O ministro Guido Mantega e a presidente Dilma Rousseff, que defendem a redução dos juros.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

A decisão do governo de forçar a queda nas taxas de juros no país -- contexto no qual se insere o anúncio na mudança dos rendimentos da caderneta de poupança -- faz parte de uma estratégia política para criar uma nova marca da gestão da presidente Dilma Rousseff no campo econômico.

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Segundo fontes do governo, o alvo dos juros bancários, tema de grande apelo entre a classe média, passou a ser considerado na medida em que a meta de crescimento de 5% em 2012 ficou cada vez mais distante.

Além disso, no Planalto os bancos passaram a ser vistos como instituições que pouco colaboraram para a queda dos juros implantada pelo Banco Central desde agosto.

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"É uma briga que a presidente achou por bem comprar, porque traria benefícios ao país no longo prazo", disse à agência Reuters uma das fontes.

Assessores do governo buscavam uma nova marca para a gestão Dilma desde o final do ano passado. O Brasil Sem Miséria, símbolo inicial e que, segundo assessores não será abandonado, atingiu pouco a classe média e ainda trazia a forte memória do governo Lula e o Bolsa Família.

No início do ano, a presidente discutiu com seus conselheiros dar maior status para a área de tecnologia e inovação, fazendo do programa Ciência Sem Fronteiras, que levará 100 mil estudantes ao exterior, uma marca do segundo ano de mandato, revelou um assessor.

Mas, além do alcance limitado do programa, pesquisas mostravam que está na economia o fator preponderante para o bem-estar da população e onde está calcada a aprovação recorde do governo, que bateu em 64% em abril, segundo pesquisa Datafolha.

Lula esteve entre os entusiastas da ideia de o governo usar seu capital político e alta aprovação para promover uma mudança estrutural na economia que abrisse espaço para os juros caírem --permitindo que Dilma cumprisse promessa de campanha feita no início de 2010, quando disse que gostaria de baixar a taxa real de juros básica para "perto de 3%, mas sem fazer mágica".

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Poupança

A equipe da presidente tem explorado uma faceta revelada ainda na campanha presidencial, quando pesquisas identificaram que eleitores viam em Dilma uma mulher ousada e corajosa.

Os bons resultados da imagem da presidente que "faxina" colaboradores envolvidos em denúncias, ou que não negocia no "toma lá, dá cá" do Congresso, deram o aval para que novas medidas de risco, como a mudança na poupança, entrassem nos planos.

A nova medida fez com que Dilma acabasse por modificar regras que seu antecessor desejou mexer, no final de governo, mas desistiu por achar o custo político muito alto.

Em 2009, já com Guido Mantega na Fazenda, Lula planejou enviar ao Congresso um projeto que taxava depósitos acima de R$ 50 mil com Imposto de Renda. Desistiu, entre outros motivos, para garantir a eleição de Dilma.

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Desta vez, a avaliação foi de que valia a pena pagar os custos políticos ou eleitorais de uma medida à primeira vista impopular.

Mas o governo tomou mais precauções do que de costume. O núcleo econômico fechou a proposta, mas fez o anúncio a partir de encontros em que ouviu políticos, empresários e sindicalistas, além da imprensa.

Viu-se, nos últimos dias, a presidente tomar mais cuidados do que costuma ter ao escolher seus ministros, trocar líderes ou diretores de estatais: consultou integrantes de governo, chamou líderes aliados, fez um agrado aos sindicatos indicando Brizola Neto como ministro do Trabalho e buscou apoio do empresariado, historicamente crítico dos juros altos.

O ministro da Fazenda trabalhou em outra trincheira: chamou um número pequeno de jornalistas para explicar as medidas, em sinal de que o governo queria evitar a repercussão negativa ou "desinformada", como classificou outra fonte do governo.

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