Outro lado
Legislativo afirma que comissionados ligados a Barbosa foram exonerados
O assessor Luiz Alexandre Barbosa foi procurado ontem pela reportagem no local de trabalho o gabinete da presidência da Assembleia Legislativa do Paraná. Mas de acordo com a Diretoria de Comunicação da Casa, Barbosa não quis atender à reportagem. O pai dele, Luís Carlos Barbosa, que também trabalha na presidência foi localizado, mas se negou a prestar informação sobre a rede montada pelo filho para empregar parentes no Legislativo.
Segundo informações da Diretoria de Comunicação, Antônio Wilson Camargo foi exonerado em fevereiro. O filho dele, Jairo Alexandre Camargo, teria pedido exoneração em março, horas depois que ele foi procurado pela reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV. A direção da Assembleia disse que demitiu em março Lúcia Regina Ciniello e a cabelereira Tereza Ferreira Alves. No entanto, Tereza disse ontem à reportagem que ainda era funcionária da Assembleia.
No ano passado, de acordo com a Assembleia, foram exonerados João Augusto Ciniello e Luís Carlos Barbosa, que foi encontrado ontem no gabinete da presidência. A Diretoria de Comunicação da Casa informou que Luís Carlos Barbosa estava no gabinete porque ele está prestando um serviço voluntário.
saída
Deputado propõe concurso público
Em meio à crise por causa das denúncias de funcionários fantasmas e contratações irregulares na Assembleia paranaense, a Mesa Diretora da Casa estuda a realização de um concurso público para contratar servidores para cargos administrativos e técnicos. A proposta foi apresentada pelo deputado Elton Welter (PT) e analisada ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O Legislativo também pode contratar um estudo para definir o número de cargos e as funções necessárias para o funcionamento da Casa. A Assembleia seguiria o exemplo do Senado, que contratou a Fundação Getulio Vargas para fazer um plano de reforma administrativa para a Casa, logo após vir à tona o escândalo da existência de atos secretos no ano passado, que envolveu o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AC).
Por causa das eleições, o concurso público ficaria para o ano que vem. A Assembleia alega que precisa terminar o recadastramento e a exoneração dos funcionários. O prazo para os servidores entregarem a documentação termina sexta-feira. A Assembleia vai demitir cerca de 1,9 mil pessoas no dia 30 de abril. A maioria será recontratada no começo de maio.
O concurso não abrangeria os cargos dos gabinetes dos deputados, que continuariam a ser exercidos por funcionários em comissão.
Luiz Alexandre Barbosa, assessor do presidente da Assembleia Legislativa, Nelson Justus (DEM), também montou uma rede de parentes na Casa. Diários oficiais mostram que pelo menos 12 familiares de Barbosa ocupam cargos comissionados na Assembleia metade deles foi nomeado para o gabinete de Justus ou para a presidência da Casa. Irmãos, cunhada, tios, filho, pai e a sogra ganharam um cargo no Legislativo estadual (veja a lista ao lado).
Dois parentes de Barbosa admitiram que não trabalham na Assembleia. Tereza Ferreira Alves é sogra de Luiz Alexandre Barbosa e foi encontrada em um salão de beleza na Avenida Iguaçu, em Curitiba. Sem saber que estava sendo gravada, revelou o que faz: "Trabalho aqui [no salão] das 9 às 19 horas, até a noite. De terça a sábado".
Tereza aparece na relação de servidores da Assembleia, divulgada por Justus em março do ano passado. Ontem, a reportagem voltou ao salão e questionou Tereza sobre o trabalho que exerce na Assembleia. Ela sequer conseguiu responder: "Trabalho... é.. de rua assim. É... trabalho de... ah esqueci o nome".
Outro funcionário que admite não dar expediente na Assembleia é Antônio Wilson Camargo Júnior, cunhado de Barbosa. Ele administra uma loja da família de locação de brinquedos infantis. "Segunda e terça eu faço correria de banco, pagamento, que o nosso movimento é final de semana. Daí no resto da semana eu fico aqui direto, não saio para nada". E quando questionado se tem outro trabalho, ele é taxativo: "Não, só aqui. Tô há 9 anos trabalhando com festa".
Antônio Júnior, o irmão Jairo Alexandre Camargo e o pai deles, Antônio Wilson Camargo, também são donos de uma loja de molduras em Curitiba. Jairo e o pai também têm cargos comissionados na Assembleia. Jairo Alexandre não quis falar com a reportagem. Disse que falaria somente com autorização do deputado Nelson Justus. Mas sem saber que estava sendo gravado, revelou qual é o trabalho político que a família exerce para o presidente da Assembleia. "[A gente] ajuda. Vai nos bairros ver o que o pessoal tá precisando, leva óculos, cadeira de rodas, organiza festas, organiza eventos", disse. Ele foi questionado pela reportagem se esse cargo é de assessor parlamentar. "Não sei qual é o código. Não vem escrito no meu holerite o que é o meu cargo. Eu faço o serviço para ele fora. Vou lá numa comunidade pobre que tá precisando de óculos, precisando de não sei o que e a gente ajeita. E o Nelson (Justus) manda as coisas para eles. Esse é o meu trabalho lá dentro."
Chefe de gabinete
Na semana passada, reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV revelou outra rede de parentes ligada a Nelson Justus. Sérgio Roberto Monteiro, chefe de gabinete do deputado, empregou 20 parentes (veja a lista). A sistemática de contratação é similiar. Os aliados políticos são empregados e passam a arranjar vagas para outros integrantes da família. Nelson Justus admitiu conhecer a rede montada por Monteiro e afirmou achar isso "perfeitamente normal".
Logo após a publicação da reportagem que revelou a rede de 20 parentes de Monteiro que ocupam cargos em comissão no gabinete de Justus e da presidência, o Ministério Público do Paraná abriu uma investigação contra o parlamentar. Além dos parentes de Sérgio Monteiro, os promotores de Justiça estão investigando a rede política montada por Justus em Guaratuba, no litoral. Reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV revelou que muitos dirigentes partidários de Guaratuba ganharam cargos no Legislativo. Esses mesmos partidos apoiaram a candidatura vitoriosa da prefeita da cidade, Evani Justus (PSDB), cunhada de Nelson Justus. Para o presidente da Assembleia, a presença desses políticos na Casa é apenas uma coincidência.
O MP, assim como a Polícia Federal, está investigando denúncias feitas pela Gazeta do Povo e pela RPC TV na série de reportagens "Diários Secretos". Pelo menos nove crimes, entre eles sonegação fiscal, formação de quadrilha e peculato (desvio de dinheiro), estão sendo apurados. Desde o início da série, três diretores pediram afastamento depois que o MP recomendou a saída deles por suposto envolvimento nas denúncias: o ex-diretor-geral Abib Miguel; o de Recursos Humanos Cláudio Marques da Silva; e o administrativo, José Ary Nassiff. Na segunda-feira, Justus anunciou a demissão de todos os 1,9 mil comissionados da Casa. Somente os funcionários que passarem pelo recadastramento, que termina na sexta-feira, serão readmitidos na Assembleia.
Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.
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