Funcionários de duas empreiteiras envolvidas no escândalo de desvios da Petrobras, a OAS e a UTC Engenharia, estiveram pelo menos 115 vezes de fevereiro de 2011 a março de 2014 no escritório montado pelo doleiro Alberto Youssef em São Paulo. O local, que funcionava no segundo andar de um edifício da rua doutor Renato Paes de Barros, foi descrito pelo juiz federal de Curitiba (PR) Sérgio Moro como "o escritório da lavagem de dinheiro" do doleiro Youssef.
De acordo com o relatório da Polícia Federal assinado pelo delegado Márcio Adriano Anselmo, o escritório era marcado por entradas e saídas de dinheiro em espécie. Segundo a investigação da Operação Lava Jato, o dinheiro se destinava ao pagamento de agentes públicos.
Um homem a serviço de Youssef, policial federal lotado no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, Jayme Alves Oliveira Filho, foi responsável pelo transporte, entre 2011 e 2012, segundo a PF, de R$ 13 milhões em espécie, além de 931 mil dólares americanos e 375 mil euros.
Em depoimento à PF, Carlos Alberto Pereira da Costa, que aparece formalmente como o responsável pela, a empresa de Youssef, a GFD, reconheceu um funcionário da UTC Engenharia, Ednaldo Alves da Silva, como "a pessoa que viu anteriormente na sede da GFD entregando sacolas contendo valores em espécie a Alberto Youssef".
Silva esteve 63 vezes na sede da empresa do doleiro, de acordo com os registros da entrada do prédio apreendidos pela PF. Para a PF, "é possível" que Silva fizesse entrega de valores a "serem distribuídos por Youssef".
O funcionário da OAS José Ricardo Breghirolli esteve 26 vezes no escritório. Ele teria sido o responsável, na OAS, por coordenar entregas de dinheiro a partir de orientações de Youssef. Ouvido nesta segunda-feira (17) em depoimento pela PF, ele valeu-se do direito de se recusar a responder qualquer pergunta. Silva e Breghirolli são os que funcionários que mais frequentaram a empresa, mas há outros.
Em pelo menos uma vez, o escritório do doleiro foi visitado pelo próprio dono da UTC, Ricardo Ribeiro Pessoa. Em mensagens eletrônicas interceptadas pela PF, Pessoa agradece Youssef "pela parceria e lealdade".
Segundo o despacho do juiz Sérgio Moro na semana passada, que também citou a apreensão de planilhas, "todos esses elementos probatórios confirmam que as transações entre a UTC e Alberto Youssef, embora milionárias, davam-se principalmente através de entrega de valores em espécie nos escritórios de lavagem de dinheiro de Alberto Youssef ou por este a terceiros a pedido da UTC".
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