A ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), passou centenas de horas nos últimos dias trancada em uma sala colhendo depoimentos dos suspeitos de integrar o esquema de fraudes a licitações públicas desvendado pela Operação Navalha. Bem-humorada, deve ter rido de algumas pérolas como, por exemplo, o método que o diretor da Gautama no Maranhão, Vicente Vasconcelos Coni, revelou ter adotado para se aproximar das autoridades. Além de ter prometido pagar despesas pessoais de um secretário do Maranhão, Coni também contava com um bom estoque de cocadas para agradar quem poderia beneficiar a Gautama.
Um dos supostos agraciados com o arsenal de doces de Coni foi o advogado Alexandre Maia Lago, sobrinho do governador do Maranhão, Jackson Lago. Alexandre é suspeito de ter recebido propina da Gautama em troca de providenciar no governo medições irregulares para beneficiar as obras da empresa. No depoimento, Coni admite ter entregue ao advogado apenas cocadas para tentar uma aproximação com alguém influente, sem objetivos específicos. Embora os depoimentos tenham apresentado contradições, a ministra Eliana Calmon decidiu desbloquear as contas dos investigados.
A transcrição do depoimento revela que Coni "queria fazer uma aproximação com as prefeituras" e "levou uma cocadinhas" a Alexandre Lago. Outro beneficiado com a iguaria teria sido o fiscal de obras do Maranhão Sebastião Pinheiro Franco. Um trecho do depoimento de Coni diz que ele nunca ofereceu vantagem a Franco. "Apenas, por delicadeza, e para agradar, trazia, quando ia à Bahia, pequenas lembranças, como cocada, por exemplo".
Além do doce, Coni confirmou no depoimento ter cogitado pagar com recursos da Gautama uma cirurgia para um funcionário da Secretaria de Infra-Estrutura do Maranhão, José de Ribamar Ribeiro Hortegal, que também é investigado no esquema. Diz, no entanto, que a empresa vetou a proposta. Em seu depoimento, Hortegal revela que, de fato, foi operado da vesícula no início de maio. A cirurgia teria custado R$ 3.800 e teria sido paga com o dinheiro do paciente.
Um outro funcionário da Gautama, João Manoel Soares Barros, confirmou em seu depoimento a eficácia dos métodos de Coni. Ele contou ter conversado com Coni certa vez sobre um processo de medição de obra da Gautama no qual Alexandre teria intercedido em prol da empresa.
Uma outra situação peculiar vivida na semana passada por Eliana Calmon ocorreu durante o depoimento de Dimas Veras, irmão do dono da Gautama, Zuleido Veras. Ele disse ter alertado o irmão diversas vezes sobre a precariedade do programa Luz Para Todos, no Piauí. Teria dito que a obra foi licitada a um preço muito baixo e, por isso, a empresa não daria conta de terminá-la. "O depoente sempre achou que era uma obra deficitária e chegou a dizer para seu irmão que mesmo que ele trouxesse um exército do Iraque para realizar a obra, não teria condições de cumprir de forma absoluta o contrato", revela a transcrição do interrogatório.
Dimas também afirmou que "não concordava com coisa alguma desta obra e, muitas vezes, teve vontade de pegar seus objetos pessoais, voltar para a Paraíba e nunca mais pisar os pés lá". Mas, segundo ele, a necessidade de um salário falou mais alto. Apesar das críticas à empresa do irmão, garantiu que mantém com Zuleido "excelente amizade". Mas que só foi três vezes à casa do irmão.
No total, a Operação Navalha apreendeu 38 carros de luxo, uma lancha e aproximadamente R$ 1,5 milhão em moeda brasileira, dólares, euro e libras esterlinas. Só de Zuleido, foram apreendidos cinco carros e a lancha Clara
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