A possível transferência para o presídio federal de segurança máxima em Catanduvas, no Oeste do Paraná, está deixando o integrante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), Marcos Willians Herbas Camacho, o "Marcola", temeroso. A confissão foi dada por Marcola em off para os deputados membros da CPI do Tráfico de Armas. A nova onda de ataques em São Paulo estaria relacionada à possível transferência de Marcola e de outros presos para Catanduvas.
O conteúdo da conversa entre Marcola e parlamentares foi transcrito e postado por Josias de Souza, esta quinta-feira, em seu blog na Folha Online. .
O diálogo em off, relata o blogueiro, teria começado após quatro horas e treze minutos de depoimento à CPI, no dia 08 de junho. Antes, porém, Marcola teria feito um pedido aos deputados no final da inquirição: "Posso fazer uma pergunta?" O deputado Moroni Torgan (PFL-CE), presidente da CPI, aquiesceu: "Pode". E Marcola: "Pode ser em off, entre nós?" Moroni, de novo, concordou: "Então, eu vou encerrar aqui (...)".
Essas foram as últimas palavras registradas na gravação feita nas dependências da prisão de Presidente Bernardes, em São Paulo, onde o líder do PCC foi ouvido. Moroni mandou desligar o gravador. E Marcola, depois de responder às perguntas, inverteu os papéis: "Como é o regime de segurança da prisão de Catanduvas?", descreve o blog.
Livre do gravador, o criminoso disse aos deputados, segundo relato de dois deles ao blog, que receia tornar-se um "morto vivo" caso fosse levado para Catanduvas. A transferência de Marcola, junto com outros membros da facção criminosa, está sendo acertada entre o governo de São Paulo e o Ministério da Justiça. Trancafiados em Catanduvas, criminosos como Marcola serão privados de exercer o controle sobre a maioria dos cerca de 140 mil presos detidos em São Paulo. No depoimento à CPI, diz o blog, Marcola deixa claro o controle que o PCC exerce sobre o cotidiano dos cárceres paulistas.
"Marcola conta, por exemplo, que a facção proibiu o uso do crack e o homossexualismo entre os presos. Disse que as decisões foram adotadas após consultas feitas aos presídios por meio de telefones celulares".
Nas palavras de Marcola, de acordo com o blog de Josias de Souza, ao fixar regras de convivência nos cárceres, o PCC "tirou a autoridade do Estado". Para o criminoso, será "difícil" o poder público voltar a impor a sua vontade nas prisões.
Segurança máxima
No seu blog, Josias de Souza compara a penitenciária federal de Catanduvas com as chamadas "supermax", abreviatura de Super Maximum Security nos Estados Unidos.
O blogueiro ainda descreve alguns itens de segurança na penitenciária. "O preso percorrerá um corredor com 17 portões de ferro. As celas de Catanduvas seguem o padrão norte-americano. São individuais. O piso e as paredes foram construídos com argamassa reforçada com uma liga de aço".
O blogueiro diz que a prisão tem em suas quinas quatro guaritas e que serão ocupadas por sentinelas da Polícia Federal. O governo informa que a vigilância noturna será reforçada com a ronda de veículos. Serão usados também cães adestrados.
O governo ainda importou dos EUA equipamento de vigilância eletrônica. Captará imagens dentro e fora do presídio. As cenas serão transmitidas em tempo real para a Polícia Federal e para o Departamento Penitenciário Nacional, em Brasília.
As visitas, descreve Josias de Souza, serão precedidas de revista e cadastramento, com identificação digital. "A exemplo do que ocorre nas prisões norte-americanas, o preso será separado do visitante por uma parede de vidro. As conversas se darão por meio de um aparelho de telefone, sob monitoramento".
De acordo com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, os celulares serão banidos de Catanduvas. "Não vai entrar celular no presídio. Vamos desligar esses criminosos de suas quadrilhas, que não podem continuar funcionando como desagregadores dentro do sistema prisional".
O blogueiro lembra que as super-cadeias dos EUA são criticadas por movimentos de direitos humanos pelo rigor imposto aos presos. "Diz-se que muitos, depois de cumprirem a pena, deixam o cárcere loucos".
No Brasil, conta Josias de Souza, o governo diz que vai seguir o que manda a Lei de Execuções Penais. Oferecerá aos presos que desejarem trabalho e estudo. O Ministério da Justiça ainda não divulgou as regras que irão imperar nos presídios federais brasileiros.
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