenagens às vítimas de Santa Maria
A cidade de Santa Maria, com cerca de 260 mil habitantes e a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre, vive em estado de comoção desde a madrugada de domingo. A estimativa é de que até 35 mil pessoas tenham participado das homenagens às vítimas da tragédia da boate Kiss.
Milhares de pessoas saíram às ruas de cidade na noite desta segunda-feira para homenagear as vítimas em uma caminhada tomada por momentos de silêncio, palmas, reza e gritos por "justiça". As pessoas, a maioria com camisas brancas, carregavam flores e cartazes - um deles com a frase "o mundo chora a perda de vocês".
"Eu perdi dois amigos que vão fazer muita falta. É uma dor muito grande para Santa Maria", disse Sttefany Amaral, de 22 anos, caminhando ao lado da mãe, Lucia, carregando um cartaz com o nome dos amigos que morreram.
Cerca de 100 famílias passaram a madrugada de segunda-feira velando suas vítimas, 20 delas em um velório coletivo no Centro Desportivo Municipal, local que foi tomado pela comoção de amigos e familiares, que colocavam sobre os caixões bandeiras dos times de futebol, bichos de pelúcia e fotos das vítimas.
Ao longo da segunda-feira, pelo menos 95 vítimas foram enterradas em Santa Maria, o que exigiu que os cemitérios da cidade fizessem uma escala para realização de enterros a cada 30 minutos. "Nunca pensei que veria algo assim, tão perto", disse o coveiro Joacir Macedo, afirmando que chorou muitas vezes enquanto trabalhava ao longo do dia.
No cemitério Santa Rita, a família Bairro enterrou duas filhas, Patrícia, de 30 anos, e Greisi, de 18 anos, e o marido de Patrícia, Vandercok Marques Lara Júnior. O namorado de Greisi, Helio Trentin Júnior, também morreu na tragédia e foi enterrado na cidade de Manoel Viana, a cerca de 200 quilômetros de Santa Maria.
Greisi tinha acabado de ser aprovada no vestibular para o curso de Engenharia Ambiental. Já Patrícia e Vandercok deixaram um filho de seis anos, que ainda não sabia da tragédia, segundo parentes.
Consequências da investigação
As autoridades policiais do Rio Grande do Sul detiveram temporariamente nesta segunda-feira quatro pessoas como parte da investigação para apurar as causas da tragédia.
Para especialistas ouvidos pela Reuters, a apuração do ocorrido resultará numa ampla lista de responsáveis. "A cadeia de responsabilidades pelo que aconteceu vai ser muito grande. As responsabilidades vão se espalhar pelos níveis local até o estadual", afirmou o especialista em situações de risco Moacyr Duarte.
A Defensoria Pública não descarta incluir, na ação indenizatória coletiva que deve mover em nome das famílias, o poder público municipal ou estadual.
O governador do Estado, Tarso Genro, voltou a Santa Maria, nesta segunda-feira para garantir que "não serão medidos esforços" para apurar as causas e determinar responsabilidades pela tragédia.
"Queremos que este seja um inquérito exemplar", disse o governador. "Se nós não soubermos exatamente as causas, a nossa indicação de responsabilidades será falha", acrescentou.
Durante evento com novos prefeitos e prefeitas nesta segunda-feira, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff lembrou as vítimas da tragédia e pediu um minuto de silêncio antes de discursar.
"Hoje nos reunimos ainda sob a emoção dessa terrível tragédia de Santa Maria, eles eram jovens e tinham sonhos, podiam ser nossos prefeitos e prefeitas, podiam ser nossos futuros presidentes e presidentas..., mas infelizmente eles não tiveram a oportunidade de cumprir seus sonhos", disse.
O incêndio na boate de Santa Maria, o segundo maior em número de mortes no Brasil de que se tem registro, ocorreu em um momento em que o país se prepara para sediar grandes eventos esportivos neste e nos próximos anos.
Estado de saúde dos feridos
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou na manhã desta terça-feira que 75 pessoas ainda estão em estado grave em decorrência do incêndio que atingiu a boate Kiss, em Santa Maria (RS), no último domingo. Ao todo, 118 pessoas ainda estão internadas.
Os casos mais graves foram transferidos para hospitais da região metropolitana de Porto Alegre. O ministro Padilha também afirmou que 20% dos feridos tiveram queimaduras consideradas graves, que correspondem a mais de 30% do corpo. A maioria sofreu intoxicação respiratória.
A pedido do Ministério da Saúde, a prefeitura de Curitiba vai enviar 11 profissionais da saúde para Santa Maria (RS) nesta terça-feira (29). Ao todo, cinco médicos, três enfermeiros e três fisioterapeutas integram a comitiva, que deve chegar à cidade gaúcha ainda nesta terça.
De acordo com a prefeitura, todos são profissionais com especialização em tratamento de insuficiência respiratória em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e vão reforçar a Força Nacional do SUS já presentes no local.
No próximo sábado (2), outro grupo de profissionais de saúde de Curitiba também deve ser enviado para Santa Maria. Além disso, o Hospital Evangélico, que é referência no atendimento a vítimas de queimadura, reservou cinco leitos, caso seja necessária a transferência dos pacientes de Santa Maria para um atendimento mais especializado.
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